Pesquisa e Inovação

Maria Inês Almeida, professora da Fale e residente do Ieat, lança livro de cantos Huni Kuin

Letras dos 34 cantos foram escritas em Hãtxa Kui pelo pesquisador, artista e professor Ibã Huni Kui e traduzidas para português e espanhol; evento será no dia 3, na AML

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"Melhor que perder todo conhecimento é recuperar a língua mais antiga", diz Ibã Huni Kui
Imagem: capa do livro

A professora Maria Inês Almeida, aposentada da Faculdade de Letras, e o pesquisador, artista e professor Ibã Huni Kui lançam nesta quinta-feira, 3 de abril, o livro Nixi Pae – Espírito da floresta. O volume contém 34 cantos cujas letras foram escritas pelo txana (mestre de cantos) Ibã (ou Isaías Sales Kaxinawá) em Hãtxa Kui e traduzidas para o português e o espanhol. O evento, aberto ao público amplo, será na Academia Mineira de Letras (AML), a partir das 19h.

Maria Inês foi residente do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) da UFMG em 2024. Ao longo do projeto O livro vivo e o caminho do mestre, ela empreendeu intensa pesquisa e realizou oficinas de tradução. Ibã Huni Kui vive na Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão (Acre), na aldeia Xiku Kurumĩ.

Durante o evento de lançamento, Ibã vai falar e cantar, e será exibido o documentário que tem o mesmo título do livro. O evento terá ainda a participação dos pesquisadores Rômulo Monte Alto, da Faculdade de Letras, e Patrícia Kauark, diretora do Ieat e professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.

O projeto gráfico do volume é de Marina Bylaardt.

Idioma e história
Ibã Huni Kui, criador do Movimento dos Artistas Huni Kui (Mahku) – que abriu a Bienal de Veneza de 2024 – sentiu vontade e necessidade de aprender a cantar os cantos do Nixi Pae, pensando na conservação do idioma e da história do seu povo. “Moro junto com minha comunidade, com 150 pessoas, e aqui iniciei minha pesquisa, pensando que nossa linguagem está acabando, nossos mestres ensinadores estão morrendo, com muita doença diferente, e nós ficamos sem arquivo e sem conhecimento. Por isso que a gente está pensando que melhor que perder todo conhecimento é recuperar a língua mais antiga, através do Nixi Pae. Pensando nas novas gerações, para não perder esse conhecimento. Melhor do que aprender a língua ocidental, preferimos fortalecer mais nossa língua. E até criança pode aprender o canto, que é nossa língua própria”, ele explica.

Maria Inês:
Maria Inês: busca da poesia guiou os mestres dos cantos e a traduçãoFoto: acervo pessoal

O lançamento de Nixi Pae – Espírito da floresta faz parte do 2º Seminário Unã Baina da Escola Indígena e celebra o fechamento da residência da professora e pesquisadora Maria Inês Almeida no Ieat. “Se a busca da poesia – mostrar com palavras a miração da ayahuasca – guiou os mestres dos cantos (Romão Sales, Miguel Macário e Agostinho Manduca), na tradução o trabalho foi guiado pela mesma busca”, conta a professora. Segundo ela, o livro é também um exemplo de como a parceria entre universidade e mestres indígenas pode ser proveitosa. “Por meio de traduções e edições, a parceria contribui para o alargamento da literatura brasileira, assim como para o fortalecimento da língua indígena”, destaca Maria Inês Almeida.

Seminário
O 2º Seminário Unã Baina da Escola Indígena tem apoio do Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários (Pós-Lit), do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da UFMG (Ieat) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O lançamento de Nixi Pae – Espírito da floresta está vinculado ao projeto Plano Anual Academia Mineira de Letras – AML (Pronac 248139), previsto na Lei Federal de Incentivo à Cultura. O evento tem patrocínio do Instituto Unimed-BH, por meio do incentivo fiscal de mais de 5.700 médicos cooperados e colaboradores.

Haverá sessão de autógrafos durante o evento de lançamento. O livro pode ser adquirido na ocasião ou pelo e-mail crenac@gmail.com.

Trajetórias
Ibã Huni Kui é txana (mestre de cantos), professor e artista visual. Mora na Terra Indígena Kaxinawá, do Rio Jordão (Acre), aldeia Xiku Kurumĩ. É criador do Movimento dos Artistas Huni Kui (Mahku), que se dedica aos estudos dos cantos, desenhos e pinturas do povo Huni Kuin. É mestre pela Universidade Federal do Acre e doutorando na Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Maria Inês Almeida é professora aposentada da Fale/UFMG, atualmente colaboradora do Pós-Lit e fez residência no Ieat. Lidera a Rede de Apoio aos Educadores Indígenas Unã Baina, por meio da qual coordena um projeto de formação dos professores Huni Kuĩ do Jordão, Acre. De 2002 a 2016, à frente do Núcleo Transdisciplinar de Pesquisas Literaterras, criou o Acervo Indígena da UFMG, coordenou o curso de Formação Intercultural de Educadores Indígenas (Fiei, de 2006 a 2011) e a edição, com o MEC, de 130 obras de autoria indígena.

Como diretora do Centro Cultural UFMG (2011-2014), realizou a Mira! Artes Visuais Contemporâneas dos Povos Indígenas, exposição de 120 obras de 54 artistas da Bolívia, do Brasil, da Colômbia, do Equador e do Peru. De 2018 a 2022, atuou como professora visitante sênior no Programa de Pós-graduação em Letras: Linguagem e Identidade da Universidade Federal do Acre, onde implantou o Laboratório de Interculturalidade.

Com assessorias de comunicação da AML e do Ieat