Pessoas

Ser negro na UFMG: da descoberta ao orgulho

Estudantes relatam como a Universidade contribuiu para a sua conscientização

Da descoberta ao empoderamento. Estudantes de graduação e pós-graduação da UFMG contam sobre como se tornaram conscientes do seu pertencimento étnico-racial, vivenciado em meio a experiências de preconceito e superação. À TV UFMG, eles também relatam como suas vivências na Universidade contribuem para reflexões sobre essa consciência e os avanços necessários. 

Bruno Henrique de Paula, primeiro estudante negro a ingressar por cotas no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da UFMG, discorre sobre o mito da democracia racial e conta como participar de coletivos e programas de extensão, desde a graduação, o ajudou a formar uma percepção do que é "ser negro".  “Em primeiro lugar, sou fruto das ações afirmativas.  Desde a minha participação em projetos de extensão como a Companhia de Dança Andora, na Universidade Federal do Espírito Santo, até o ingresso no  programa da FaE, passando pelo contato com coletivos negros. Essas  vivências nos espaços universitários possibilitaram que me afirmasse positivamente como negro, superasse a dor dos apelidos pejorativos ouvidos durante a infância na escola e desconstruísse estereótipos racistas".

Encontrar pesquisadores que estudam a temática afro-brasileira na UFMG também aflorou na aluna do mestrado em Enfermagem Taísa de Paula Gonçalves o orgulho de ser negra.  A estudante afirma que ainda prossegue na desconstrução dos incômodos que não sabia nomear e que foram introjetados pelas diferenças fenotípicas, como cabelo e cor da pele, durante a infância no ambiente escolar. Enfermeira obstétrica, Taísa mudou o objeto de sua pesquisa  que envolve a sua  prática profissional numa área, em que, além de poucas, as mulheres  negras tem sua competência questionada.  Integrante do Núcleo de Pesquisa e Estudos em Saúde da Mulher e Gênero (NUPESMeG), ela decidiu que sua pesquisa acadêmica será sobre a influência de gênero, raça e classe no contexto de trabalho de enfermeiras obstétricas negras.

Ao ingressar na academia, o estudante de Engenharia de Sistemas Sílvio Ferreira de Moura Júnior assumiu o cabelo crespo, visto socialmente como um estigma e o incorporou como símbolo de orgulho e afirmação étnico-racial. "Meu cabelo foi fundamental para me assumir como negro, enxergá-lo como aprendizado constante sobre as relações raciais e compreender que imagens distorcidas podem ser ressignificadas", afirma Sílvio Moura.

FICHA TÉCNICA

Entrevistados: Bruno Henrique de Paula (mestrando da Faculdade de Educação da UFMG),  Taisa de Paula Gonçalves (mestranda da Escola de Enfermagem da UFMG) e Silvio Ferreira Júnior (estudante de Engenharia de Sistemas da UFMG)
Produção e reportagem: Soraya Fideles e Renato Temponi
Editor de conteúdo: Pablo Nogueira
Cinegrafista: Ravik Gomes
Edição: Otávio Zonatto