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Hospital das Clínicas reduz à metade mortes causadas por câncer de colo de útero

Tratamento com coquetel de novas drogas é um dos pioneiros na América do Sul

Desde que começou a ser adotado há cinco anos pelo coordenador do setor de Oncologia Clínica do Hospital das Clínicas, André Murad, o coquetel BIC, que reúne as drogas Bleomicina, Ifostamina e Carboplastina, reduziu em 50% o número de mortes de mulheres vítimas de câncer de colo de útero submetidas ao tratamento. A combinação dessas drogas foi desenvolvida por Murad durante a elaboração da sua dissertação de mestrado, no início da década de 90. Como resultado, surgiu um eficaz tratamento do câncer, que se inclui entre os pioneiros do seu gênero na América do Sul. 

De acordo com o oncologista, os resultados da aplicação da radioterapia e da quimioterapia antes do BIC eram insatisfatórios, pois apenas 20% a 30% das pacientes apresentavam redução do câncer. Esse baixo índice de êxito, segundo Murad, se deve ao fato de grande parte das mulheres só buscar auxílio médico quando o tumor já está bem avançado.

Com o coquetel BIC, que exige quatro aplicações para reduzir o tumor, o quadro mudou significativamente. De 1993 para cá, Murad já utilizou a quimioterapia para tratar 26 mulheres. Destas, 18 apresentaram redução do tumor, possibilitando a cirurgia. Das que foram operadas, apenas seis voltaram a desenvolver o câncer e faleceram em conseqüência da doença. As outras 12 não tiveram mais qualquer sintoma. 

Os dados mostram a eficácia do BIC em cerca de 50% das mulheres submetidas ao tratamento, o dobro da sobrevida obtida com os métodos anteriores. Segundo Murad, as drogas não fizeram efeito nas seis pacientes que voltaram a desenvolver o tumor porque o vírus HPV, responsável pelo desencadeamento do câncer, cria uma resistência natural na segunda vez em que o coquetel é utilizado. 

Doença é típica do 3º Mundo

O câncer de colo de útero é uma daquelas doenças que praticamente só ocorrem em países do Terceiro Mundo. Nesses países, a maioria das mulheres não tem o hábito de consultar o ginecologista. O professor Sérgio Augusto Triginelli, do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina, estima que surgirão este ano, apenas no Brasil, 23 mil novos casos, com previsão de 4.800 mortes. 

O câncer de colo de útero é transmitido sexualmente, se manifesta principalmente em mulheres pobres, que não se previnem e que são ou se relacionam com parceiros promíscuos. Nas nações ricas, é muito raro o surgimento desta doença pelo fato de as mulheres se prevenirem por meio de consultas médicas freqüentes e exames periódicos. 

Nos Estados Unidos, está sendo desenvolvida uma vacina contra o vírus HPV, que causa o tumor. Enquanto isso, a melhor garantia de prevenção, alerta o André Murad, continua sendo o exame "pa-panicolauo", que deve ser feito a cada dois anos assim que a mulher iniciar sua vida sexual, independente da idade. 

O professor Triginelli lembra que o ambulatório Carlos Chagas, anexo ao HC, atende gratuitamente e sem necessidade de marcação de consulta, pacientes que já diagnosticaram o tumor e precisam realizar novos exames. O ambulatório funciona às terças e quintas-feiras, das 13 às 16 horas, na Alameda Álvaro Costa, 117, 2º andar (atrás do HC).

Marco Antônio Corteleti