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Na véspera do Dia da Consciência Negra, Conexões discute o privilégio branco

“Tornar o mundo habitável para todos não é uma função apenas dos negros, que sofrem o racismo, mas dos brancos, que são privilegiados”, afirma a professora da UFMG Maria Aparecida Moura

Para a professora, a maior presença dos negros na universidade tem desnaturalizado o privilégio branco
Para a professora, a maior presença dos negros na universidade tem desnaturalizado o privilégio branco Raíssa César/UFMG

O dia 20 de novembro celebra a memória de Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro que teve papel histórico na luta contra a escravidão. Hoje, na data que marca sua morte, também é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, criado para homenagear a luta do povo escravizado e seu papel na construção do Brasil. É também uma forma de valorizar a cultura, a história e o papel político dos afro-brasileiros e estimular a reflexão sobre as questões raciais. Em 2003, o Dia da Consciência Negra passou a fazer parte do calendário escolar, sendo oficializado em 2011 pela Lei 12.519.

Nesta sexta, 19, o Conexões, dentro das  reflexões sobre o racismo, abordou o privilégio branco, que é o reconhecimento das vantagens sociais, econômicas, educacionais e profissionais das pessoas brancas sobre as pessoas racializadas, consequência da desigualdade racial num país que foi construído pela mão de obra escrava. Para discutir o tema, o programa teve como entrevistada a Diretora da Universidade dos Direitos Humanos e professora da Escola de Ciência da Informação da UFMG, Maria Aparecida Moura.

Moura explicou o conceito de privilégio branco, que é entendido metaforicamente como uma mochila invisível que o sujeito branco recebe ao nascer em que leva consigo tudo o que é necessário para ter uma vida tranquila e ter acessos – influenciando tanto os aspectos escolar, do trabalho e do lazer, mas também no fato de poder ir ao supermercado sem ser seguido pelos seguranças, por exemplo. Segundo a docente, essas pessoas não percebem essa situação porque são educadas para isso. A professora também defendeu que a maior presença dos negros na universidade tem desnaturalizado esse privilégio, pois ele passou a ser nomeado, conceituado e, portanto, passou a existir de fato.

“Por vezes, quando esse sujeito branco é interpelado em função das suas práticas racistas, ele tenta levar para um lugar de naturalidade ou de um certo desconhecimento, como se conhecer e detectar o racismo fosse uma função apenas dos negros. É uma infantilização da discussão. Então, a ideia é que esse processo de tornar o mundo habitável para todos não é uma função apenas dos negros, que sofrem o racismo, mas dos brancos, que são privilegiados e naturalizam esse privilégio como se fosse algo dado. O debate tem que ser amadurecido e sair do conforto e do cinismo”, refletiu.

Ouça a entrevista completa do Soundcloud.

Para marcar o Dia e a Semana da Consciência Negra, a UFMG está realizando mais uma edição do Novembro Negro, uma agenda de eventos proposta pela comunidade acadêmica desde 2018 que busca incentivar a reflexão sobre temas como racismo, inclusão e pertencimento. Com o tema Corpos e vozes que se afirmam, a programação de 2021 inclui lançamento de livros, oficinas, palestras, rodas de conversa, shows, performances e outras apresentações artísticas, em parceria com a Diretoria de Ação Cultural da UFMG. A programação vai até o dia 1º de dezembro e pode ser acessada pelo site Novembro Negro UFMG.

Produção: Enaile Almeida, sob orientação de Luiza Glória e Alessandra Dantas
Publicação: Alessandra Dantas