Institucional

Thais Porlan e Rogério do Pateo assumem direção da Fafich

A nova diretora foi vice na gestão comandada pelo professor Bruno Reis, da Ciência Política, que está se encerrando

Thais e Rogério assumem a direção da Fafich para os próximos quatro anos
Thais e Rogério assumem a direção da Fafich para os próximos quatro anos Foto: Foca Lisboa | UFMG

Uma nova dupla de professores assume a diretoria da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) na tarde desta sexta-feira, 10 de novembro, para comandar a unidade na gestão 2023-2027. A cerimônia, aberta à comunidade acadêmica, começa às 15h, no auditório Graciela Inés Ravetti de Gómez, na Faculdade de Letras. A reitora Sandra Regina Goulart Almeida conduzirá a solenidade.

Falou-se em “nova dupla”, mas a rigor ela não é tão nova assim: Thais Porlan de Oliveira, professora do Departamento de Psicologia que assume a unidade, foi a vice-diretora na gestão 2019-2023, que teve Bruno Pinheiro Wanderley Reis, do Departamento de Ciência Política, como diretor. No novo ciclo, Thais terá como vice Rogério Duarte do Pateo, do Departamento de Antropologia e Arqueologia.

A tendência, portanto, é de continuidade, mas também de aprofundamento de processos, haja vista as dificuldades vivenciadas pelas universidades brasileiras no último ciclo de gestão.  “Eu e Bruno assumimos a diretoria no final de 2019. Foi um período complicado do Brasil, em que as perspectivas para as universidades públicas eram sabidamente de enfrentamento de grandes dificuldades. O desafio não foi pequeno, e eu me senti pessoalmente compelida a assumir um papel mais ativo na gestão institucional, na vice-diretoria, justamente por entender que a Fafich e a UFMG precisavam de uma união interna em relação aos nossos procedimentos institucionais, dadas as incertezas que viriam”, demarca.

Nessa retomada, Thais alude apenas ao contexto de incertezas em que as instituições públicas brasileiras de ensino começavam a mergulhar naqueles anos, com a escalada de cortes financeiros e os consequentes ataques à autonomia universitária. Naquela época, ninguém ainda imaginava que uma pandemia de três anos espreitava o mundo. “Aí foi uma revolução em todo nosso entendimento de como funcionar, no que diz respeito ao trabalho administrativo e acadêmico. Foi preciso muita paciência, organização e saúde mental. Mas acho que conseguimos – não sem sofrimento, e nem de longe acho que superamos esses desafios. Contudo, avalio que conseguimos passar por esse período mais ou menos em consonância e com harmonia interna, procurando fazer o melhor para garantirmos minimamente as condições para trabalho e estudo dos servidores e estudantes da Fafich”, avalia.

Bruno Reis, que havia sido vice-diretor na gestão 2016-2019, compartilha da opinião. “Foi um período difícil. Em 2016, eu e Orestes [Diniz Neto, professor do Departamento de Psicologia, diretor no mandato] chegamos à diretoria um ou dois meses depois da remoção da Dilma. Pouco meses depois, houve a ocupação. Depois, veio a eleição do Bolsonaro. E teve Weintraub [Abraham Weintraub, ministro da Educação durante o governo Bolsonaro, que se destacou pela oposição deliberada às universidades e ao saber científico]. E teve a pandemia. Então não foi trivial. Mas acho que pudemos servir bem. Foi oportuno para o momento termos, no período, uma diretoria com um perfil mais atento a ritos e formas. Foi uma conjunção feliz, em face a essa conjuntura difícil, que tendia a produzir conflito, dispersão, insegurança, medos de todo tipo. Acho que foi possível acolher, oferecer padrões: fazer com que a diretoria se constituísse como referência para a vida dentro da Fafich”, demarca.

O que vem pela frente
Bruno Reis lembra que a recente aprovação do Plano de Desenvolvimento Institucional na congregação da unidade promete colaborar ainda mais para a estruturação de uma verdadeira pauta institucional da unidade – a mais antiga demanda da unidade, em razão do seu caráter plural e heterogêneo. Nesse contexto, o programa de trabalho estabelecido por Thais e por Rogério do Pateo dá o tom do que se pode esperar para a gestão da unidade nos próximos quatro anos, ciclo em que a Fafich completará – já no ano que vem – 85 anos.

“Almejamos dar continuidade à história frutífera e tão significativa que esta Faculdade tem, não somente pela sua importância no cenário acadêmico e científico, mas também pelo seu papel na formação e transformação social”, anotam os novos diretores no documento. “Nós o apresentamos à comunidade no momento da nossa candidatura. Ele pode dar um bom balizamento do que pretendemos”, comenta Thais. 

