Saúde

Projeto Elsa avaliará mudanças causadas pela Covid-19 na saúde do brasileiro

Equipes de seis instituições, inclusive da UFMG, esperam aproveitar conhecimento acumulado para estabelecer comparações com os impactos identificados durante e após a pandemia

Exame de retinografia realizado no âmbito do projeto, que pode revelar alterações associadas a diabetes e hipertensão
Exame de retinografia identifica alterações associadas a diabetes e à hipertensão Foca Lisboa / UFMG

Em pouco mais de uma década de atuação, o Projeto Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa Brasil) documentou dados importantes sobre a saúde da população brasileira, como a dinâmica de doenças crônicas. Neste mês de junho, o projeto deverá iniciar uma pesquisa inédita, que possibilitará comparar aspectos da saúde do adulto antes, durante e após a pandemia.  

O Elsa Brasil investiga, desde 2008, a incidência e os fatores de risco para doenças crônicas, especialmente as cardiovasculares e diabetes. De acordo com a professora da Faculdade de Medicina Sandhi Barreto, coordenadora da iniciativa, o projeto pode oferecer contribuições importantes no estudo da Covid-19 e seus efeitos diretos e indiretos na ocorrência e controle de doenças crônicas e na saúde mental.

A experiência das equipes e o acompanhamento que já vinha sendo feito com 15 mil voluntários (funcionários e docentes do setor público), em seis estados, possibilitarão comparar dados registrados anteriormente com resultados obtidos por estudo durante e após a pandemia com esse mesmo grupo de participantes.  

Hipóteses
“Temos algumas hipóteses, como as próprias mudanças provocadas pelo distanciamento que sobrecarregam as pessoas com níveis superiores de estresse e afetam sua saúde”, explica Sandhi Barreto. De acordo com a professora, outro possível impacto seria provocado por alterações na rotina de atividade física e na alimentação, que podem levar a ganho de peso maior que o esperado, piora dos níveis glicêmicos e maior risco de obesidade.

Além dessas possibilidades de efeitos da pandemia, a professora acrescenta o fato de muitas pessoas evitarem a ida aos serviços de saúde para controle da saúde ou realização de algum procedimento.

Fases
O estudo inédito prevê uma fase inicial de entrevistas com os participantes por meio de questionários eletrônicos ou por telefone. O intuito é entender melhor e documentar como tem sido a vivência dos participantes desde o início da pandemia: se eles têm sido mais expostos à infecção, se chegaram a fazer testes, como têm sido seus hábitos de vida, alimentação, prática de atividade física, entre outros.

“Vamos convidar todos os participantes para contribuir com mais essa etapa do Elsa. Na última visita, recebemos 14 mil pessoas. Esperamos um número semelhante de voluntários em todas as fases do processo”, prevê a professora e coordenadora do Elsa em Minas. Entre os participantes do projeto, estão trabalhadores da saúde que atuam na linha de frente da Covid-19.

Na próxima etapa, quando as medidas de distanciamento não estiverem mais vigentes ou forem sensivelmente flexibilizadas, serão realizados testes rápidos para a Covid-19, teste sorológico e para outras infecções comuns no país, como dengue, zika e chikungunya.

Também serão verificados outros parâmetros como o controle de peso corpóreo, da pressão arterial e os níveis glicêmicos. Ao fim do processo, será possível conhecer a situação de saúde dos participantes e mudanças enfrentadas com a pandemia.

Sandhi Barreto: adoecimento é distribuído desigualmente pela sociedade
Sandhi: adoecimento é distribuído desigualmente pela sociedade Foca Lisboa / UFMG

Parâmetros nacionais
Contribuir para o conhecimento sobre a saúde do adulto ao longo do tempo é uma tradição do Elsa Brasil, um dos estudos colaborativos de maior duração no país. Até então, tudo que se sabia sobre o assunto tinha como parâmetros pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Europa.

“Acompanhamos essas pessoas de perto, realizando entrevistas periódicas, fazendo exames para comparar parâmetros de saúde”, explica a professora. Também são feitos contatos anuais por telefone com os participantes para indagar sobre novidades e ocorrência de algum problema de saúde naquele ano.

A proposta é investigar fatores que podem interagir entre si. Entre eles, estão fatores psicossociais, socioeconômicos, biológicos e de comportamento, como tabagismo e atividade física. “É uma ampla gama de aspectos que podem interagir de forma a explicar por que o adoecimento não afeta a todos igualmente; ele é distribuído desigualmente na sociedade”, observa Sandhi.

O Projeto Elsa é desenvolvido em seis instituições de ensino e pesquisa – cinco universidades federais e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que trabalham de forma colegiada. Na Faculdade de Medicina da UFMG, a equipe reúne cerca de 20 professores e pesquisadores mais diretamente envolvidos, além de alunos de pós-graduação, de iniciação científica e bolsistas de pesquisa.

A soma de esforços entre as instituições já possibilitou ao Elsa-Brasil a publicação de cerca de 310 artigos, que contribuem para a construção de diretrizes importantes para o Sistema Único de Saúde (SUS). O trabalho dessa rede também resultou no estabelecimento de parâmetros brasileiros de saúde. Um exemplo é a medição que foi realizada, por meio de ultrassonografia na carótida, para identificar o espessamento das artérias carótidas – um indicador de aterosclerose que está associado a doenças cardiovasculares.

Uma versão ampliada desta matéria está publicada no Portal da Faculdade de Medicina.

Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina