Pesquisa e Inovação

Professora da pós-graduação do ICB é uma das ganhadoras do Prêmio Para Mulheres na Ciência

Atuação de Marta Giovanetti é focada no estudo de vírus emergentes; pesquisadora hoje se dedica ao Sars-CoV-2

Giovanetti: transformações estruturais são possíveis e estão acontecendo, mas precisam ser reforçadas. A ciência precisa de mulheres.
Giovanetti: transformações estruturais estão acontecendo, mas precisam ser reforçadas; a ciência precisa de mulheresArquivo pessoal

A virologista Marta Giovanetti, professora de Programa Interunidades de Pós-graduação em Bioinformática do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), é uma das sete cientistas brasileiras vencedoras da 16ª edição do Prêmio Para Mulheres na Ciência, iniciativa da L’Oréal Brasil, Unesco e Academia Brasileira de Ciências (ABC). O prêmio tem o objetivo de reconhecer o trabalho das mulheres cientistas, promovendo a igualdade de gênero no campo da pesquisa. Cada pesquisadora recebeu uma bolsa de R$ 50 mil para realizar projetos de pesquisa nas áreas de Ciências da Vida, Ciências Físicas, Ciências Químicas e Matemática.

Giovanetti é italiana e fez seu percurso acadêmico em seu país de origem, tendo vindo ao Brasil para trabalhar na Fiocruz juntamente com o pesquisador Luiz Carlos Júnior Alcântara, que também é professor do Programa de Pós-graduação do ICB. Ela se dedica a atividades de vigilância genômica e ao desenvolvimento de protocolos para a descoberta e monitoramento de vírus emergentes e reemergentes, incluindo o novo coronavírus.

“No meu doutorado, participei de um projeto internacional em que investiguei o vírus ebola em Serra Leoa. Lá conheci o professor Luiz Alcântara, que me ofereceu a oportunidade de participar de um projeto no Brasil e na África do Sul para caracterizar o vírus HIV. Estávamos em 2015, e aquela foi a primeira vez que vim ao país”, conta.

A pesquisadora, que hoje mora no Rio de Janeiro, conta que a carreira como virologista aconteceu de forma natural. “Demorei para encontrar uma linha de pesquisa que me motivasse, mas, depois de deparar com a virologia, eu entendi que esse era o meu caminho. Eu ficava muito intrigada em ver como partículas tão pequenas podiam ser tão impressionantes.”

Durante a pandemia causada pelo novo coronavírus, Marta Giovanetti também se destacou, em novembro de 2020, como a autora do maior número de publicações (26) sobre covid-19 entre os pesquisadores residentes no Brasil, além de ter sido a cientista com o maior número de citações sobre o tema até aquele momento. “O prêmio foi uma surpresa, mas me dedico muito à pesquisa. Tenho certeza que quero fazer isso para o resto da minha vida”, conta.

Representatividade
Giovanetti destaca a importância de um prêmio dedicado à valorização das mulheres pesquisadoras, que ainda têm pouca representatividade na academia. “Esse prêmio é sobre não desistir, pois sabemos como é difícil superar a invisibilidade das mulheres na ciência. O ambiente acadêmico é bem complicado, pois nossa carreira depende de sermos reconhecidas pelas nossas contribuições intelectuais. São muitos desafios diários e acredito que dar visibilidade à nossa trajetória profissional é importante para mudar esse cenário”, defende.

A professora acrescenta que, em áreas como ciências, engenharias e matemática, a sub-representação feminina é ainda maior, o que evidencia a necessidade de iniciativas como o prêmio Para Mulheres na Ciência. “É difícil vermos mulheres em posições de liderança nesses campos. Eu me sinto muito privilegiada porque trabalho em uma instituição que é liderada por uma pesquisadora mulher – Nísia Trindade Lima, primeira mulher a presidir a Fiocruz, no Rio de Janeiro –, e isso serve como incentivo. Essas pequenas transformações estruturais são possíveis e estão acontecendo, mas precisam ser reforçadas. A ciência precisa de mulheres”, conclui.

As outras vencedoras
Na categoria Ciências da Vida, além de Marta Giovanetti, também foram premiadas a bióloga e professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) Letícia Couto, a professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI) Lilian Catenacci e a ecóloga e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Thaísa Michelan. Na categoria Química, a premiada foi a professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Ana Cecília Albergaria-Barbosa. Na área de Física, Ingrid Barcelos, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), foi a escolhida. Na área de Matemática, por sua vez, a premiada foi a professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Fernanda De Bastiani.

Luana Macieira