O documento está estruturado em uma série de tópicos. Em Congregação, detalha-se, entre outras coisas, a estratégia para gerar mais visibilidade e influência para a Fafich no contexto geral da Universidade. A seguir, são apresentados o Projeto de desenvolvimento institucional da Fafich, a Política de gestão orçamentária, as Políticas de gerenciamento administrativo e acadêmico e as Políticas para a gestão de pessoas”. Por fim, há um item dedicado à Comunicação institucional.

“Há anos a direção da Faculdade não dispõe de uma política efetiva de comunicação institucional, essencial para os tempos atuais. É nossa intenção e uma de nossas prioridades darmos continuidade à proposta de criação de um setor específico de assessoria de comunicação à Diretoria, em parceria já firmada com projeto do Departamento de Comunicação Social”, anotam. “O que nos move é a relativa clareza de que, com responsabilidade e compromisso com nossas funções temporárias na direção, é possível alcançarmos algum êxito. Mas sabemos que não sozinhos, isolados na Diretoria, ou apenas despachando a documentação rotineira. A parceria e a confiança da comunidade são valores caros para nós. Queremos genuinamente que as pessoas venham felizes para a Fafich trabalhar ou estudar. Nos apoiaremos na confiança depositada em nós para gerirmos a Fafich e valorizarmos, sobretudo, relações éticas e respeito mútuo e a observância dos direitos e deveres implicados nas relações institucionais”, sintetizam. A íntegra do documento pode ser lida aqui.

Entrevista | Bruno Reis

'Não é a maior, mas é a mais heterogênea'

Em conversa com o Portal UFMG, Bruno Reis fez uma análise de seus seus anos à frente da Fafich e da natureza heterogênea da unidade.

Potencial de interação
A Fafich não é a maior das unidades da UFMG, mas, provavelmente, é a mais heterogênea. Isso produz muitas coisas na dinâmica interna. Os departamentos têm uma configuração bastante frouxa. Entre arqueólogos, jornalistas, psicólogos, historiadores, filósofos, sociólogos, a interação potencial é grande, mas, na prática, as pessoas são puxadas para dentro da vida departamental e se comunicam muito pouco. As pessoas literalmente não se conhecem. Isso cria um fosso grande, numa dinâmica muito centrífuga, em que a diretoria fica meio sozinha, subequipada, tentando compensar.

Bruno Reis é professor do Departamento de Ciência Política
Bruno Reis é professor do Departamento de Ciência Política Foto: Foca Lisboa | UFMG

Nesse contexto, por muitos anos eu ouvi na Fafich o bordão de que “diretoria boa é a que não atrapalha”. Contudo, essa posição meio passiva, de mera chancela do que vinha dos departamentos, pouco a pouco foi cobrando o seu preço: um esvaziamento institucional, sem integração coerente que fosse ditada por algum foco de orientação; a perda de padrões e de rotinas, em que a unidade só se materializava como problema, barulho, crise, ruído. Em boa medida, esse era o quadro quando eu cheguei como vice-diretor. Havia certa perplexidade na comunidade; as coisas eram realizadas, mas pareciam não ter consequência. A imagem que me ocorria era a de que a Fafich girava em falso, estava desengrenada. O desafio era engrenar.

“Diretoria boa tem de ‘atrapalhar’”
O que me vi fazendo quando me tornei vice-diretor foi me descobrir como um diretor mais “chato” (risos). Eu fui descobrindo que uma diretoria boa não é a que não atrapalha, mas sim a que “atrapalha”, porque nisso ela vai devolver as coisas para serem feitas apropriadamente: exigir adesão com os regimentos, cobrar que os procedimentos sejam realizados dentro dos ritos etc. Em verdade, houve muito de casual nessa agenda, não era uma espécie de plataforma prévia. Foi fruto do meu temperamento e do Orestes, da nossa circunstância. Em 2016, nós já tínhamos mais de 20 anos de casa, e a gente vinha de um período em que historicamente diretoria era preenchida por colegas com poucos anos da casa.

Então, embora tenha um temperamento mais contemplativo, relativamente passivo quanto a agendas substantivas específicas, estava disponível para tocar as coisas que aconteciam. E então eu fazia questão da forma, do procedimento. Com isso, no avançar do tempo, fomos virando uma espécie de referência [sobre o modo de, em face da burocracia, se realizar as coisas corretamente, de modo a funcionar e gerar frutos]. Assim, esses anos na Fafich foram um período de relativa reaculturação – mas isso é um processo que ainda está em curso, ele apenas começou; o processo de trazer a Fafich para padrões compartilhados de rotina, de processamento, com uma diretoria mais proativa.

