Institucional

UFMG, governo de Minas e MCTI acertam parceria para produção de vacinas no estado

Acordo deve acelerar desenvolvimento de imunizante contra a covid-19 na Universidade e viabilizar novas pesquisas em longo prazo

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CT-Vacinas desenvolve imunizante com base em diferentes vetores virais  Marcílio Lana | UFMG

A UFMG e o governo de Minas Gerais contarão com apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para o desenvolvimento de vacinas no estado. A reitora Sandra Regina Goulart Almeida e o vice-governador Paulo Brant foram recebidos na última quinta-feira (4), em Brasília, pelo ministro Marcos Pontes, e ficou acertada parceria que deve promover incremento nas pesquisas realizadas pelo Centro de Tecnologia em Vacinas (CT-Vacinas) da UFMG e instituições vinculadas ao governo do estado.

De acordo com Sandra Almeida, o objetivo do esforço conjunto é viabilizar o desenvolvimento de imunizantes nacionais, o que reduzirá a dependência do Brasil em relação a vacinas e insumos produzidos no exterior. “O CT-Vacinas da UFMG tem tido papel importante na testagem diagnóstica e está trabalhando no sentido de desenvolver uma vacina nacional para a covid-19, além de outros estudos relevantes para o campo das vacinas. A parceria estabelecida com o MCTI, envolvendo também o governo do estado, será fundamental não apenas para a continuidade do desenvolvimento do imunizante contra o coronavírus, mas também para as pesquisas com vacinas a longo prazo”, disse.

A reitora da UFMG lembrou que o CT-Vacinas tem amplo conhecimento instalado neste campo. “A expectativa é que tenhamos aqui um centro nacional especializado em vacinas para que possamos enfrentar os desafios que, sabemos, estão por vir. Necessitamos, mais do que nunca, de articulação entre as universidades e os órgãos públicos estaduais e federais para garantir investimento contínuo”, afirmou Sandra Almeida.

O ministro Marcos Pontes destacou que a vacina que está sendo desenvolvida pela UFMG, com tecnologia nacional, “é importantíssima para o estado e para o país e tem grande relevância para a ciência brasileira”.

O vice-governador Paulo Brant disse que a iniciativa conjunta “dá esperança à sociedade brasileira em meio à pandemia”. Ele enfatizou que o CT-Vacinas da UFMG tem desenvolvido “um ótimo trabalho” e que é necessário apoio adicional. “Esse esforço vai contar com o Governo de Minas, com o MCTI e com outras instituições, públicas e privadas, e logo poderemos dar ótimas notícias para os brasileiros”, afirmou.

Testes clínicos
A parceria que une o MCTI, o governo de Minas e a UFMG deverá garantir a sequência de um trabalho que começou no início de 2020, antes mesmo de declarada a pandemia. A equipe do CT-Vacinas logo começou a se organizar para desenvolver o imunizante contra o Sars-CoV-2, e, em março, o projeto já estava pronto. Em maio, os recursos foram liberados pela Finep, e pouco depois o grupo iniciava os testes com as diversas plataformas vacinais.

Depois da identificação e produção em pequena escala dos antígenos (adenovírus, proteínas recombinantes e outros) e dos testes bem-sucedidos de imunogenicidade em camundongos, o CT-Vacinas está pronto, segundo a professora Ana Paula Fernandes, uma das coordenadoras do Centro, para iniciar os testes clínicos. As fases 1 e 2, de imunogenicidade e segurança em humanos, devem demandar investimento de R$ 15 a 20 milhões. Para a fase 3, ainda não há orçamento. A previsão, segundo Ana Paula, é de que, “se tudo der certo, com a colaboração de todas as partes envolvidas”, os testes em humanos sejam iniciados até o fim deste ano.

O desenvolvimento do imunizante do CT-Vacinas da UFMG adota tecnologia semelhante à utilizada pela Universidade de Oxford, que trabalha com vetores virais (vírus não patogênicos para os seres humanos) capazes de codificar proteínas do coronavírus sem causar a doença, mas estimulando a produção de anticorpos e células de defesa. De acordo com o professor Flávio Fonseca, que também compõe o grupo de coordenação do Centro, a diferença básica entre a vacina que está sendo produzida na UFMG e a de Oxford é a utilização, pelo CT-Vacinas, de outros vetores virais, além do adenovírus. “A estratégia de usar diferentes vetores minimiza a resposta contra o próprio vetor, ampliando a eficácia da vacina”, explica o microbiologista da UFMG.

Ana Paula Fernandes destaca que o CT-Vacinas e outros centros brasileiros têm plena capacidade de produzir vacinas e assim reduzir a necessidade de importar esses produtos. “É preciso quebrar a cultura de importação de imunizantes que impera no Brasil. Os resultados promissores que obtivemos até agora demonstram que temos competência multidisciplinar, dominamos as diversas plataformas vacinais e contamos com ferramentas que estão disponíveis nos grandes centros de pesquisa estrangeiros”, afirma a cientista, ressaltando ainda a importância do financiamento de longo prazo que viabilizou as pesquisas nesse campo, ao longo das últimas décadas.

Itamar Rigueira Jr. / Com informações do portal do MCTI