Mulheres são as maiores vítimas do rompimento da barragem em Mariana
Tese da Psicologia descreve as várias formas de violência a que elas estão submetidas
“Mariana é nome de cidade, que é mulher, é feminino e é atingida. É mulher pobre, trabalhadora rural, dos distritos destruídos pela lama, é mulher negra, como a maioria das mulheres de Paracatu, Pedras, Borbas e Campinas”. É dessa forma que a psicóloga Débora Diana da Rosa enxerga os impactos que aterrorizam a parcela da população mais afetada pelo rompimento, em novembro de 2015, da barragem da Mina de Fundão, de propriedade das mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton.
A psicóloga, que defendeu tese em março deste ano no Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFMG, afirma que as mulheres são continuamente afetadas. “A tese é resultado de um intenso trabalho de campo. Estive por quase dois anos e meio acompanhando cotidianamente as famílias, além de participar de audiências públicas e atos realizados pelas atingidas e pelos atingidos para reivindicar seus direitos”, esclarece a doutora.
Para construir a pesquisa, Débora Rosa analisou reportagens jornalísticas produzidas na época do rompimento e atas das primeiras reuniões. Participou também de audiências públicas e assembleias convocadas pelo Poder Judiciário com as empresas e os afetados e entrevistou, em profundidade, cinco mulheres que relataram como o episódio marcou suas vidas e impôs nova rotina a partir daquele 5 de novembro de 2015. “Nesse exercício, observei que violências das mais distintas ordens atualizam-se no cotidiano das envolvidas”, afirma.
Algumas conclusões de seu estudo estão descritas em matéria publicada na edição 2.061 do Boletim UFMG, que circula nesta semana.