Morte de crianças por asma cai quase 60% no Brasil em duas décadas
Levantamento integra dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Medicina
Em quase 20 anos, a mortalidade de crianças e adolescentes por asma no Brasil caiu 58%, segundo estudo desenvolvido pela pediatra e alergista Raquel Pitchon. Seu trabalho, apresentado como dissertação de mestrado na Faculdade de Medicina, constatou que, de 1996 a 2015, foram registradas 5.014 mortes, com queda contínua da taxa de óbitos ao longo do período, com pequenas variações. O ano de 1997 registrou o maior valor – 0,57 mortes por 100 mil habitantes; o menor foi em 2014, com 0,22 por 100 mil habitantes. O levantamento valeu-se de dados do DataSUS.
O levantamento revela que a realidade brasileira reproduz os padrões internacionais de mortalidade pela doença. A autora do estudo atribuiu a queda a vários fatores, que vão desde a melhoria das condições socioeconômicas até a adoção de programas desenvolvidos regionalmente, como o Criança que chia, em Belo Horizonte, que ajudou a refrear as intervenções hospitalares e a promover a distribuição gratuita de medicamentos.
Rachel Pitchon destaca que 68% dos óbitos são de crianças de até cinco anos. Ainda que a pesquisa tenha caráter epidemiológico – o que significa que não é possível associar a causa aos efeitos –, a pediatra, respaldada pela literatura científica sobre o assunto, explica que a maior mortalidade nessa faixa se deve principalmente à fragilidade do corpo e à falta de acesso ao tratamento especializado.
O estudo, orientado pela professora Cristina Gonçalves Alvim e coorientado pela professora Cláudia Ribeiro Andrade, foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente da Faculdade de Medicina.
Manifestações e consequências
A asma é uma doença respiratória crônica das vias aéreas inferiores, manifestando-se de diversas maneiras e com gravidades variáveis, sendo as mais comuns o chiado, a falta de ar, a tosse e a dor toráxica. Segundo Rachel Pitchon, a genética é importante fator de predisposição, pois filhos de asmáticos têm mais chances de desenvolver a doença. No entanto, outros fatores são mais contundentes para o agravamento da enfermidade: exposição à fumaça de cigarro, poluição e componentes alérgicos.
Aproximadamente, 20% das crianças brasileiras sofrem de asma. Segundo a pediatra, o tratamento deve ser feito de maneira continuada, e não apenas nos períodos de crise. “Isso é importante para conferir estabilidade ao quadro clínico e evitar a hospitalização", justifica. A doença pode afetar a socialização e o rendimento escolar dos asmáticos. “A criança começa a faltar às aulas por conta das crises, e os pais faltam ao trabalho para cuidar dos filhos. É um processo que acaba se transformando em um ciclo”, conclui Pitchon.
A TV UFMG também abordou o assunto no vídeo abaixo:
Ficha técnica
Vídeo: Mortalidade infantil por asma é tema de pesquisa na UFMG
Entrevistada: Raquel Pitchon, pediatra e alergista
Produção e reportagem: Tayrine Vaz
Imagens: Antônio Soares
Edição de imagens: Aline Garcia