Pesquisa e Inovação

Pesquisador australiano ministra curso sobre relações entre água, energia e alimento

Damien Giurco, da University of Technology Sydney, defende que tema da sustentabilidade seja tratado de forma integrada

Num intervalo
Damien Giurco (terceiro a partir da esquerda) com Rodrigo Nóbrega (IGC, primeiro à esquerda), Francisco Barbosa (ICB) e Nilo Nascimento (Engenharia)
Itamar Rigueira Jr. / UFMG

As interações de uso da água e produção de energia e de alimentos estão entre os objetos de pesquisa do professor Damien Giurco, da University of Technology Sydney (UTS), da Austrália, que ministra disciplina de tópicos especiais, ao longo desta semana, para estudantes de pós-graduação da Escola de Engenharia, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) e do Instituto de Geociências (IGC).

Diretor do Institute for Sustainable Futures, Giurco afirma que as discussões sobre sustentabilidade não podem mais ser feitas por setores. É preciso considerar as interseções de temas como reciclagem de resíduos, aproveitamento de água da chuva e transporte de alimentos. “Nossa preocupação está centrada na otimização de sistemas, não apenas no aspecto técnico, mas também nos aspectos humano e político”, diz o professor, enfatizando que, nessa área, a engenharia deve abrir espaço para as ciências naturais e sociais.

Damien Giurco é um dos mais reconhecidos pensadores da chamada economia circular, que alia desenvolvimento a benefícios ambientais e sociais. Um dos conceitos-chave da economia circular é ecologia industrial. “A indústria pode aprender com os sistemas ecológicos para reduzir desperdícios e aproveitar ao máximo os fluxos de energia”, explica Giurco.

Os pesquisadores do Institute of Sustainable Futures investem em temas como eficiência do uso da água e medição inteligente, que lança mão da tecnologia digital. Sobre os efeitos da possibilidade de controle individual sobre consumo e desperdício, por meio de ferramentas como os smartphones, Damien Giurco é reticente. “A tecnologia pode incentivar as pessoas a um comportamento mais consciente, mas não é suficiente. Ainda é preciso compreender melhor os fatores que podem motivar os indivíduos.”

Conhecimento mútuo
As conversas entre os pesquisadores da UFMG e os da University of Technology Sydney foram iniciadas há cerca de um ano. Em dezembro de 2017, os professores Nilo Nascimento, da Escola de Engenharia, e Francisco Barbosa, do ICB, visitaram a UTS. “Temos objetivos em comum e estamos implantando um projeto de longo prazo, que começa pelo conhecimento, por parte dos pesquisadores, dos métodos, equipamentos e laboratórios da universidade parceira”, diz Nilo Nascimento. “Já estamos envolvendo estudantes e outros professores nessa parceria, e esse curso é a primeira iniciativa concreta. Estão surgindo também novos tópicos de pesquisa, que é essencialmente transdisciplinar”, acrescenta Francisco Barbosa.

Alguns estudos em andamento na UFMG e de alguma forma vinculados à parceria com a UTS tratam da criação de indicadores de sustentabilidade, na perspectiva da economia circular (une Engenharia, ICB e Ciências Econômicas); percepção de serviços ecossistêmicos, com ênfase nos aspectos sociológico e antropológico (com participação do IGC), e modelagem computacional de reservatórios e lagos, que projeta impactos de fatores como fluxo e variações de temperatura da água sobre parâmetros como os de qualidade da água e características da vida nesses sistemas aquáticos.

O curso Gestão de recursos hídricos – o nexo água-energia-alimento e a economia circular, que conta com participação especial do professor Damien Giurco, une os programas de Pós-graduação em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Escola de Engenharia), em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais (IGC) e em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre (ICB)

Os alunos recebem informações sobre a gestão de recursos hídricos na Austrália, com ênfase em águas urbanas. Nas palestras, são abordadas mudanças em usos e governança da água – incluindo os desafios na gestão de recursos hídricos no maior sistema fluvial australiano, a bacia Murray-Darling, que atravessa vários estados –, as estratégias usadas para gerenciar a seca do milênio, incluindo a rápida implantação de programas de uso eficiente da água para reduzir a demanda, bem como a dessalinização para aumentar a oferta, como parte de uma abordagem de planejamento integrado de recursos hídricos. Também são discutidas tendências emergentes como a adoção de infraestrutura descentralizada para provisão e reúso de água na indústria e nos domicílios e alterações no monitoramento e gestão de recursos hídricos associadas à tecnologia digital. Por meio de um enfoque de pensamento sistêmico, são exploradas questões relacionadas ao nexo água-energia-alimento, segundo o conceito de economia circular.

Itamar Rigueira Jr.