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Martin Luther King sonhou com uma sociedade livre da opressão, afirmou pastor Henrique Vieira

Há 50 anos, ícone do movimento negro era assassinado; teólogo e historiador falou sobre Luther King com o programa Conexões

Martin Luther King, durante seu famoso discurso 'Eu tenho um sonho'
Martin Luther King, durante seu famoso discurso 'Eu tenho um sonho' Foto: National Archives and Records Administration, catalogada sob o identificador ARC 542069

Há exatos 50 anos, no dia 4 de abril de 1968, Martin Luther King, ícone do movimento negro e da luta contra o racismo nos Estados Unidos, era assassinado na cidade de Memphis, no Tennessee, deixando uma marca indelével na história do século 20. Na edição desta quarta-feira, o programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, conversou sobre as marcas deixadas por Martin Luther King na sociedade, com o pastor, historiador e teólogo Henrique Vieira.

“Martin Luther King era teólogo, pastor, formado em seminário batista, de família e perspectiva protestante, inspirado, sobretudo, na vida de Jesus. Também bebeu muito dos princípios de não-violência de Gandhi. Era um homem de muito carisma e de uma oratória irretocável, de uma vibração interna, de uma convicção profunda sobre o sentido de sua própria vida”, afirmou.

Casado com Coretta Scott King e pai de três filhos, Martin Luther King dedicou sua vida a uma causa. No entanto, o pastor Henrique Vieira lembrou que ele também era afetado pelo medo e pelo sentimento de vulnerabilidade diante da violência e das injustiças presentes na sociedade estadunidense.

“É sempre bom humanizar e perceber as fragilidades dos nossos heróis. Perceber o Martin em suas fraquezas e limites, na verdade, é valorizá-lo e enaltecê-lo ainda mais. Foi com fragilidade, medo, coração apertado e risco de morte que ele, mesmo assim, caminhou coletivamente e não abriu mão de sonhar e de lutar”, defendeu.

Luta por direitos civis

O pastor Henrique Vieira lembrou o contexto de racismo enfrentado por Luther King, marca histórica da sociedade americana. “Racismo [presente] no ambiente da cultura e das relações cotidianas, mas também um racismo previsto na própria lei. Não existia igualdade jurídica para brancos e negros, numa espécie de apartheid legitimado pela própria lei”, explicou.

Por isso, lembrou o pastor, pessoas negras enfrentavam dificuldades como a falta de acesso ao voto e desrespeito em espaços e no transporte público, onde tinham que ceder o lugar para que as pessoas brancas se assentassem. “Além de toda a lógica de violência do Estado, de encarceramento e letalidade. Era um ambiente muito hostil, principalmente nos estados do sul dos Estados Unidos, nos quais a herança escravocrata era – como ainda é, até hoje – muito maior”, contextualizou.

Foi nesse contexto, segundo Henrique Vieira, que Martin Luther King ajudou a liderar uma luta por direitos civis. “Nesse ambiente hostil, de violência estrutural, de desigualdade jurídica e de massacre sobre um povo, é que ele sonhou com uma sociedade livre do racismo, [sociedade] de igualdade plena de direitos, em que as relações humanas fossem pautadas na hospitalidade, no congraçamento entre as diferenças e na justiça social”, afirmou.

O pastor Henrique Vieira considera que a liderança de Luther King foi determinante para o avanço dos direitos civis de pessoas negras nos Estados Unidos. Entre vários pontos, ele desenvolveu um método de desobediência civil, que propunha, entre outras coisas, o boicote a empresas que adotavam práticas segregacionistas e racistas.

“A importância dele vem muito da capacidade de mobilizar, do método da não-violência e da influência que ele acabava tendo nos grandes meios de comunicação, pressionando os governos, e também do método das marchas, que entraram para a história. A partir do princípio da não-violência, ocupar o espaço público e caminhar em protesto”, explicou.

Segundo Henrique Vieira, apesar de parecer algo simplório, essas marchas foram revolucionárias. “Elas significavam sair do silêncio e dos esconderijos, ocupar os espaços públicos, chamar a atenção da imprensa e do mundo, e, caminhando, obter o sentido do protesto, da denúncia e de desobediência civil. Como o próprio Martin dizia: temos o dever moral de desobedecer as leis que consideramos injustas”, contextualizou.

Marielle Franco

Durante a entrevista, o pastor Henrique Vieira lembrou de outro assassinato com motivações políticas: a morte da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro. Vieira afirmou que não vê essas mortes como fatos isolados, mas como parte integrante de sistemas de opressão que buscam silenciar “profetas”.

Henrique Vieira e Marielle Franco, em debate com o tema 'Estado e Violência', no IFRJ Pinheiral, em 2015
Henrique Vieira e Marielle Franco, em debate com o tema 'Estado e Violência', no IFRJ Pinheiral, em 2015 Reprodução / Facebook - Henrique Vieira

“Essas pessoas que exercem uma vocação de denúncia e de desmascaramento das estruturas iníquas, dos privilégios estabelecidos, da exploração sobre o pobre, dos mecanismos de opressão. Essa conexão existe entre Martin Luther King, Marielle, irmão Dorothy, Chico Mendes, Cìcero Guedes e tantas pessoas que, a partir de sua atividade militante, enfrentam interesses estabelecidos e, por isso, acabam sendo perseguidas e assassinadas”, defendeu.

Ouça a conversa com Luíza Glória
ouca-a-conversa-com-luíza-glória-04-04-2018.mp3

Veja o discurso I have a dream (Eu tenho um sonho), publicado no canal do Youtube TVNOTICIAS2011: