Pesquisa e Inovação

Novas técnicas facilitam identificação de cadáveres em situações como a de Brumadinho

Métodos implementados por profissional da Faculdade de Medicina ajudaram a acelerar a liberação dos corpos das vítimas do rompimento da barragem

Aldeir Silva:
Aldeir Silva: trabalho reconhecido em congresso especializadoArquivo pessoal

A dificuldade de identificar as vítimas do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, há cerca de um ano, prolongou o sofrimento das pessoas que perderam amigos e familiares, uma vez que o estado físico dos corpos encontrados desafiou as formas tradicionais de identificação. Uma das alternativas foi o uso da chamada necropapiloscopia, identificação de cadáveres pelas impressões digitais, com base em métodos adaptados pelo técnico em anatomia e necropsia da Faculdade de Medicina Aldeir José da Silva.

Aldeir integrou equipe formada por especialistas da Polícia Federal e da Polícia Civil de Minas Gerais e de outros estados. As técnicas usadas são inovadoras no serviço de identificação da Polícia Civil de Minas Gerais, e grande parte só começou a ser utilizada depois de implementadas por Aldeir, há cerca de três anos, em seu trabalho no Instituto Médico Legal (IML).

Além de acelerar os resultados, essas técnicas possibilitaram resposta segura aos que esperavam por notícias das vítimas de Brumadinho. Segundo Aldeir, alguns indivíduos não poderiam ser identificados pela arcada dentária, já que não tinham tratamento odontológico registrado. Além disso, a identificação do corpo por meio do exame de DNA demoraria cerca de 15 dias a um custo mais elevado.

Aldeir trabalhou 60 dias no IML, e sua atuação possibilitou importantes resultados, como o caso da vítima identificada com 85 dias de óbito, trabalho reconhecido e divulgado no 15º Congresso Brasileiro de Identificação, em agosto de 2019. As técnicas aplicadas também foram eficazes na identificação de outro corpo, descoberto 268 dias após o rompimento da barragem. “Identificamos esse cadáver poucas horas após sua chegada ao IML. Em menos de 24 horas, ele foi entregue à família”, comenta.

Silicone de alta performance
Corpos carbonizados em estado avançado de decomposição ou parcialmente esqueletizados demandam outros meios de identificação. Uma das alternativas consiste na utilização de silicone de alta performance para moldar o desenho digital.

Aldeir utilizou sua experiência adquirida no Instituto Médico Legal e em cursos sobre papiloscopia para adaptar os métodos já apresentados pela literatura e identificar corpos nesses casos mais complicados. “Técnicas como a da fervura, microadesão e molde de silicone são muito bem descritas, mas não se indica uma sequência correta para a utilização de cada um dos métodos. Fiz experimentos com todas as técnicas que estavam descritas, direcionadas para cada caso, até chegar aos resultados”, informa o técnico, que pretende qualificar novos profissionais para aplicar essas técnicas por meio de cursos e da criação de um setor de necropapiloscopia no IML.

Reconhecimento
Por conta desse trabalho, Aldeir da Silva foi homenageado pela Federação Nacional dos Peritos em Papiloscopia, durante o 15º Congresso Nacional de Identificação, realizado em São Paulo, em agosto passado. Em dezembro de 2019, ele também recebeu um agradecimento da Polícia Civil de Minas Gerais e da Polícia Federal durante encontro que celebrou a parceria entre as instituições e a Faculdade de Medicina da UFMG.

Duas vezes por semana, Aldeir vai ao IML, onde trabalha com a coleta de impressões digitais, auxiliando na identificação de pessoas desaparecidas e na elucidação de alguns crimes. “Sem a identificação da vítima, o crime é considerado perfeito, o que impede sua apuração. A técnica utilizada por Aldeir viabiliza a identificação do cadáver, tanto para entregar a vítima à família que a procura quanto para elucidar homicídios, latrocínios e outros crimes graves”, afirma a delegada da Polícia Civil de Minas Gerais e chefe da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida, Maria Alice Faria.

“Se não fosse a Faculdade de Medicina, vários crimes não teriam sido elucidados, e os corpos de muitas pessoas não teriam sido entregues às famílias”, corrobora o médico legista e auxiliar de direção do IML, João Batista Rodrigues Júnior.

Giovana Maldini [reportagem] e Deborah Castro [edição] / Faculdade de Medicina