“Organização complexa”
Esse é um processo que agora vai se intensificar com Thais Porlan, que é uma gestora muito mais apta do que eu. Ela consegue contemplar a qualidade dos fluxos, isto é, em que medida eles são ou não sustentáveis; em que medida a diretoria consegue lidar com as pautas que lhe chegam – e para isso a gente tem de se organizar melhor. Estamos, neste momento, em pleno processo de reorganização administrativa da diretoria, para torná-la uma organização mais complexa. A ideia é que a diretoria seja capaz de, também, se coordenar internamente: não apenas reger os departamentos, mas também se coordenar internamente de maneira mais complexa, para então poder processar todas as pautas, que são muito diversificadas. A Thais é a pessoa certa para fazer isso.”

Prédio da Fafich no campus Pampulha, onde a unidade está instalada desde 1990
Prédio da Fafich no campus Pampulha, onde a unidade está instalada desde 1990 Foto: Foca Lisboa | UFMG

Perfil dos dirigentes

Thais Porlan de Oliveira, diretora (gestão 2023-2027)
É professora do Departamento de Psicologia desde 2008. Em sua trajetória na gestão, foi coordenadora da graduação em psicologia (2010-2012), chefe de departamento (2015-2017), representante da unidade no Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (2018-2019) e vice-diretora da Fafich (2019-2023). Também integrou diferentes comissões e instâncias colegiadas da Universidade, como a Câmara de Pós-graduação, a Comissão Permanente de Saúde Mental e o Comitê de Ética em Pesquisa.

Sua formação acadêmica foi construída na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar): graduação em psicologia, especialização em terapia comportamental, mestrado e doutorado em educação especial e pós-doutorado em psicologia. Sua atuação na pesquisa centra-se na análise do comportamento e na psicologia do desenvolvimento infantil – particularmente, ela se dedica aos temas relacionados ao desenvolvimento das funções simbólicas em crianças com desenvolvimento típico e transtornos do desenvolvimento. Seus estudos, nesse sentido, abordam variáveis experimentais, linguagem e comportamento verbal, aprendizagem relacional e competências sociocognitivas.

Rogério Duarte do Pateo, vice-diretor (gestão 2023-2027)
É professor do Departamento de Antropologia e Arqueologia desde 2010. Como gestor, atuou como coordenador do curso de ciências sociais (2012-2014) e chefe de departamento (2014-2016). Paralelamente, participou de diferentes órgãos colegiados no âmbito do departamento, como a Câmara Departamental, o Núcleo Docente Estruturante e o Colegiado do Curso. Além disso, ocupou uma vaga de representação docente na Congregação da unidade. Rogério é vice-coordenador do Núcleo de Antropologia Visual (NAV) e novamente Chefe de Departamento, função que assumiu em março deste ano.

Sua formação foi obtida na Universidade de São Paulo (USP): graduação em Ciências Sociais e doutorado em Antropologia Social. Lá, foi membro do Núcleo de História Indígena e do Indigenismo de 1996 a 2005. Em sua trajetória acadêmica, dedicou-se particularmente à pesquisa sobre os conflitos intercomunitários e sobre o sistema de comunicação cerimonial dos Yanomami, povo com quem conviveu por cerca de 15 meses em suas pesquisas de campo. Rogério desenvolve pesquisas no âmbito da Antropologia Visual. Entre outras contribuições como parecerista e analista, elaborou relatório sobre violação dos Direitos Humanos entre os Yanomami para a Comissão Nacional da Verdade.

Bruno Pinheiro Wanderley Reis, diretor (2019-2023)
É professor do Departamento de Ciência Política desde 1994. Em sua trajetória de gestão, foi coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciência Política (1997-1999) e da graduação em ciências sociais (2004-2006). Em seguida, integrou a diretoria da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP, 2008-2010) e serviu como seu secretário-adjunto no biênio seguinte (2010-2012). Também integrou a diretoria da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs, 2013-2014) e o comitê acadêmico da mesma Anpocs (2016-2018). Antes de assumir a gestão 2019-2023, foi vice-diretor da Fafich na gestão comandada por Orestes Diniz Neto, professor do Departamento de Psicologia (2016-2019).

Bruno Reis é graduado em ciências econômicas pela UFMG e mestre e doutor em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Em suas colaborações, integrou o grupo de pesquisadores do projeto Dinheiro e política: a influência do poder econômico no Congresso Nacional, no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, 2016-2017). Sua ênfase recente de pesquisa tem sido o estudo comparativo da interação dos sistemas eleitorais e o financiamento de campanhas.

Posse da diretoria da Fafich (gestão 2023-2027)

Ewerton Martins Ribeiro