UFMG tem projetos de mobilidade elétrica selecionados em chamada da Aneel
Pesquisadores propõem a criação de ônibus elétricos e de carro híbrido multicombustível
Dois projetos de mobilidade energética da UFMG foram selecionados pela Cemig, em primeiro e terceiro lugar, no âmbito de chamada lançada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Vinte propostas foram inscritas em Minas Gerais, e três foram selecionadas. Os projetos agora passarão por uma avaliação da própria agência e, caso aprovados, receberão recursos para serem executados.
O trabalho vencedor, Veículo elétrico com cargas rápidas regulares (eCaRR) em brts: projeto piloto para demonstração e avaliação de tecnologias, foi proposto pelo Laboratório Tesla/UFMG – Engenharia de Potência, do Departamento de Engenharia Elétrica. O intuito é fazer circular três ônibus elétricos no campus Pampulha, dotados de tecnologia que confere eficiência.
O projeto tem a parceria da Iveco, fabricante de veículos pesados, caminhões, ônibus e utilitários leves com sede na Itália, da Nansen, que produz medidores de energia elétrica e que fornecerá as estações de recarga, e da Concert, que atua na área de informática e será responsável pelo sistema de monitoramento dos veículos. As três empresas se comprometem a aportar 15% do valor do projeto, percentual mínimo de contrapartida previsto pela Aneel. Duas delas – Concert e Nansen – foram incorporadas à iniciativa graças ao trabalho do Escritório Elo, gerido pela Fundação Christiano Ottoni da Escola de Engenharia, que promove a intermediação entre a Universidade e empresas em busca de parcerias para projetos de pesquisa e extensão.
De acordo com o coordenador do projeto, professor Braz de Jesus Cardoso Filho, os ônibus elétricos constituem solução para reduzir custos e são ideais para corredores BRT (Transporte Rápido por Ônibus). O uso dos veículos – mais confortáveis, silenciosos e de melhor desempenho – possibilita reduzir tempo, geração de poluentes e volume de baterias.
No projeto do Tesla-UFMG, os pesquisadores trabalham com um sistema de cargas rápidas regulares distribuídas nas vias, utilizando baterias e supercapacitores de última geração, com menor peso e volume. Veículos com baterias menos volumosas podem ser conectados regularmente a uma rede elétrica de alta capacidade e disponibilidade. Os pontos de embarque e desembarque dos passageiros serão interligados à rede da Cemig para as recargas das baterias.
“É possível fazer uma analogia dos ônibus elétricos com servidores em nuvem, pois as baterias, pequenas e leves, recebem recargas rápidas nos pontos de parada”, diz Braz Cardoso Filho. "Eles usam a rede de energia elétrica de forma análoga àquela em que os servidores em nuvem são usados para armazenamento de dados", acrescenta.
Veículo híbrido
O projeto selecionado em terceiro lugar – Veículo híbrido plug-in para operação com etanol, GNV, biometano e gasolina – foi proposto pela Fiat Chrysler Automobiles (FCA), em parceria com dois laboratórios da UFMG, três da PUC Minas, com a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig) e com a Efficientia, subsidiária da Cemig na área de eficiência energética.
De acordo com Braz Cardoso, o Laboratório Tesla-UFMG participa do projeto no que concerne à parte elétrica – é responsável pelo desenvolvimento de motores e geradores localizados no interior das rodas do carro, de forma a reduzir peso e liberar espaço útil –, ao sistema eletrônico e controles associados.
O Laboratório de Análise da Combustão e Motores, do Centro de Tecnologia e Mobilidade (CTM), ligado à Escola de Engenharia, é responsável pelo desenvolvimento do motor técnico tetracombustível, que aceita dois gases (o GNV, Gás Natural Veicular, e o biometano, oriundo do biogás) e dois combustíveis líquidos (etanol e gasolina). A equipe do CTM fará a adaptação, desenvolvimento e otimização da queima dos combustíveis.
A PUC Minas participa com laboratórios nas áreas de ensaios dinâmicos, emissões de gases e energia solar, pois o veículo tem a opção de energia fotovoltaica. A Fiat entra com equipe técnica e recursos para subsidiar o projeto, a Gasmig fornece os gases (e recursos), e a Efficientia é responsável pela eficiência energética e por aporte financeiro.
Segundo o professor da UFMG Ramon Molina Valle, integrante da equipe, o projeto demanda esforços muito bem articulados, em razão da necessidade de conciliar, da melhor forma, a parte elétrica e a de combustíveis. Ele ressalta que estão envolvidos alunos de graduação, mestrado e doutorado da UFMG e da PUC Minas, além de mestres, doutores e engenheiros. "Além de desenvolver a tecnologia, é muito importante a formação técnica e profissional”, diz Molina.
Critérios
Para reunir projetos em atendimento à chamada da Aneel, a Cemig acolheu, nos meses de maio e junho, propostas para desenvolvimento por empresas e instituições de ciência e tecnologia. O objetivo é estabelecer parcerias para o desenvolvimento de tecnologias que atendam aos interesses da concessionária, do setor energético e da sociedade em geral como um todo. Foram avaliados os aspectos estratégico, mercadológico, econômico-financeiro, técnico-executivo e de sustentabilidade.
De acordo com o engenheiro Claudio Homero, da Gerência de Inovação Tecnológica e Alternativas Energéticas da Cemig, os responsáveis foram chamados para promover ajustes nos projetos, que, em seguida, foram encaminhados para avaliação inicial da Aneel. Ainda segundo Homero, o edital da Cemig adotou como referência a própria chamada da Agência.
No início de agosto, durante um workshop na Aneel, em Brasília, serão apresentados os projetos submetidos por todas as concessionárias de energia elétrica do Brasil. O parecer da Aneel será divulgado no dia 11 de setembro, e os projetos aprovados seguirão para contratação e execução.