Terapeutas defendem atenção especial a crianças e idosos em distanciamento social
Algumas atividades podem ajudar a reduzir os impactos emocionais e psicológicos da medida
O isolamento social proposto pelas autoridades sanitárias para contenção do contágio pelo novo coronavírus mudou abruptamente a rotina de crianças, adolescentes e idosos. Diante da incerteza sobre quanto tempo essa situação vai durar, alguns impactos psicológicos negativos podem começar a surgir com mais intensidade entre crianças e idosos, como ansiedade, estresse, transtorno do pânico, depressão, confusão e raiva.
A desorientação é uma principais consequências desse fenômeno, e, por isso, a manutenção de uma rotina, com horários de sono, alimentação e estudo, além de exercícios físicos e de cognição, são recomendações importantes para os públicos de todas as idades.
Vários profissionais e grupos de pesquisa da UFMG estão colaborando com publicações na internet, por meio de sites e redes sociais, com alertas e dicas sobre como se prevenir da Covid-19 e com sugestões de atividades, que podem ser realizadas sem sair de casa, para ajudar a melhorar a qualidade de vida na quarentena.
“O excesso de exposição ao noticiário, com imagens fortes e impactantes, deve ser evitado. Mas explicar a situação para as crianças em uma linguagem acessível, destacando o motivo das mudanças da rotina é fundamental para ajudá-las a entender os motivos pelos quais não podem ir à escola, ou fazer e receber visitas, além dos cuidados necessários com a higienização. O importante é que o adulto responsável esteja disponível para responder e explicar, de maneira objetiva, clara e simples, as dúvidas que surgirem, passando-lhes mais segurança", alerta a vice-presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 4ª Região (Crefito-4), Álida Andrade.
Álida Andrade e as também terapeutas ocupacionais Livia Swerts e Paula Sales, graduadas pela UFMG, integram a equipe da Efeito, liderada pela professora aposentada Marcia Bastos Rezende, da Escola de Educação Física e Terapia Ocupacional da UFMG. A consultoria é especializada na inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais.
Disciplina para comer e dormir
Manter ao máximo os horários habituais de alimentação, sono, higiene, estudos brincadeiras também e fundamental. “Esse tempo deve ser aproveitado também para deixar que a criança realize as tarefas no seu próprio ritmo, experimentando e percebendo seus erros e conquistas, sem tanta interferência do adulto. Trata-se de uma ótima oportunidade para estimular a independência", sugere Álida.
Cultivar o pertencimento da criança e adolescente na rotina da casa, como no preparo dos alimentos, é outra dica que pode contribuir para a boa convivência e até para que os jovens se alimentem melhor. A hora do sono também deve seguir um ritual, para aproximar os familiares, trazer segurança e previsibilidade. Ao saber que é hora de dormir, a criança se prepara para relaxar. Pais e filhos podem tomar um chá juntos, ler um livro ou ver fotos antigas.
Longe das escolas, as crianças e adolescentes precisam manter um horário para estudos. A técnica Pomodoro, que propõe o gerenciamento do tempo por meio de um cronômetro para dividir o trabalho em períodos de 25 minutos, separados por breves intervalos, pode favorecer o foco nos estudos, segundo avaliação das terapeutas ocupacionais.
Brincar, sim, pero no mucho. Como ninguém está de férias, o tempo para isso também deve constar na rotina. Utilizar jogos e brinquedos estruturados e explorar materiais simples, disponíveis em casa, pode unir toda a família na brincadeira. Um mesmo jogo pode ter objetivos diferentes, dependendo da idade, habilidade cognitiva ou desenvolvimento motor.
O site especial que a UFMG lançou sobre o novo coronavírus reúne dicas de como preparar as crianças para enfrentar este momento, além de direcionar para páginas de projetos dedicados a elas, como o Universidade das Crianças, o Explicatricks e o Blog do Espaço do Conhecimento.
Idosos
O distanciamento social para os idosos, um dos grupos classificados como vulneráveis à pandemia, é imprescindível, mas é preciso mantê-los ativos, com uma rotina que favoreça a manutenção do seu desempenho ocupacional, suas funções físicas, cognitivas e mentais. “A estimulação cognitiva auxilia na manutenção da memória, atenção e funções executivas, entre outras. Essas funções são essenciais para executarmos as tarefas do dia-a-dia. No envelhecimento, essas capacidades tendem a diminuir, e esse processo pode se agravar nesse período de isolamento”, explica Álida.
Os idosos também exigem alguns cuidados, como a seleção de informações para conscientização sobre a importância do isolamento e hábitos de higiene. “Para os que não apresentam declínio cognitivo, as informações devem ser filtradas, evitando sensacionalismos, pois isso pode gerar ansiedade para alguns idosos, principalmente para os que apresentam quadros depressivos”, adverte a terapeuta.
Para idosos com declínio cognitivo, é fundamental envolver os familiares e cuidadores, pois eles serão os responsáveis pelo controle da higiene e pela diminuição dos riscos de infecções. “Nesse caso, a informação sobre a pandemia para os idosos não é primordial, pois, dependendo do nível cognitivo, ele pode não entender ou mesmo esquecer as informações que lhe forem passadas", diz Álida.
Ficar em casa não é sinônimo de parar. No entanto, as atividades físicas devem ser individualizadas, respeitando, inclusive, o idoso que não tinha esse hábito anteriormente. Propor a realização desse tipo de tarefa em casa, respeitando suas limitações, pode ser um começo. “A manutenção da autonomia é fundamental para que o idoso se sinta parte importante do processo e melhore sua autoestima. Podemos estimulá-los em atividades como arrumar a mesa para a refeição, organizar utensílios, tirar poeira de algum móvel, entre outras tarefas da rotina da casa”, sugere a terapeuta.
“A falta de interação social e contato pode gerar ansiedade e angústia e agravar casos de depressão em idosos. Por isso, as atividades como alongamentos, exercícios físicos, atividades para estimulação cognitiva e manutenção das funções mentais devem ser propostas, sempre respeitando o histórico ocupacional e interesse do idoso, pois a dificuldade em executar algo pode gerar frustração e piorar o quadro mental”, adverte Álida.
Atividades como ler um livro, ouvir música, assistir a missas ou a cultos religiosos, brincar com jogos de tabuleiro e fazer ligações e videochamadas para familiares e amigos também são indicadas.