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Muito além da partitura: seminário discute práticas criativas em música e engajamento social

Metodologia de criação coletiva será apresentada no fim deste mês a 40 projetos sociais de BH; professor do Instituto de Educação de Londres conduzirá as atividades

Crianças do Projeto Querubins, na comunidade Acaba Mundo, da capital
Crianças do Projeto Querubins, na comunidade Acaba Mundo, em Belo HorizonteFoto: Divulgação Projeto Querubins

O ensino de música nas universidades brasileiras ainda está muito associado à produção erudita, uma herança conservatorial que praticamente resume o processo de aprendizado à leitura e escrita de partituras, fenômeno que persiste até mesmo na pedagogia dos projetos sociais destinados à iniciação musical de jovens. A avaliação é da professora da Escola de Música da UFMG Heloisa Braga Faria Feichas, uma das organizadoras do seminário Práticas criativas em música e engajamento social, que será realizado de 26 a 29 de abril, em Belo Horizonte.

“A ideia do seminário é apresentar aos músicos, educadores musicais e líderes dos cerca de 40 projetos sociais da Grande BH mapeados até o momento uma proposta de metodologia que possibilita ampliar a compreensão do fazer musical coletivo, de forma criativa e holística”, afirma a professora. O evento é organizado em parceria com o Núcleo de Educação Cidadã (NEC), com apoio da Associação Querubins. 

“Essa proposta de abordagem de ensino não nivela habilidades, mas valoriza as diferenças. Todas as habilidades são importantes para o trabalho coletivo colaborativo e para o processo criativo”, defende Heloisa Feichas. A formação integrada, segundo a professora, é outro diferencial dessa proposta que ela considera “holística”, pois visa facilitar a conexão das partes com o todo, diferenciando-se, por exemplo, da disciplina de percepção musical, marcada pela fragmentação do ensino em diversas partes, como solfejo, escrita do ritmo e ditado melódico.

Experiência prática
Nos três dias de seminário, os participantes serão conduzidos nas palestras e atividades práticas, como oficinas e debates, por Sean Gregory, premiado professor inglês, diretor de Inovação e Engajamento do Guildhaal School of Music and Drama. Também músico e compositor, Gregory tem vasta experiência em projetos artísticos colaborativos em associação com diferentes orquestras britânicas e organizações de educação artística em comunidades de etnias africanas e muçulmanas da Inglaterra. A atuação de Gregory foi reconhecida com o Prêmio Aniversário da Rainha.

Professor Sean Gregory, premiado pela sua atuação junto a jovens da periferia de Londres
Sean Gregory é premiado por  seu trabalho com jovens da periferia de Londres Foto: Paul Cochrane | Guildhaal School

Heloisa Feichas ressalta que os projetos conduzidos pelo colega também primam pela qualidade artística e musical, sem perder o foco humanista — características que ela também preza em sua formação paralela em música popular. Heloisa Feichas tem formação clássica em piano pela Escola de Música da UFMG e mestrado e doutorado pelo Institute of Education, da University of London, onde conheceu o professor Gregory.  

As atividades da programação, que também inclui apresentações musicais e de dança, serão realizadas no Conservatório UFMG, centro de Belo Horizonte, no CAD3, campus Pampulha, e na sede do Projeto Querubins, na comunidade Acaba Mundo.

Sem contraindicação
Essa abordagem diferenciada do ensino de música, segundo Heloisa Feichas, pode ser aplicada, sem restrição, tanto em bandas quanto em escolas de educação básica e projetos sociais. Nas escolas públicas, onde geralmente faltam instrumentos, a voz e a percussão corporal podem ser usadas nas produções coletivas colaborativas.  

A professora reconhece que os educadores e líderes de projetos são desafiados diariamente pela necessidade de financiamento e prestação de contas, o que dificulta essa abordagem. “Sabemos que muitos educadores têm consciência da importância do processo criativo no ensino de música, mas acabam se empenhando na rotina de busca por financiamento e necessidade de mostrar resultados. Assim, o trabalho se limita a ensinar o jovem a tocar um instrumento e a ler partitura, e o educador não sabe como fazer diferente”, observa.

Heloísa espera que o seminário "marque o início de uma rede de colaboração e compartilhamento dos desafios e das experiências positivas, uma forma de sistematizar a inovação e estimular o processo criativo no ensino de música”.

Inscrições e programação
As inscrições para o seminário podem ser feitas, até 24 de abril, por estudantes, músicos, educadores e lideranças de projetos de cunho social relacionados ao ensino de música dos municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os interessados devem preencher formulário eletrônico.

A inscrição para estudantes de graduação custa R$ 80; estudantes de pós-graduação, professores de escolas públicas e de projetos sociais desembolsam R$150, e profissionais, R$ 300.  

A programação está publicada no perfil do projeto no Instagram

Teresa Sanches