Longa vida ao Festival

Laços com a cidade

Evento construiu sólida relação com a capital, moldando-se às transformações que ela sofreu

A vice-reitora Sandra Goulart Almeida conta que o Festival de Verão surgiu para atender ao anseio da Universidade por aprofundar sua relação com a comunidade de Belo Horizonte. "Vale lembrar que, naquela época, em 2007, o Festival de Inverno ainda era realizado em Diamantina [ele passou a ser realizado na capital mineira a partir de 2014]; eram poucas as atividades que proporcionavam a interação entre a sociedade e a Universidade no campo da cultura", disse ela, em depoimento à TV UFMG. Segundo a professora, o Festival surgiu justamente para preencher essa lacuna, estando hoje consolidado em sua função de estabelecer o elo entre a produção intelectual da Universidade e a comunidade que a sustenta.

 

Nas cinco primeiras edições, de 2007 a 2011, o Festival de Verão buscou discutir os Sentidos do conhecimento, de forma a colocar em perspectiva a dinâmica das relações que se estabelecem entre a educação e a cultura. A partir de então, as edições passaram a ser temáticas – de alguma forma, sempre direcionadas a proporcionar aos participantes uma espécie de experiência prática do conhecimento produzido na Universidade.

 

Em 2012, com o tema A folia da poesia, o objetivo era pôr em discussão o caráter de formação que a cultura tem nas sociedades contemporâneas, com foco no aspecto lúdico que perpassa ou pode perpassar esse processo. No ano seguinte, o mote foi Vadiar é preciso, o resto é improviso. A rima motivou a reflexão sobre a possibilidade de se produzir conhecimento com base na improvisação e dos restos – aquilo que, em princípio, não tem serventia ao atual modelo de sociedade positivista e utilitarista.

 

Em 2014, por sua vez, definiu-se Um sonho (in)comum de verão como tema da edição. A intenção era evidenciar uma ideia de "comunidade formada por incomuns", ou seja, uma sociedade realmente democrática, capaz de se estabelecer por meio do diálogo entre seres desiguais – os poetas, os artistas, os cientistas, os loucos –, e não por meio da uniformização do pensamento. Em foco, o conhecimento que pode advir desse diálogo entre singularidades.

 

Por fim, em 2015, um aforismo do escritor uruguaio Eduardo Galeano – O corpo é uma festa! – foi mobilizado para fomentar discussões sobre como a vivência corporal se estabelece em relação a questões como acessibilidade, mobilidade, gênero, espaço público e a relação com o outro, tudo em uma perspectiva deslocada para além da racionalidade analítica que comumente pauta a reflexão universitária.

 

Os lugares da festa

 

Nas duas primeiras edições, 2007 e 2008, o Festival de Verão foi realizado exclusivamente na Escola de Arquitetura, no bairro Funcionários. Nos dois anos seguintes, 2009 e 2010, as atividades se estenderam ao Conservatório, no Centro da capital mineira.

 

Em 2011, o evento foi transferido para o campus Pampulha com a intenção de possibilitar à comunidade externa a vivência do espaço universitário e, ao mesmo tempo, facultar aos estudantes a oportunidade de experimentar a folia em seu próprio ambiente de estudo. Em 2012, o evento foi mantido no campus, com algumas atividades realizadas no Centro Cultural.

 

A decisão de transformar o Centro Cultural em sede do Festival de Verão foi fundamental para o aprimoramento de seu diálogo com a cidade. Na primeira década do século 21, a região da Praça da Estação, onde fica o Centro Cultural, havia passado por uma série de intervenções de revitalização arquitetônica que recuperaram o seu status de cartão-postal. Paralelamente, a região foi se consolidando como lócus estratégico de intervenção política e cultural, tendo a "Praia da Estação" se transformado em sua manifestação mais expressiva. Ela surge na virada da última década para se contrapor à ingerência do poder público no uso dos espaços públicos pela população.

 

A partir de então, o Centro Cultural se consolidaria como núcleo estratégico do Festival de Verão, haja vista a sintonia entre a sua localização e as temáticas discutidas. Como desdobramento desse processo, em 2013 e 2014, as atividades do Festival passaram a ser realizadas exclusivamente lá.

 

Até 2014, o evento era realizado durante o Carnaval. A vice-reitora Sandra Goulart Almeida lembra que o Festival surgiu com esse objetivo: oferecer uma alternativa cultural para o período, já que não havia uma programação consistente em Belo Horizonte naquela época do ano. "Quem ficava em Belo Horizonte acabava indo ao cinema ou se reunindo com amigos", lembra a vice-reitora. Nesse sentido, diz ela, "o Festival de Verão surge também como um espaço de encontro nessa época do ano. O evento cumpriu o papel de preencher esse espaço".

 

Contudo, notou-se em 2013 e em 2014 um atípico crescimento da festa de Carnaval em Belo Horizonte, em razão da mobilização popular em prol do resgate dos ambientes da cidade como espaços de fato públicos, destinados a um uso mais livre pela população. Segundo levantamento da Belotur, a cidade recebeu, em 2013, cerca de 500 mil foliões, número que dobrou no ano seguinte. A nova realidade indicou que seria benéfico ao Festival de Verão se deslocar para a semana anterior ao Carnaval, de forma a evitar a sua concorrência e, ao mesmo tempo, possibilitar a participação dos interessados nos dois eventos. Assim, a partir de 2015, o evento passou a ser realizado na semana que antecede a folia, tornando-se uma espécie de aquecimento.

 

Em 2014, o Festival já havia sido novamente estendido ao Conservatório, de forma a irradiar suas atividades pela cidade. Com isso, em 2015, pôde-se alcançar o formato considerado ideal: um Festival presente nos três principais equipamentos culturais que a Universidade mantém em Belo Horizonte – Centro Cultural, Conservatório e Espaço do Conhecimento –, disseminando-se ocasionalmente por outros espaços, como o Observatório Astronômico Frei Rosário e o campus Saúde.