Pesquisa e Inovação

Seminário discute resultados de pesquisas sobre legado do modernismo em Minas

Iniciativa do projeto MinasMundo, que reúne acadêmicos do Brasil e dos Estados Unidos, evento na Fafich terá mesas-redondas, homenagem, oficina e lançamento de livro

Vista de Ouro Preto: na cidade histórica, modernista constataram originalidade e diálogo com o mundo
Vista de Ouro Preto: na cidade histórica, em 1924, modernistas constataram originalidade e diálogo com o mundo Foto: Bruno Girin (CC BY-SA 2.0)

Em outubro de 2020, pesquisadores do Brasil e do exterior lançaram o projeto MinasMundo: o cosmopolitismo na cultura brasileira. Para essa rede, quando se fala de modernismo e da Semana de Arte Moderna, que completa 100 anos em 2022, o ano que importa mais é o de 1924, quando alguns dos intelectuais e artistas de destaque no então nascente Modernismo estiveram em cidades históricas como Ouro Preto e travaram contato mais profundo com o barroco mineiro. Ali, segundo esse pensamento, se dava o desrecalque da cultura brasileira e se reconhecia a dignidade de formas culturais não eurocêntricas.

Depois de dois anos de muita pesquisa e reuniões on-line – recomendadas contra a disseminação da covid-19 –, o MinasMundo promove, nas próximas quinta e sexta-feira, 15 e 16 de dezembro, na UFMG, seu primeiro seminário com presença física. O evento, que integra as celebrações dos 95 anos da UFMG, será no auditório Sonia Viegas, da Fafich, no campus Pampulha, sempre das 10h às 18h.

Três mesas-redondas vão ressaltar aspectos relacionados a arte, memória, história, sociedade e cultura. Um livro será lançado, e, no fechamento da programação, o poeta Ricardo Aleixo vai conduzir uma oficina de criação. As mesas terão participação dos professores da UFMG Wander Melo Miranda, Marcelino Freire, Reinaldo Marques, Sergio Alcides do Amaral (todos da Faculdade de Letras, a Fale), Heloisa Starling (História/Fafich), Maria Angelica Melendi e Fernando Mencarelli, ambos da Escola de Belas Artes.

“Na Semana Santa de 1924, Mario de Andrade, Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, entre outros, tiveram contato transformador com o barroco brasileiro, que propiciou pensar sobre a originalidade de uma cultura forjada na tensão entre o nativo, o europeu e o africano”, lembra o professor André Botelho, da UFRJ, um dos organizadores do seminário. “Essa nova forma de perceber as linguagens artísticas teve consequências diretas nas obras dos modernistas e alterou os caminhos que vinham sendo traçados desde a Semana de 22”.

Segundo Botelho, as conversas do seminário servirão também para apresentar pesquisas feitas no âmbito do MinasMundo que exploram desdobramentos do impacto da viagem de 1924 nas relações entre tradicional e moderno, local e universal, particularmente na poesia, nas artes plásticas e no memorialismo.

Reinaldo Marques:
Reinaldo Marques: "o mineiro tem obsessão pela história e pela memória"Foto: acervo pessoal

Sempre em diálogo com o mundo
O professor Reinaldo Marques, outro dos organizadores do seminário (ao lado de André Botelho, Mauricio Hoelz e Wander Melo Miranda), fará a moderação da mesa Minas, memória e história, agendada para a manhã do dia 16. “O mineiro tem obsessão pela história e pela memória, e isso aparece fortemente nas artes e, particularmente, na literatura daqui, em autores como Pedro Nava e Carlos Drummond de Andrade. Desse apreço também se origina nossa pulsão arquivística, por registrar e guardar. Essa conversa vai tratar, entre tantos outros aspectos, de como Minas sempre dialogou com as culturas e as artes que vêm de fora”, afirma o professor.

Reinaldo ressalta o papel do projeto MinasMundo, que estimula reflexão sobre o Modernismo brasileiro com base na ideia de cosmopolitismo. “Ouro Preto, embora cercada de montanhas, sempre esteve em contato com o mundo, e essa constatação teve impacto significativo no pensamento e na produção dos paulistas que estiveram à frente da Semana de 1922.”

Na apresentação do seminário, os organizadores enfatizam que, além de abordar os legados do modernismo na literatura, nas artes e na sociedade mineira, os pesquisadores vão refletir “sobre a rotação de perspectiva que vai de uma memória do modernismo centrada em discussões sobre identidade nacional a uma outra, preocupada com os temas do cosmopolitismo, do papel da cultura brasileira no mundo e da dependência cultural”.

Eneida das pontes metafóricas
Na manhã de quinta-feira, 15, o seminário vai abrigar uma homenagem à professora emérita da UFMG Eneida Maria de Souza, uma das articuladoras do projeto MinasMundo, que morreu em março deste ano. Reinaldo Marques, ex-colega na Faculdade Letras, salienta que Eneida deixou produção fundamental e formou gerações de pesquisadores nas perspectivas da teoria literária, da literatura comparada e do diálogo transdisciplinar com outras artes. “Gosto de destacar, do riquíssimo legado de Eneida, a categoria téorica das pontes metafóricas, que ligam obras e artistas que nunca se encontraram, mas que têm fortes afinidades. Ela também construiu pontes que criaram relações acadêmicas e amizades. Era aberta aos diferentes, mestra em criar laços”, afirma o professor da Faculdade de Letras. Além de Marques, participarão da homenagem Wander Melo Miranda, Sergio Alcides, Myriam Ávila, Marcelino Rodrigues e Roniere Menezes, este último professor do Cefet-MG.

Na quinta-feira, às 17h30, será lançado o livro A sociedade dos textos (Relicário Edições), de André Botelho, André Bittencourt (ambos da UFRJ) e Maurício Hoelz (UFRRJ), que reúne ensaios de três gerações de sociólogos cariocas com novos olhares sobre a literatura e a sociologia da literatura. A obra também pretende contribuir para o estudo do Modernismo por meio da valorização de sua diversidade textual: relatos de viagem, livros de memórias, histórias da medicina e da literatura, correspondências, poesias e ensaios de crítica literária.

O MinasMundo é iniciativa da UFMG, UFRJ, UFRRJ, Unicamp e Princeton University (EUA).

Itamar Rigueira Jr.