Sítio geológico no Quadrilátero Ferrífero está em lista dos 100 mais relevantes do mundo
Professora da UFMG e colega da Ufop propuseram candidatura de formações localizadas em Itabirito e na Serra da Piedade
![Úrsula Ruchkys | UFMG Itabiritos na Serra da Piedade:](https://ufmg.br/thumbor/wY2wnQHq9N3WtTDimBibe4RbQ1A=/0x0:1778x1186/712x474/https://ufmg.br/storage/5/4/2/0/54207811640bb8e85a436ebd1608c5f7_16669834581084_1846822526.jpg)
As formações ferríferas encontradas no Pico do Itabirito (ou do Itabira), localizado no município de Itabirito, e o Pico da Serra da Piedade, em Caeté, ambos na região metropolitana de Belo Horizonte, estão entre os 100 patrimônios geológicos mais relevantes do mundo, segundo a União Internacional dos Sítios Geológicos (IUGS). É a primeira vez que se produz uma lista do gênero.
O patrimônio geológico do Quadrilátero Ferrífero (QF) foi sugerido à comissão de seleção da IUGS no Brasil pela professora Úrsula Ruchkys de Azevedo, do Instituto de Geociências da UFMG (IGC), e pelo professor Paulo de Tarso Amorim Castro, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Mais três sítios brasileiros integram a lista: o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, as Cataratas do Iguaçu, no Paraná, e o Domo de Araguainha, em Goiás.
O sítio geológico mineiro aparece na relação dos 100 mais recomendados para conservação como Formações ferríferas bandadas paleoproterozoicas do Quadrilátero Ferrífero. O termo bandadas, explica Úrsula Ruchkys, se refere às camadas ricas em ferro e sílica, que dão à formação um aspecto listrado; paleoproterozoicas são estruturas formadas no período aproximado de 2,5 bilhões a 1,6 bilhão de anos atrás. A categoria em que o QF se enquadra na lista da IUGS é a dos Sítios estratigráficos e sedimentológicos.
Referência para as geociências
Na tese de doutorado que defendeu em 2007, na UFMG, Úrsula elaborou proposta de criação, no QF, de um geoparque, área protegida que abriga projetos turísticos e educacionais. O Brasil tem três geoparques: Araripe, no Ceará, criado em 2006, Seridó, no Rio Grande do Norte, e Caminhos dos Cânions do Sul, em região de divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os dois últimos foram criados em 2022. “Na minha pesquisa, identifiquei afloramentos de rocha e outros elementos com potencial de contar a evolução do Quadrilátero Ferrífero, que é uma região importante no contexto da geologia mundial”, conta a professora, que chefia o Departamento de Cartografia do IGC.
De acordo com Úrsula Ruchkys, os sítios do patrimônio geológico credenciados pela IUGS têm relevância científica que faz deles referências para o desenvolvimento das geociências. “A comunidade da geologia vê o projeto da União Internacional como estímulo à cooperação entre os geossítios no mundo, visando ao compartilhamento de conhecimentos e práticas nesse campo”, afirma.
![Miguel Andrade ...](https://ufmg.br/thumbor/FR1qK1pnfzYV4aAhcGeSg5_imZY=/16x3:660x990/352x540/https://ufmg.br/storage/1/b/5/c/1b5c87b4ebbef45b2658b08090cb00a9_16669843111292_1193483540.jpg)
Pedra que risca vermelho
Úrsula Ruchkys explica que as formações ferríferas bandadas (BIFs) do Quadrilátero Ferrífero são rochas sedimentares químicas formadas no início do Grande Evento de Oxigenação no Paleoproterozoico e depositadas em um ambiente oceânico pouco profundo. “Regionalmente, as nossas BIFs são denominadas de itabirito [em tupi- guarani, pedra que risca vermelho]. Os corpos de minério de ferro do QF hospedados nas BIFs têm até 75% de óxido de ferro e são mundialmente conhecidos. As minas na região produziram mais de 3 bilhões de toneladas de ferro nos últimos 20 anos”, afirma a professora.
Ainda segundo Úrsula, juntamente com mármores, dolomitos e filitos hematíticos e dolomíticos, as BIFs constituem a Formação Cauê do Supergrupo Minas, que atinge até 350 metros de espessura. Elas têm uma crosta ferruginosa (com óxido e hidróxido de ferro), regionalmente chamada de canga. As cangas são resistentes à erosão e hospedam pequenas cavernas, as primeiras a serem descritas nesse tipo de rocha.
“Como sedimentos químicos, formações ferríferas registram as transformações ambientais e a evolução da Terra. Sua presença indica alterações na biosfera que levaram a considerável aumento na concentração de oxigênio livre na atmosfera e nos oceanos”, diz a professora.
As BIFs paleoproterozóicas do Quadrilátero Ferrífero foram descritas como sítios geológicos importantes para a compreensão da história de evolução da Terra na tese de Úrsula Ruchkys e em publicação da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Pleobiológicos, dois anos depois, em 2009 – nesse caso com a participação dos também professores da UFMG Friedrich Ewald Renger, Carlos Alberto Rosiere, Maria Márcia Magela Machado e Carlos Maurício Noce.
“O sítio do QF tem um dos registros mais importantes de BIF paleoproterozoico, o perfil de intemperismo [desgaste natural das rochas] mais antigo e contínuo do planeta, várias cavernas formadas em rochas ricas em ferro, além de sustentar as indústrias siderúrgicas ao longo das últimas décadas do século 20 e também no século 21”, enumera Úrsula Ruchkys, ao mencionar os fatores decisivos para o reconhecimento pela União Internacional dos Sítios Geológicos.