'Não deixem a chama se apagar', conclama professor Jamil Cury em aula magna
Fogo que ilumina: assim, o professor emérito da Faculdade de Educação Carlos Roberto Jamil Cury definiu os alunos que acabam de ingressar na Universidade, em aula magna ministrada na manhã desta quarta-feira, 8, no Centro de Atividades Didáticas 1 (CAD 1). Com a palestra, denominada Entrei em uma universidade pública: o que é ela, deu-se início à programação de recepção aos calouros do primeiro semestre de 2017, que deve seguir durante o mês de março com passeios pelo campus Pampulha, visitas aos espaços culturais e ecológicos e sessões de orientação.
Em sua abordagem, Jamil Cury lembrou que, além de caracterizar o estudante recém-admitido por uma instituição, o termo “calouro” tem um segundo sentido no dicionário: o do artista amador que se apresenta em um programa de auditório na busca pela oportunidade de se profissionalizar. “Nesse sentido, nos anos em que estarão na UFMG, vocês passarão de amadores a profissionais”, disse. “E é isso que a Universidade espera de vocês.”
O professor também aproximou a palavra calouro da ideia de calor, lembrando que a imagem que figura na insígnia da UFMG, sob a expressão latina incipit vita nova (iniciar vida nova), é a de uma pira em chamas, à qual só se tem acesso por meio de uma escada. “Os degraus dessa escada simbolizam os degraus do conhecimento”, sugeriu.
“Vocês são chamados de calouros porque chegam à Universidade cheios de fogo. Nesse sentido, o que se pede a vocês é que não deixem essa chama se apagar, mas que, ao mesmo tempo, façam dela um uso consciente. Esperamos que o fogo de vocês emita não apenas calor, mas também luz”, provocou. Em sua fala, o professor detalhou que, em uma Universidade, além do ensino, propriamente, existem outras frentes, como a pesquisa, cuja responsabilidade é a produção do conhecimento.
“Diferentemente do amador, o profissional é aquele que se dedica a uma atividade de maneira formal, que atende a normas. Ao se tornarem profissionais, vocês passarão a ser responsáveis por pessoas. Nesse sentido, é preciso excluir o amadorismo, mas não o seu fogo”, alertou, lembrando também a frente de extensão que completa o tripé de atuação da Universidade. “É por meio dela que se dá o diálogo com a sociedade, para que a universidade não fique isolada em uma torre de marfim.”
Nem favor nem privilégio
A comunicação de Carlos Roberto Jamil Cury se fez atravessada pela preocupação em relação aos ataques que o caráter gratuito da universidade pública brasileira vem sofrendo nos últimos anos. “Vocês estão começando uma vida nova na universidade pública federal em um momento cinzento e sombrio. Há vozes que discordam de sua gratuidade e pleiteiam que ela seja seletiva”, alertou. “Mas a nossa Constituição preconiza que a educação é um direito do cidadão e um dever do Estado, que deve oferecê-la com a colaboração da sociedade para o pleno exercício da cidadania. Ora, vocês estão exercendo um direito ao postular uma universidade”, disse.
“Nesse sentido, gratuidade não é favor nem privilégio”, continuou. “A sociedade contribui com os impostos; ela está, sim, pagando por esse estudo. Apenas o que se espera é que, ao fim do curso, os resultados desse investimento sejam revertidos por vocês em benefício da sociedade. Foi em nome desse retorno que conseguimos garantir esse principio constitucional”, disse, sugerindo que é em nome dessa causa que se deve continuar lutando pela gratuidade da educação pública federal.
Ao fim da palestra, o reitor Jaime Ramírez – que já havia oferecido as boas-vindas aos alunos – retomou a palavra e, emocionado, remarcou a posição da atual gestão da Universidade em defesa do caráter gratuito da educação pública superior brasileira. “Quero dizer que, enquanto estivermos à frente da UFMG, vamos seguir lutando para que ela continue gratuita", anunciou.
Direito em disputa
Em sua palestra, Jamil Cury lembrou que o acesso à Universidade se dá pela disputa de um direito (na medida dos processos seletivos), e que, em razão disso, é uma responsabilidade aproveitar ao máximo as oportunidades que a universidade pode oferecer. “É preciso lembrar que muita gente que gostaria de estar aqui nunca esteve nem poderá estar. Muitos dos pais de vocês, por exemplo, que pagam impostos, não tiveram essa oportunidade. Lembrem-se disso e tornem-se profissionais compromissados e competentes”, conclamou.
Em sua acolhida, o reitor Jaime Ramírez lembrou que essa turma de calouros chega à UFMG em plena comemoração dos 90 anos da Universidade. “A vida universitária é cheia de caminhos, as oportunidades são inúmeras. Independentemente da escolha profissional que cada um fez e seguirá, esta instituição possibilita uma formação para além daquilo que tecnicamente vocês vão receber dentro de sala de aula”, garantiu.