Pesquisa e Inovação

Muito propensos às infecções respiratórias, atletas são grupo de risco para Covid-19

Pesquisadores da UFMG alertam sobre má qualidade do sono e carga de exercícios maior que a habitual, no caso dos não atletas

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Atleta paralímpica britânica, no CTE-UFMG: lesões de medula aumentam o riscoRenato Carvalho / EEFFTO

Jovens saudáveis, sobretudo os atletas, compõem grupo de baixo risco para a Covid-19, é o que se lê e se ouve comumente. Mas não é bem assim. Os atletas são mais propensos às infecções do trato respiratório superior (ITRs) e devem ser alertados, pelos profissionais de saúde, para a necessidade de reforçar medidas higiênicas e evitar esforços pesados durante a pandemia do novo coronavírus.

Essa é uma das considerações de artigo publicado neste mês pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. O trabalho, que teve o objetivo central de discutir a decisão de adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020, é assinado por professores e estudantes da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da UFMG e por especialistas do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

Os pesquisadores ressaltam que a prática do exercício físico regular é útil para a prevenção da Covid-19, assim como no tratamento e controle de males crônicos. Mas a intensidade e o volume dos treinos dos atletas de alto nível comprometem seu sistema imunológico e os incluem entre os grupos de risco para a doença que acomete o mundo há cinco meses.

De acordo com o professor Marco Túlio de Mello, do Departamento de Esporte da EEFFTO, um dos autores do artigo, pessoas que fazem exercícios físicos pesados demoram mais a se recuperar. “As primeiras 72 horas pós-esforço formam a chamada janela imunológica, quando a pessoa está mais suscetível e mais exposta, uma vez que as vias aéreas estão mais abertas e as mucosas das vias respiratórias ficam fragilizadas, com menor capacidade de proteção”, explica.

Isso vale também para não atletas, quando fazem exercícios mais fortes que o habitual, segundo Mello. “O melhor é evitar a intensificação das atividades físicas nesse momento, mas, se acontecer, os cuidados de higiene e as restrições quanto à saída de casa devem ser redobrados", alerta. Os outros autores do artigo vinculados à UFMG são a professora Andressa Silva, a residente de pós-doutorado Flávia Rodrigues da Silva, o doutorando Renato Guerreiro e o graduando Henrique Andrade.

Paralímpicos
O trabalho enfatiza também o fato de que atletas, em geral, dormem pouco e mal e que o sono gera ambiente hormonal pró-inflamatório, ou seja, ajuda a proteger a saúde. Aliado a isso, escrevem os pesquisadores, “atletas são constantemente expostos a treinamento rigoroso, estresse e pressão psicológica para se manterem competitivos, fatores suficientes para reduzir sua imunidade”.

Riscos específicos para os atletas paralímpicos são outro tópico de destaque do artigo. Durante as competições, esses atletas apresentam duas vezes mais doenças na comparação com os atletas olímpicos, 35% delas ligadas ao trato respiratório. Segundo os autores, as delegações paralímpicas brasileiras nos jogos de verão reúnem, em média, 60% de deficientes físico-motores, 25% de deficientes visuais e 5% de deficientes intelectuais. No grupo de maior risco, estão, como salienta o artigo, atletas com doenças neurológicas mais graves, principalmente os tetraplégicos, aqueles com paralisia cerebral mais grave e com doenças neurológicas degenerativas, entre outros.

Os autores avalizam a decisão pelo adiamento das Olimpíadas e das Paralimpíadas, por uma série de razões de caráter geral, como as aglomerações que o evento provoca e o difícil controle de identificação de infectados e da transmissão em períodos assintomáticos. E ressaltam que a principal justificativa para a decisão é “a saúde em risco dos atletas, devido à frequente exposição a cargas de alta intensidade de treinamento que podem suprimir a imunidade e abrir uma janela para a contaminação pela Covid-19”.

Os pesquisadores afirmam ainda que “atletas normalmente apresentam restrição de sono nos meses de preparação, que pode ser acentuada no período pré-competitivo, o que pode piorar a recuperação e fragilizar seu sistema imune”.

Artigo: O adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020 foi uma decisão correta?
Autores: Renato de Carvalho Guerreiro, Andressa Silva, Henrique de Araújo Andrade, Isadora Grade Biasibetti, Roberto Vital, Hesojy Gley Vital da Silva, Flavia Rodrigues da Silva e Marco Túlio de Mello
Publicação: Revista Brasileira de Medicina do Esporte

Cedo para voltar

Apesar da pressão de dirigentes, ainda é cedo para o retorno das competições de futebol no país, segundo recomendação feita pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Um dos autores do estudo, o professor Fernando Mezzadri argumenta, em entrevista à Rádio UFMG Educativa, que a retomada das competições profissionais representa um risco, não apenas para os atletas, mas para todos os envolvidos.

“Primeiramente, futebol é um esporte de contato, e o contato físico não é recomendado no momento. É necessário lembrar também que não são só os atletas que estão envolvidos em uma partida: há a equipe técnica, prestadores de serviços como jardinagem, limpeza e manutenção. Não se pode ignorar todo esse contexto”, argumenta o professor.

Leia uma síntese da recomendação e ouça a entrevista com o professor Fernando Mezzadri

Itamar Rigueira Jr.