Saúde

Saúde mental e emocional é tema de entrevista no programa Conexões

Psicóloga e psicanalista Thalita Rodrigues falou sobre campanhas como o Janeiro Branco e sobre a importância de ampliar a discussão sobre o tema

Cenário instável da pandemia tem intensificado sofrimento mental e emocional
Cenário instável da pandemia tem intensificado sofrimento mental e emocional Foto: Bruno Cecim/Ag.Pará / Fotos publicas / CC BY-NC 2.0

Nos últimos anos, têm ganhado força, no Brasil, campanhas de conscientização sobre doenças, com os meses relacionados a cores. Algumas delas são o Outubro Rosa, com foco na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de mama e, mais recentemente, também do câncer de colo do útero, e o Novembro Azul, com ênfase na prevenção e no diagnóstico precoce do câncer de próstata. Com a saúde mental, não é diferente: além do Setembro Amarelo, focado na prevenção ao suicídio, há também o Janeiro Branco, com foco na saúde mental e emocional. 

De acordo com a OMS, a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o segundo país das Américas com o maior número de pessoas depressivas: 5,8% da população. Além disso, o país tem a maior prevalência de ansiedade no mundo, com o transtorno afetando 9,3% dos brasileiros. O contexto atual, de pandemia e de distanciamento social, também tem ajudado a acentuar os sentimentos de incerteza e angústia na população, tornando as discussões sobre saúde mental e emocional ainda mais urgentes em 2021. 

Em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nesta quinta-feira, 28, a psicóloga social e psicanalista Thalita Rodrigues, doutoranda em Psicanálise na UFMG, e coordenadora da Comissão de Orientação em Psicologia e Relações Étnico-raciais do Conselho Regional de Psicologia - Minas Gerais (CRP-MG), defendeu que é preciso olhar com cautela e com uma perspectiva mais crítica para campanhas como o Janeiro Branco. “Essas campanhas que se detêm numa perspectiva de saúde mental muito voltada especificamente para atendimentos psicológicos e clínicos, acabam individualizando uma questão que é muito mais séria e complexa”, afirmou.

Segundo a especialista, a saúde tem sido pensada como um conceito que vai além da mera ausência de doenças. “É um conceito complexo, que envolve questões sociais, econômicas, culturais, espirituais, emocionais e psicológicas”, destacou, lembrando ainda do atual momento, de pandemia, crise econômica e política. “Como ter saúde mental se eu estou desempregada ou desempregado? Se não tenho garantias de que vou ser vacinada ou vacinado, e, ainda assim, eu tenho que voltar ao trabalho?”, ponderou.

Sobre a atenção à saúde mental, Thalita Rodrigues destacou que, em primeiro lugar, é preciso pensar na inter-relação entre corpo e mente. “O que a gente sente e pensa impacta no corpo físico. E o corpo também afeta os nossos pensamentos e emoções. Basta pensar que quando a gente adoece, ficamos um tanto deprimidos, cabisbaixos, desanimados”, disse.

Outro ponto importante, segundo a profissional, é entender o papel de psicólogos e psiquiatras no trato da saúde, “profissionais que cuidam da saúde, assim como um pneumologista, um clínico geral, um infectologista. É preciso entender que isso faz parte da nossa vida, não está separado”, afirmou.

“Se quando estamos com alguma doença somática, fisiológica, como, por exemplo, uma infecção de garganta, procuramos um médico especialista, por que quando estamos num quadro de desânimo, com pensamentos ruins, crises de ansiedade, sem conseguir realizar tarefas cotidianas básicas, como tomar banho ou se alimentar, também não procuramos um profissional especialista?”, questionou.

Ouça a conversa com Hugo Rafael

Produção de Flora Quaresma e Laura Portugal, sob orientação de Hugo Rafael