Após um ano de atividades a distância, modelo imposto pelos cuidados de combate à pandemia causada pelo novo coronavírus, está mais que claro que as universidades não pararam. No caso particular da extensão, pode-se dizer que o trabalho se intensificou, concordaram gestores que participaram, na manhã desta terça-feira, de uma das mesas – Extensão e a pandemia de covid-19 – do 9º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, que tem como anfitriões (integralmente on-line) a UFMG e a Universidade Federal de Alfenas.

“Foi preciso rever os conceitos que regem a extensão universitária, assim como o segmento do ensino precisou redimensionar suas práticas pedagógicas para as atividades remotas”, afirmou Adriana Marmori Lima, pró-reitora de Extensão da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Segundo ela, as instituições públicas de ensino superior (Ipes) formaram “uma rede potente de trabalho durante a pandemia”.

Presidente do Fórum de Pró-reitores de Extensão das Ipes, Adriana Marmori destacou que nove em cada dez instituições estabeleceram orientações formais para atuação na situação de crise sanitária. “Mantivemos, com as adequações necessárias, projetos, programas, cursos e serviços, tirando partido, como sempre, do potencial indicado pelas comunidades locais”, disse a professora da Uneb, lembrando que as equipes promoveram ações de teleatendimento e teleacolhimento, seminários e oficinais on-line, orientação psicológica, jurídica e financeira, entre muitas outras atividades.

“Já tínhamos uma extensão forte, uma política nacional que nos serviu de base para o enfrentamento da crise. Estamos descobrindo novas possibilidades de atuação com as mídias digitais, ou seja, podemos dizer que estamos aprendendo muito sobre a extensão universitária nesse período”, afirmou Adriana Marmori.

Pacto social fortalecido
O professor Oussama Naouar, pró-reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fez um relato da atuação do segmento nestes últimos doze meses. Segundo ele, foram desenvolvidas na instituição mais de 100 ações relacionadas à pandemia, que atingiram mais de 180 mil pessoas.

Organizadas em quatro eixos – assistência técnica e fabricação de produtos; telessaúde e orientação profissional; qualidade de vida e assistência social; comunicação pública e divulgação da ciência –, as ações englobaram desde conserto e reforma de ventiladores mecânicos até o atendimento de pacientes no agreste pernambucano; do incentivo à doação de sangue ao apoio a pequenos empreendedores por meio de um aplicativo que divulga seus serviços; do combate à desinformação à sensibilização de agentes da segurança pública.

“A UFPE e as outras universidades públicas brasileiras souberam organizar-se rapidamente para dar uma resposta à crise. Não apenas não paramos na pandemia, como conseguimos fortalecer o pacto social em que se baseia a extensão, que tem sido muito proativa”, afirmou Naouar, acrescentando que os ajustes terão consequências para o futuro, e só mais tarde esse movimento poderá ser bem avaliado.

Aprendizagens coletivas
Pró-reitora de Extensão da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, Rita de Cássia Brêda garantiu que o isolamento social não impediu as comunidades universitárias de realizar os objetivos basilares da extensão, baseados em aspectos como a aproximação e as aprendizagens coletivas. “A extensão vem sendo ressignificada, mesmo nas instituições mais antigas, e assume protagonismo crescente”, salientou.

Rita Brêda lembra que o desequilíbrio provocado pelas mudanças inevitáveis deflagradas em março de 2020 foi seguido pelo esforço de redimensionamento da extensão, incluindo o remanejamento de seus espaços de atuação. “Não abandonamos a essência da atuação extensionista, que é a parceria com as comunidades, que deve contar com a escuta de seus anseios, expectativas e problemas”, afirmou.

Rita contou que, na UEFS, professores antes não envolvidos com a extensão puderam propor iniciativas de diversas naturezas, e foi grande a adesão em todos os departamentos. “Docentes e estudantes promoveram cursos, seminários, festivais de música, produziram cartilhas e vídeos para apoiar alunos da educação básica, indígenas, idosos e outros grupos.” A pró-reitora acrescentou que a universidade se manteve sempre aberta à submissão de propostas, que ocorrem em fluxo contínuo, assim como a concessão de bolsas. “Não foi fácil, foi preciso fazer adequações, mas mostramos que é possível”, completou.                   

'Sem perder de vista o que somos'
Mediadora da mesa, a professora Olgamir Amancia Ferreira, decana de extensão da Universidade de Brasília (UnB), chamou a atenção para os pontos coincidentes nos relatos de experiências, marcados pela "afirmação, não retórica, mas concreta, do valor da extensão num período de crise sanitária, amplificada por problemas políticos, econômicos e sociais que antecediam a eclosão da pandemia”.

Olganir, que é vice-presidente do Forproex, exaltou a capacidade das instituições de ensino superior públicas de oferecer soluções à sociedade, ainda que já enfrentassem um quadro grave de contingenciamento de recursos. Ela destacou também que a extensão, particularmente, enfrentou um enorme desafio com a obrigação de se adaptar ao modelo remoto. “A grande questão foi como manter as características desse segmento diante da  necessidade de mediação da tecnologia. Está demonstrado que soubemos adaptar os processos sem perder de vista o que somos”, concluiu.

Com o tema Redes para promover e defender direitos humanos, o 9º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária deverá reunir mais de 10 mil congressistas de todo o país, que vão acompanhar as atividades da programação virtual até quinta-feira, 11 de março. As inscrições de ouvintes ainda estão abertas e podem ser feitas até o último dia. A programação, gratuita e aberta ao público, está disponível no site do evento.

Realizado desde 2002, o congresso tem servido à discussão dos grandes desafios da sociedade brasileira com base na relação entre universidade e sociedade, abrindo espaços de diálogo, trocas e articulações dos saberes e práticas da extensão universitária.