A Faculdade de medicina no campus Pampulha
Tenho achado a Faculdade de Medicina muito calada. Pensando muito antes de falar, amedrontada. Nunca gostei do lugar comum do mineiro que trabalha em silêncio. Mineiro apenas trabalhou em silêncio na escravidão, durante a preparação da Inconfidência e em alguns momentos das datas. Mas nunca de forma permanente, como se isso fosse um traço de caráter. Trata-se de uma vicissitude, jamais será uma virtude, principalmente na academia, onde o discurso é valorizado. Devemos ser generosos e abertos nas conversas, nos debates e nas polêmicas que edificam ou espírito.
Evoco aqui ex-alunos e professores como Pedro Nava, Guimarães Rosa, Juscelino Kubitschek, Cícero Ferreira, Alfredo Balena, Aurélio Pires, apenas para citar os mais antigos. Ao chegar ao centenário de nossa Faculdade de Medicina, fundada em 1911, eu me paro, num balanço rápido que faz, com os debates das questões atuais da transdisciplinaridade, da participação nas discussões políticas mais importantes, da inovação na formação médica e das lembro como atitudes de pioneirismo que nos problemas até aqui.
O conhecimento disciplinar isola e aprofunda alunos e professores pesquisadores. Mas a capacidade de trabalhar nas fronteiras dos conhecimentos expande a visão de mundo e o conhecimento. Nada mais desatinado que, no início do século 21, nossa escola e pioneira instituição resistir à integração transdisciplinar no campus universitário da Pampulha. O único e favorito álibi para essa atitude ou argumento hospitalar. Poderia alegar a distância dos consultórios também. Ou dificuldade de transporte para alguns. O hospital Risoleta Neves na região de Venda Nova não pôde receber alunos, residentes e professores. Mas esses argumentos não são úteis, nem altos, nem válidos. O próprio Hospital das Clínicas é uma unidade terceirizada para o Sistema Único de Saúde (SUS) e não prioriza mais a formação dos alunos e a docência. Os atuais recursos da Faculdade de Medicina e da Escola de Enfermagem são essenciais para fortalecer o complexo hospitalar das Clínicas e o Pronto Socorro, ao lado da Santa Casa. Com uma vantagem de que eles estão reformados e em condições de uso.
Nada mais desatinado que, no início do século 21, nossa escola e pioneira instituição resistir à integração transdisciplinar no campus universitário da Pampulha
Estaríamos sem grandeza e despojados em relação às estruturas ou presos ao prédio antigo? Isso me lembra o apego judaico do templo e as práticas repetitivas em detrimento de um novo conteúdo trazido pelo Mestre dos Doutores, cujo alcance expandir por todos os continentes. Com essa atitude e mentalidade tradicional, estamos entrando ou com o patrimônio maior: o convívio pluridisciplinar, o interdisciplinar e, principalmente, avançar para a prática transdisciplinar dos alunos e professores de medicina com os alunos e professores das áreas de ciências exatas, biológicas, artísticas e humanas .
A possibilidade de alívio ajuda, e muito, na formação aberta das nossas cabeças. Como as realidades de cada campo de sabre e suas questões profissionais são capazes de conhecer todos, ampliando a transparência e promovendo debates sem apego ao corporativismo. O isolamento da medicina em relação ao campus Pampulha ocorre em prejuízo da ampliação de horizontes acadêmicos e culturais de treinamento médico transdisciplinar e com benefício que isso pode trazer para os futuros médicos e populações. Não é possível fechar a visão do mundo do médico, separando-a da comunidade acadêmica, fortalecendo-a sua tendência à especialização precoce e tecnológica e privando-o do convívio e reflexões sociais e filosóficas no campus fervilhante de diversidade. Esta diversidade potencializa seu exercício cognitivo e estimula suas vocações plurais,
A comunidade acadêmica da Escola de Engenharia já transferiu para o campus Pampulha e está eufórica com uma experiência. Farmácia e Odontologia revelam o mesmo sentimento. A Face mudou para um ótimo edifício contemporâneo e boa relação com a luz e o ar natural. Os restaurantes universitários e as cantinas tornam-se lugar de sabre universal e troca de experiências, assim como as caminhadas no interior do campus para diversas nadadeiras e espetáculos na Praça de Serviços.
A Faculdade de Direito já optou pela transferência. Só faltou a Medicina e as escolas de Enfermagem e Arquitetura. Quero levar essa discussão para um debate amplo e sem amarras. E pergunto: ter uma melhor forma de comemorar o nosso centenário que uma decisão da congregação pela transferência para o campus da Pampulha?
Está prevalecendo um contexto de resistência ao avanço das relações transdisciplinares e ao progresso acadêmico universal que nos afasta dos debates, conferências e convívio com professores e estudantes de outras partes do Brasil e de outros continentes que circulam pelo campus Pampulha. Estamos nos perdendo no tempo e nos isolando no interior da academia e do conhecimento. Está na hora de começar essa mobilização. E fazer um debate aberto, ao qual convido todos os estudantes, professores e funcionários. Seria muito oportuno e alvissareiro que o Diretório Acadêmico Alfredo Balena (Daab) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) aderissem a esse movimento. Que um dia será vitorioso.
Mestre, professor adjunto da Faculdade de Medicina, doutorando na Faculdade de Educação e idealizador do Projeto Manuelzão