Pesquisa e Inovação

Pesquisa feita no ICB contribui para sucesso na investigação de crimes sexuais

Mestrado propiciou a perito implementar tecnologia adequada a equipamento de análise de DNA adquirido recentemente pela Polícia Civil de Minas Gerais

Giovanni Vitral (ao centro), Eduardo Tarazona (à esquerda) e Rennan Moreira, no Laboratório de DNA da Polícia Civil
Giovanni Vitral (ao centro), Eduardo Tarazona (à esquerda) e Rennan Moreira, no Laboratório de DNA da Polícia Civil Acervo da pesquisa

A Seção Técnica de Biologia e Bacteriologia Legal do Instituto de Criminalística da Polícia Civil (PC) de Minas Gerais, mais comumente chamada de Laboratório de DNA da PCMG, recebeu, recentemente, um exemplar do MiSeq FGX Forensic Genomic System, da empresa Illumina. O objetivo da aquisição foi aperfeiçoar o processo de identificação de amostras de DNA e, por consequência, aumentar as taxas de sucesso de investigações de crimes como os de natureza sexual. 

Para viabilizar a operação do novo equipamento, o perito da Polícia Civil Giovanni Vitral Pinto cursou o mestrado em Genética, no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. O ICB dispõe de equipamento similar ao MiSeq FGX, e, com o auxílio do Laboratório de Diversidade Genética Humana (LDGH), Giovanni se tornou habilitado a implementar, no Instituto de Criminalística da PCMG, a tecnologia que rege o funcionamento do equipamento, baseada no sequenciamento genético massivo em paralelo.

Giovanni Vitral explica que a técnica usada em quase todos os laboratórios de polícia no Brasil é a eletroforese capilar, que analisa a amostra pelo tamanho dos fragmentos do DNA. “O equipamento novo é bem mais sensível, separa as amostras pela sequência do código genético. É como se ele aumentasse a lupa, possibilitando ver a estrutura de muito mais perto. Além de prover muito mais informações, ele tem capacidade de tratar amostras degradadas por microrganismos, calor e outros fatores”, afirma o perito, que é graduado em Farmácia-Bioquímica pela UFMG.

Giovanni e seus orientadores – o professor Eduardo Tarazona e o técnico Rennan Garcias Moreira, pós-graduado em genética e bioinformática – escolheram trabalhar no mestrado com crimes sexuais, porque a Polícia tem vasta casuística nessa área, ou seja, dispõe de muitas amostras, e também porque o material coletado em delitos dessa natureza tem normalmente muita mistura – por exemplo, do DNA da vítima com o do agressor.

“Utilizamos 30 amostras de casos reais, já analisadas com a tecnologia anterior, para a análise com o novo equipamento. Não buscamos a concordância dos perfis genéticos obtidos com as duas metodologias. O que fizemos foi comparar a produção de dados, relacionada à quantidade de regiões do DNA identificadas. Com a técnica utilizada no novo equipamento, obtivemos perfis genéticos completos em 80% das amostras, contra a taxa de 50% do método anterior”, explica Giovanni Vitral. Ele informa ainda que o equipamento recém-adquirido pela Polícia Civil mede centenas de marcadores forenses em uma única reação, em até 96 amostras, simultaneamente.

Giovanni Vitral
Giovanni Vitral trabalha no novo equipamento: perfis genéticos completos em 80% das amostras Acervo da pesquisa

Identificação em Brumadinho
Amostras genéticas com origem em vítimas, agressores e locais de crimes de natureza sexual constituem cerca de 70% da casuística do Laboratório de DNA da Polícia Civil. A unidade tem se dedicado intensivamente, nos últimos anos, à identificação dos corpos encontrados na região atingida, em janeiro de 2019, pelo rompimento da barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho. Foram identificadas 264 vítimas; restam seis pessoas que não foram identificadas e ainda estão desaparecidas.

“No caso dos restos mortais, é comum que os resultados das análises sejam insatisfatórios. As amostras são degradadas, cheias de lacunas, e o DNA é encontrado em pequena quantidade, de baixa qualidade ou contaminado por lama, metais e resíduos tóxicos. O sequenciamento genético massivo em paralelo muda o paradigma e será muito útil para essa parte do trabalho realizado em nosso laboratório”, afirma Giovanni Vitral.

O professor Eduardo Tarazona ressalta que Giovanni foi “muito bem-sucedido em incorporar o know-how desenvolvido na UFMG para o aprimoramento do trabalho realizado na Polícia Civil”. O Laboratório de Diversidade Genética Humana do ICB, coordenado por ele, é considerado referência nacional nos estudos de genômica humana, e a pós-graduação em Genética tem conceito de excelência nas avaliações da Capes. O ICB e a Polícia Civil de Minas atuam em parceria já há alguns anos.

Toda a parte experimental da pesquisa foi feita no Laboratório de DNA do Instituto de Criminalística, e a pesquisa foi financiada pela Polícia Civil.

Dissertação: Implementação do sequenciamento genético massivo em paralelo na Seção Técnica de Biologia e Bacteriologia Legal da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais
Autor: Giovanni Vitral Pinto
Orientador: Eduardo Martin Tarazona Santos
Coorientador: Rennan Garcias Moreira
Defesa: fevereiro de 2022, no Programa de Pós-graduação em Genética do ICB

Itamar Rigueira Jr.