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Quinta edição da Semana de Saúde Mental promoverá discussões sobre a articulação da UFMG com a política e serviços especializados na área

Problemas relativos à saúde mental, que resultam em afastamentos de servidores técnico-administrativos e professores ou transtornos depressivos em estudantes, são comuns dentro das universidades de diversos países. Estudos internacionais, a propósito, já identificaram que os transtornos mentais têm mais probabilidade de surgir pela primeira vez durante o período universitário, o que suscita as seguintes questões: o que a instituição de ensino tem a ver com isso? Como tratar dessa temática em uma organização como a universidade?

Respostas a esses desafios serão construídas na 5ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social, até sexta-feira, 19, em vários espaços das unidades da UFMG. A iniciativa é da Rede Saúde Mental, vinculada à ­Pró-reitoria de Extensão e integrada por grupos, laboratórios e núcleos de extensão, ensino e pesquisa em saúde mental, setores de serviços com interface com a área e ­parceiros externos. 

Desfile reúne milhares de defesores da causa antimanicomial em Belo Horizonte
Desfile reúne milhares de defesores da causa antimanicomial em Belo Horizonte Divulgação/Espaço do Conhecimento UFMG

De acordo com a pró-reitora adjunta de Extensão, Claudia Mayorga, o tema da saúde mental normalmente é circunscrito à vida privada dos sujeitos. “Se, por exemplo, alguém precisa trancar o curso ou pedir afastamento do trabalho devido a questões de saúde mental, isso geralmente é compreendido como um problema do indivíduo com sua família, médico e psicólogo. Não é função da Universidade fazer atendimentos, mas é fundamental que ela acolha as pessoas que necessitam de apoio e se articule com as políticas públicas de saúde mental do município e do estado”, afirma. Além disso, prossegue, “é importante investir em ações que colaborem para o fortalecimento de uma universidade acolhedora, flexível, inclusiva e solidária”.  

Uma das iniciativas para essa articulação, segundo Mayorga, é o Conversatório: cidade e universidade em conexão – construindo estratégias integradas de atenção à saúde mental. Organizada pelo grupo de trabalho Serviços, da Rede Saúde Mental, a atividade será realizada no dia 19, às 9h, no auditório da Reitoria. Nela, serão apresentados os serviços da UFMG que mantêm interface com a saúde mental. 

Mayorga também chama a atenção para a exposição Follia, a loucura que sua normalidade nunca viu. Planejada pela turma do 6º período do curso de Museologia da UFMG, a ação aborda principalmente a luta antimanicomial, que completará 30 anos no dia 18 de maio. A mostra, que ficará aberta à visitação no mezanino do prédio da Reitoria, até 9 de junho, propõe uma narrativa que aborda loucura, arte, literatura, história e memória. Outra exposição alusiva à luta

antimanicomial pode ser visitada no Espaço do Conhecimento, na Praça da Liberdade. Ela reúne um conjunto de cartazes do desfile que leva, anualmente, às ruas de Belo Horizonte, milhares de pessoas com sofrimento mental e defensores da causa, sob a batuta da Escola de Samba Liberdade Ainda Que Tan Tan.

A mesa de abertura A arte e a ética do cuidado em liberdade, marcada para o dia 16, a partir das 9h, no auditório da Reitoria, contará com a presença de Lula Wanderlei, artista e terapeuta que colaborou com a psiquiatra Nise da Silveira na reformulação do Museu de Imagens do Inconsciente e ajudou a criar a sala Lygia Clark no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Também participam Gina Ferreira, pesquisadora do Museu do Inconsciente, e Thereza Portes, artista plástica e professora da Escola Guignard (Uemg). 

Interlocução

Segundo a professora Stella Goulart, que presidiu a Comissão de Saúde Mental (Cisme), haverá, durante a abertura, uma homenagem à psiquiatra Nise da Silveira – referência brasileira no tratamento humanizado de pessoas com sofrimento mental – e a apresentação de relatórios da comissão. “Não há outra universidade no Brasil que se dedique ao tema como a nossa. Esse evento ajuda a ampliar nossas relações nacionais e internacionais”, afirma.

Uma das principais interlocutoras da UFMG nessa área é a Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Minas Gerais (Asussam-MG). Seu presidente, Paulo Reis Braga, vai discutir, em mesas nos dias 16 e 17, o ensino de psicopatologia e a importância do compromisso com os direitos humanos e a inclusão social da loucura. “A Semana é espaço para reforçar a reforma psiquiátrica dentro da UFMG e

desestigmatizar questões relacionadas ao sofrimento mental. Pesquisas recentes identificaram que o sofrimento mental é a maior causa do trancamento de matrículas na UFMG. No entanto, existe uma carência de discussões sobre o tema”, defende.

A professora Teresa Cristina da Silva, da Escola de Enfermagem da UFMG, concorda: “Além de consolidar a discussão sobre o tema, a Semana chama atenção para a experiência cotidiana de todos os que compõem nossa comunidade”.

A estudante Laura Fusaro, integrante da Assussam e do Coletivo Loucura Livre e representante dos alunos da UFMG que sofrem problemas mentais, também valoriza as discussões propostas pelo evento. “O Brasil é um dos poucos países que abordam esse tema com profundidade. Somos, sem dúvida, protagonistas da produção de conhecimento na área”, afirma.

Algumas discussões do evento poderão ser aproveitadas para efeito de integralização de créditos. O estudante de graduação interessado no certificado da atividade complementar deverá se inscrever por meio do link https://aplicativos.ufmg.br/conhecimento/atividades/. A programação está disponível em quintasemanaufmg.wordpress.com.

*Assessora de Comunicação e bolsista de Jornalismo da Pró-reitoria de Extensão

Zirlene Lemos* e Helvio Caldeira**