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Protótipo da UFMG vence maratona nacional de eficiência energética

Carro projetado pela equipe Milhagem alcançou a marca de 312 km/kWh, recorde na competição; grupo agora quer 'conquistar' a América

Seu formato lembra uma gota d’água e é considerado o mais aerodinâmico da natureza, característica associada ao menor gasto de energia. Inspirada nessa ideia, a equipe Milhagem UFMG projetou o carro DT1, vencedor da Shell Eco-Marathon Brasil, na categoria bateria elétrica. A competição, realizada no Rio de Janeiro (RJ), no mês passado, reuniu 30 equipes do Brasil, da Colômbia, do Peru, do México e da Argentina.

A gota d´água sobre quatro rodas foi desenhada por ex-integrantes do time. O projeto teve continuidade com a atual equipe, que ingressou durante a pandemia e o implementou. O desempenho do protótipo foi superior exatamente no aspecto que a gotícula inspira: a eficiência energética. O veículo da UFMG alcançou a marca de 312 km/kWh, o que seria suficiente para percorrer, sem necessidade de abastecimento, os 351 quilômetros que separam os municípios de Resende (RJ) e de Santos (SP). Em linha reta, a distância entre as duas cidades é de 252 quilômetros.

Maria Teresa, piloto da equipe, ao lado do protótipo 'DT1' no Rio de Janeiro
Maria Teresa, piloto da equipe, ao lado do protótipo 'DT1', cujo formato lembra uma gota d´água Fernando Souza | Shell International Limited

O DT1 começou a ser desenvolvido em 2017, quando a carenagem (lataria) foi projetada. Como o objetivo era diminuir o atrito com o ar, o carro foi desenhado de modo que o piloto pudesse permanecer predominantemente na posição horizontal. Todos os detalhes foram projetados e simulados em computador para garantir que as cargas fossem devidamente suportadas. “A gente precisa garantir que o protótipo aguente as cargas laterais, os esforços e o peso do piloto”, explica o estudante de Engenharia Mecânica Diogo Ferreira, um dos integrantes da equipe. A parte externa do carro é revestida de lâminas de fibra de vidro e carbono sobrepostas. “A fibra é um material leve e, ao mesmo tempo, resistente” justifica.

Efeito pandemia
O protótipo venceu a mesma maratona em 2018 e foi vice-campeão no ano seguinte na competição das Américas. Durante a pandemia, no entanto, o carro envelheceu tecnologicamente. Raquel Yengo e Gabriel Pimenta, graduandos da Engenharia Mecânica, explicam que não foi possível realizar manutenções elétricas e mecânicas devido à suspensão das atividades acadêmicas presenciais. “Foi a nossa maior dificuldade”, relata Diogo.

Integrantes da equipe reunidos na competição Shell Eco-Marathon, no Rio de janeiro
Integrantes da equipe reunidos na competição Shell Eco-Marathon, no Rio de janeiro Equipe Milhagem

Mesmo com esse obstáculo, a equipe voltou a brilhar na quinta edição da competição, a primeira organizada após o advento da pandemia, de 22 a 25 de agosto. O primeiro dia foi reservado para testes de reconhecimento da pista e ajustes finais no protótipo. O segundo, dedicado a testes e inspeção técnica, foi uma etapa eliminatória em que os organizadores analisaram os requisitos obrigatórios do veículo. Nos dois últimos dias, as equipes percorreram o circuito. Elas dispunham de quatro tentativas para concluir o trajeto. Foi aí que o grupo da UFMG alcançou a marca de 312 km/kWh, recorde da pista na categoria elétrica. O carro chega a atingir 27km/h. 

Os protótipos participantes da maratona são distribuídos em duas carreiras: uma formada por veículos de motor a combustão interna e outra que reúne carros movidos a bateria elétrica. Nas duas modalidades, vencem os veículos que concluírem o percurso, de 8,4 km, com o menor gasto de energia. 

Vinte e sete estudantes participaram do projeto, sob a orientação dos professores Gabriel Fogli e Víctor Campos, do Departamento de Engenharia Eletrônica, e Fabricio Pujatti, do Departamento de Engenharia Mecânica. O trabalho contou com o apoio da Escola de Engenharia e de um grupo de patrocinadores que ajudou a garantir o suprimento de peças, algumas delas importadas da Alemanha.

A conquista rendeu à Milhagem UFMG a quantia de US$1,5 mil, que será aportada na continuidade do projeto. A equipe pretende construir novo protótipo, inspirado no DT1, mas com atualizações, para disputar a maratona das Américas, que será realizada nos Estados Unidos. O modelo, batizado de Monocoque, disputará a categoria bateria elétrica. Outra frente em desenvolvimento é o protótipo Urban, movido a combustão e também desenhado para representar a UFMG na outra categoria da mesma competição. Como o próprio nome sugere, Urban está sendo projetado para se adaptar melhor ao ambiente urbano.

Equipe recebe da Shell o cheque no valor de 1.500 dólares, além do troféu de 1º lugar
Equipe recebe da Shell o cheque simbólico no valor de US$1,5 mil, além do troféu de 1º lugar Fernando Souza | Shell International Limited

Transição energética, mercado e criatividade
Participar de um projeto como o da equipe Milhagem UFMG pode trazer desdobramentos que vão muito além do êxito em competições como a maratona da Shell. A piloto da equipe, Maria Teresa, estudante de Engenharia Elétrica, avalia que a transição energética de motores a combustão para carros híbridos e elétricos tem papel fundamental na redução das emissões de carbono, com consequente repercussão nas condições ambientais do planeta.

A graduanda em Engenharia de Controle e Automação Letícia Andrade acredita que a experiência de seus integrantes poderá repercutir no mercado de trabalho. “São vivências e aprendizados que temos aqui [na Universidade], mas que levaremos para fora. As ideias de sustentabilidade aplicadas ao projeto podem servir de exemplo para diversas outras situações”, argumenta.

Para João Gabriel Muniz, da Engenharia Mecânica, o projeto também exige reaproveitamento de materiais, como partes de computadores usados. “Algumas peças são muito caras, e isso exige criatividade e senso de economia”, justifica o estudante.

Bella Corrêa