Pesquisador é premiado em Portugal por tese defendida na pós-graduação em História
Evaristo Caixeta Pimenta investigou ideologias e práticas eleitorais das monarquias constitucionais em Brasil e Portugal, na primeira metade do século 19
O pesquisador Evaristo Caixeta Pimenta, doutor em História pela UFMG, vai receber o Prêmio Pina Manique, concedido pela Academia Portuguesa de História. O trabalho premiado é sua tese de doutorado, produzida sob orientação do professor Luiz Carlos Villalta. O prêmio será entregue no próximo dia 6 de dezembro.
A tese Em luta pelo mais sagrado dos direitos: identidades políticas, ideologias e práticas eleitorais das monarquias constitucionais bragantinas à luz do fenômeno liberal (1820-1847) foi defendida em 2022, no Programa de Pós-graduação em História.
O trabalho é resultado de esforço para compreender melhor as dinâmicas eleitorais de Portugal e do Brasil, durante a vigência de suas Monarquias Constitucionais. Segundo Evaristo Pimenta, a tese discute a relevância dos aspectos materiais que cercavam o ato do voto, bem como os papéis desempenhados pela tecnologia eleitoral e pela participação dos cidadãos. “No cerne da pesquisa está a avaliação das eleições parlamentares, no mundo luso-brasileiro, durante a primeira metade do século 19, e das suas interações com as identidades e ideologias políticas conflitantes que moldaram tanto a construção do Estado nacional brasileiro como a conformação do Portugal contemporâneo”, diz o pesquisador.
A história comparada é a orientação metodológica principal da tese, que destaca, em especial, o papel dos cidadãos durante o ato do voto e sua luta pelo direito de exercê-lo. “A empiria foi aspecto central da pesquisa, na medida em que se buscou reconstituir, a partir de fontes primárias, os cenários eleitorais e as perspectivas dos cidadãos que possuíam o direito de voto. O método comparativo foi crucial para avaliar como as instituições políticas provenientes do arranjo constitucional brasileiro de 1824 manifestaram-se em Portugal, na seara eleitoral, por intermédio da Carta Constitucional portuguesa de 1826, que era, na prática, uma cópia da Constituição do Império do Brasil”, afirma Evaristo Pimenta.
Aproximação entre historiografias
O historiador conta ainda que a investigação é desdobramento de sua dissertação de mestrado, defendida em 2012, também na UFMG – que analisou as eleições brasileiras do Segundo Reinado, tendo a Província de Minas Gerais como estudo de caso. Ele ressalta que a tese não foi orientada pelos eventos recentes que reintroduziram as polêmicas eleitorais no cenário internacional, desde, pelo menos, o referendo alusivo ao Brexit, de 2016.
“Ao ampliar a discussão para o mundo luso-brasileiro, a pesquisa focalizou aspectos então desconhecidos da história política de Portugal, do século 19, e trilhou caminhos para uma aproximação maior entre as historiografias portuguesa e brasileira nesse campo de estudos”, completa Pimenta. Ele vive em Portugal, onde dá aulas de competências digitais no ensino fundamental, em projetos de parcerias público-privadas, e atua como pesquisador associado do Instituto de História Contemporânea, da Universidade Nova de Lisboa, vinculado ao grupo de pesquisa História Política Comparada.
'Crítica madura e autonomia intelectual'
Orientador da pesquisa, Luiz Carlos Villalta afirma que Evaristo Pimenta empreendeu investigação metódica, de elevado grau de dificuldade. “O trabalho mobilizou ampla gama de fontes primárias e uma bibliografia de alto nível, que incorporou muitas contribuições de autores estrangeiros e de outras áreas de conhecimento, apropriadas com crítica madura e autonomia intelectual”, diz.
Ainda segundo Villalta, trata-se de “trabalho denso, muito bem fundamentado e dotado de reflexões e interpretações de cunho autoral”. “A tese de Evaristo oferece contribuições relevantes para as historiografias brasileira e portuguesa na discussão do liberalismo político e na apreciação de elementos pouco conhecidos das eleições parlamentares das monarquias constitucionais bragantinas, nos dois lados do Atlântico, nomeadamente aqueles que dizem respeito às práticas eleitorais que cercavam o ato do voto – em suas dimensões materiais, ideológicas e de participação dos cidadãos”, complementa.