Internacional

Universidade deve adotar direitos humanos como bandeira prioritária, defende professor argentino

Rodolfo Brardinelli, de Quilmes, participou da aula inaugural da Escola de Inverno promovida pela UFMG e pela AUGM

Claudia Mayorga, Marlise Matos e Rodolfo:
Claudia Mayorga, Marlise Matos e Rodolfo Brardinelli: novo pacto para efetivar os direitos humanos na regiãoReprodução de tela

Os desafios impostos às universidades e aos países da América Latina foram discutidos na abertura da Escola de Inverno – Educação em Direitos Humanos, realizada nesta quarta-feira, dia 30. O evento marcou o início dos encontros semanais virtuais promovidos pela UFMG e pela Associação de Universidades Grupo Montevidéu (AUGM). A série segue até 1º de setembro. 

Mais de dois mil alunos inscreveram-se para acompanhar as aulas pelo canal da Pró-reitoria de Extensão da UFMG no YouTube. Além do Brasil, o curso de extensão reúne estudantes do Chile, da Argentina, da Bolívia, do Paraguai e de Cuba, entre outros países. As aulas são ministradas por docentes de 12 universidades vinculadas à Cátedra de Direitos Humanos da AUGM.

A professora do Departamento de Ciência Política da UFMG Marlise Matos expôs o que chamou de “deterioração dos indicadores sociais da América Latina”, com base em relatório divulgado em 2020 pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). “A covid-19 atingiu em cheio a região e aprofundou as desigualdades sociais, afetando, principalmente, segmentos mais vulneráveis, como as populações negras, indígenas e LGBTQ+”, disse. A docente indicou, como efeitos diretos da "tragédia humanitária da pandemia”, o aumento da pobreza e da pobreza extrema, a falta de acesso a serviços públicos básicos, a evasão escolar na educação infantil e no ensino superior, a desigualdade de renda e de gênero, entre outros. 

Promoção da cidadania e da justiça
Nesse cenário, as universidades públicas são desafiadas a propor conhecimentos, alternativas e transformações. O professor Rodolfo Brardinelli, da Universidade Nacional de Quilmes (UNQ, Argentina), elencou compromissos que devem ser perseguidos pelas instituições, que muitas vezes refletem e reproduzem práticas sociais dominantes e discriminatórias. “A universidade é, em si, um direito humano. Ela deve repensar sua atuação e estabelecer objetivos e práticas que tenham como bandeira principal a promoção e proteção irrestrita dos direitos humanos”, defendeu. O professor argentino também sugeriu a “confluência de sujeitos e forças políticas e a constituição de espaços internos de promoção da cidadania e da justiça”.  

Marlise Matos mencionou, ainda, a importância das universidades frente ao atual contexto sanitário, econômico, social e político na América Latina. Ela propôs a construção de um projeto decolonial. “É preciso superar o caráter excludente e hegemônico da educação e assumir novos princípios de civilidade que promovam, de fato, a justiça social. A decolonialidade da universidade, em todas as suas dimensões, é um projeto insurgente e emancipatório, um desafio permanente.”  

Reflexões sobre a América Latina
Durante o evento, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida destacou a importância da Escola de Inverno para refletir sobre os direitos humanos e pensar políticas públicas para a América Latina. “Vivemos um cenário geopolítico complexo na região, em que a pandemia atinge diretamente as populações mais vulneráveis. É imprescindível, então, falarmos de direitos humanos, em busca de uma sociedade mais respeitosa e justa”, disse Sandra, que assumiu nesta semana a presidência da AUGM.

O diretor de Relações Internacionais (DRI) da UFMG, Aziz Saliba, lembrou “a participação histórica da Universidade na Associação e o compromisso da entidade com a defesa da universidade pública”.  

Pelo segundo ano, a Escola de Inverno é promovida pela UFMG e pela Cátedra de Direitos Humanos da AUGM, presidida pela pró-reitora de Extensão, Claudia Mayorga. “A Cátedra está empenhada na efetivação dos direitos humanos. Nosso objetivo é criar processos, práticas e espaços de reflexão, como os da Escola de Inverno, para o amplo compartilhamento social e a transformação da região.”

As aulas do curso são realizadas às quartas-feiras, das 17h às 19h, no canal da Proex na plataforma YouTube. Cada encontro reúne um mediador (representante da cátedra), dois docentes e um servidor técnico-administrativo. Em suas exposições, os docentes articulam teoria e prática de temas como direitos humanos e população LGBTQI+, imigração, refúgio e educação para a igualdade racial e de gênero.

Eduardo Maia | Assessoria de Comunicação da Proex