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O futuro do ensino médico na UFMG

Há 25 anos, a Faculdade de Medicina da UFMG implantou o mais audacioso currículo entre todas as escolas médicas brasileiras, resultado de pesquisas, análises internas e externas que culminaram com um amplo movimento de transformação do ensino médico da instituição.

 

A experiência efetivou-se com a implantação de um modelo curricular inovador e revolucionário para os padrões de ensino médico vigentes à época, realçando os seguintes pontos:

 

1) A Faculdade deveria formar profissionais com habilidades básicas para obter do indivíduo e da comunidade o reconhecimento de suas necessidades de saúde e para atendê-las sob a forma de cuidado primário, em colaboração com o sistema de saúde;

 

2) O currículo deveria ser flexível no sentido de propiciar, além das habilidades básicas obrigatórias, disciplinas optativas e eletivas, bem como o internato obrigatório rotativo com opções, de modo a atender, ainda na graduação, a individualidade vocacional do futuro médico;

 

3) A proposta teria que estar ajustada à realidade de saúde no Brasil;

 

4) O currículo deveria articular-se adequadamente não só com o ensino de pós-graduação lato sensu, mas prolongar-se sob a forma de educação permanente, desenvolvida a partir de um coerente planejamento de extensão universitária.

 

No decorrer dos últimos 20 anos, o ensino da Faculdade de Medicina teve avanços e retrocessos. O processo de desenvolvimento curricular vem sendo acompanhado e avaliado periodicamente, mas as distorções e obstáculos detectados nem sempre foram corrigidos ou superados, passando por fases de adaptação e/ou acomodação. Após avaliações e discussões sucessivas, algumas mudanças curriculares foram introduzidas em 1993, configurando a grade curricular atual, que mantém os princípios estabelecidos na proposta original.

 

Em 1998, o Colegiado de Graduação encaminhou ao Ministério da Educação proposta de diretrizes curriculares, que define o perfil do formando em Medicina como o de um profissional que tenha adquirido conhecimentos fundamentais de medicina nas áreas básicas - Clínica Médica, Cirurgia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia, Saúde Mental, Saúde Coletiva - tornando-o competente para prestar assistência médica de qualidade e para atuar na reabilitação e prevenção de doenças e na promoção e educação em saúde, dentro de princípios éticos, críticos e humanistas e apto a atuar e intervir na realidade social do país. Deve, ainda, ser capaz de continuar, de forma independente, o seu aprendizado durante a vida profissional e desenvolver trabalho em equipe.

 

Muitos estudos foram e estão sendo feitos sobre educação médica em todo o mundo. Problemas têm sido identificados, recomendações têm sido feitas, mas soluções são raramente implementadas.

 

A grande questão que se projeta para o século 21 está relacionada ao papel e às responsabilidades do futuro médico e como a escola deve prepará-lo para atuar num mundo em rápida mudança. As demandas de atualização na formação do profissional, tanto na área do conhecimento médico, quanto na do exercício profissional e de organização do sistema de saúde, não mais permitem uma proposta de ensino atrelada a conteúdos e grades curriculares estáticos. A dinâmica das mudanças sociais, científicas e políticas exige uma postura aberta, receptiva e permanentemente crítica por parte da instituição de ensino.

 

A reforma na educação médica deve incluir a redefinição do papel da escola médica em relação à sua missão de promover o bem-estar da população. O currículo deve preparar o estudante para as demandas e responsabilidades de uma nova era da medicina e da ciência. Para isso, é necessário definir claramente os conhecimentos, habilidades, valores e atitudes a serem adquiridos pelos estudantes, enfatizando o estudo independente e repensando a utilização de métodos educacionais adequados, para que os alunos sejam construtores do seu conhecimento e os professores facilitadores do processo de aprendizagem.

 

Professora do departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina

Eliane Dias Gontijo