Pentecostalismo cresce na periferia porque oferece visibilidade aos invisíveis, afirma professor
Quando olha para a periferia, a sociedade tende a superdimensionar seus aspectos ruins e a subdimensionar as virtudes. A observação foi feita pelo professor Heli Sabino Oliveira, da Faculdade de Educação, na manhã desta quinta-feira, 23, no Conservatório UFMG, durante a palestra Periferia, culturas e religiosidades, que integrou a 11ª edição do Festival de Verão da UFMG.
Com base nos conceitos de visibilidade e invisibilidade, binômio temático desta edição do Festival, Sabino abordou as representações sociais e os estereótipos atribuídos às áreas marginalizadas e a expansão das religiões pentecostais e neopentecostais nessas regiões.
“A ‘favela’ sempre esteve integrada com o ‘asfalto’ pois é ela quem fornece os trabalhadores para as áreas nobres. É da periferia para o centro que começa o dia na cidade", pontuou o professor, cuja abordagem busca desconstruir a ideia de que centro e periferia são termos dissociados.
Exclusão social
De acordo com Sabino, as periferias são consequência de um desenvolvimento desigual e não a causa. A urbanização no Brasil ocorreu de maneira desordenada, gerando riqueza para uma pequena parcela da população e pobreza para a grande maioria.
“Na cidade, existem pessoas que se sentem incomodadas com a presença do pobre e do negro. Por que a política de cotas ofende tanto? Porque agora os espaços até então reservados aos brancos também contam com a presença de negros. Os brancos estavam acostumados a ver o negro na portaria da universidade", analisou o professor.
Em outro argumento que ilustra a relação visibilidade/invisibilidade, Heli Sabino lembrou que a periferia só se transforma em problema "quando as pessoas que moram lá deixam de transitar na cidade somente como trabalhadores e passam a circular em áreas sociais e culturais, como shoppings e peças de teatro".
Acolhimento
O professor Heli Sabino também discorreu sobre o fenômeno da expansão, nas regiões periféricas, das religiões pentecostais e neopentecostais. De acordo com sua análise, essa adesão deve-se ao fato de que tais igrejas oferecem visibilidade a pessoas socialmente invisíveis. “De repente, o individuo se vê em um ambiente em que ele é chamado pelo nome e acolhido na entrada, em um lugar onde pode ter a oportunidade de cantar, dançar e tocar instrumentos", justificou.
Para o professor, esses grupos religiosos são os que mais crescem nas áreas periféricas, porque, de alguma maneira, oferecem respostas imediatas para situações de exclusão. “Precisamos começar a trabalhar o que a periferia traz de positivo em seus valores. Só assim as pessoas que ali estão vão se reconhecer como sujeitos de história, cultura e experiência”, disse Sabino, que também falou à reportagem das Redes Sociais da UFMG. Assista ao vídeo no alto desta postagem.