Arte para ser ouvida
Exposição no Espaço do Conhecimento conta a história da educação de surdos em Minas Gerais
Lápis, canetinhas, tesouras, colas e todo um arsenal criativo são espalhados pelas pequenas e velozes mãos. Entretanto, o motivo de tanta euforia era outro: fora das salas de aula, misturaram-se todos eles, alunos grandes e pequenos, uns tímidos, outros mais desenvoltos. Os olhos curiosos miravam Lucas Ramon Alves, que comandava a atividade especial: uma oficina de cartuns, na Escola Estadual Francisco Sales, localizada no bairro Barro Preto, em Belo Horizonte. Em meio a seres fantásticos e super-heróis, as projeções na parede ainda exibiam as peripécias de Tikinho, que também é o apelido do artista. Naquele dia de setembro, Lucas reencontrou-se com ele mesmo, o menino surdo que descobriu uma nova forma de se comunicar com o mundo.
O resultado da oficina pode ser visto na exposição Cartoon em Libras: a história da educação dos surdos em Minas Gerais, em cartaz até 22 de outubro na Cafeteria do Espaço do Conhecimento UFMG. Os desenhos estão expostos ao lado de fotografias que registraram o processo de criação dos alunos e dos cartuns de Lucas Ramon.
A mostra, concebida para comemorar o Dia Nacional dos Surdos (26 de setembro), registra os três momentos da educação e linguagem pelos surdos: a oralidade, em que havia a proibição do uso das mãos para a comunicação, o bimodalismo – marcado pela transição entre a oralidade e o uso dos sinais como forma de expressão – e a libertação e uso da língua de sinais como principal meio de comunicação e integração social de pessoas surdas.
A oficina realizada na Estadual Francisco Sales, uma escola para surdos, comemorou o Setembro Azul, mês em que se celebram a luta e a resistência dos movimentos de surdos em todo o país. A atividade é fruto do projeto Contando a história dos surdos, desenvolvido por Lucas em parceria com a professora Marina Evaristo dos Santos. O objetivo é resgatar, por meio de atividades lúdicas e interativas, a história da educação dos surdos.
Todas as cores
Também no dia 26 de setembro, a fachada digital do museu iluminou de azul a Praça da Liberdade em homenagem ao movimento. A cor, que já foi utilizada como meio de repressão e violência às pessoas com deficiência, foi reapropriada como símbolo de luta e resistência. No regime nazista, os surdos eram marcados com uma faixa azul no braço e levados para os campos de concentração. Nove décadas depois, a cor relembra essa história e marca a luta dos surdos de todo o mundo, que conquistaram importantes espaços e continuam lutando por mais representação, oportunidades e respeito.
Espaço privilegiado de divulgação e produção científica, artística e cultural, a fachada digital do Espaço do Conhecimento UFMG mantém diálogo permanente com a cidade, como destaca a professora Ana Flávia Machado, diretora científico-cultural do museu. “A fachada não só é utilizada para exibir vídeos de conteúdo científico e artístico, mas também tem sido iluminada com cores e bandeiras para prestar homenagens e chamar atenção para causas importantes. Ela já foi iluminada de rosa, para alertar sobre o câncer de mama, de amarelo pela mobilidade de trânsito, com a bandeira do orgulho LGBT e, agora, integra a programação do Setembro Azul com o objetivo de lembrar a população que o movimento dos surdos merece todo o nosso respeito e atenção”, diz Ana Flávia.
A fachada também ganhou tons de verde para celebrar o Dia de Doação de Órgãos, comemorado em 27 de setembro.