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Visitantes ilustres

UFMG reativa programa que acolhe artistas reconhecidos em diversas áreas para temporadas de intercâmbio em pesquisa

Sonia Mota (de preto, em primeiro plano) e os primeiros alunos da licenciatura em Dança: oportunidade  de registrar explicações teóricas sobre as aulas
Sonia Mota (de preto, em primeiro plano) e os primeiros alunos da licenciatura em Dança: oportunidade de registrar explicações teóricas sobre as aulas Arquivo: EBA

A UFMG voltará a receber escritores, músicos, artistas visuais, do teatro e da dança, para temporadas de pesquisa com alunos de graduação e pós-graduação. A Pró-reitoria de Pesquisa lançou edital do Programa Institucional Artista Visitante (Edital PRPq 03/2017), que recebe projetos até 30 de novembro. Os bolsistas deverão ministrar seminários, palestras, cursos de curta duração e oficinas.

Os visitantes permanecerão na Universidade por períodos que podem variar de 15 dias a quatro meses, prorrogáveis uma vez, no máximo, e em situação excepcional. As propostas serão analisadas pela Câmara de Pesquisa à medida que forem apresentadas e, se aprovadas, poderão ser logo postas em prática. O edital prevê bolsas de R$ 100 por dia, para carga horária de 20 horas semanais, e R$ 200, no caso de 40 horas. O orçamento total é de R$ 120 mil. 

“Ao retomar e reestruturar o programa, atendemos a uma demanda forte da área das humanidades e alinhamos nossas ações em pesquisa com a ênfase que a Universidade tem dado à cultura, parte integrante da produção e do compartilhamento do conhecimento. Este é o momento propício para voltarmos a receber artistas para projetos de pesquisa”, afirma a vice-reitora Sandra Goulart Almeida.

O pró-reitor de Pesquisa, Ado Jorio de Vasconcelos, chama a atenção para o fato de que, diferentemente da maioria das áreas acadêmicas, que recebem pesquisadores com currículo medido também em títulos, áreas como as de letras e artes visuais sentem falta de contato com artistas renomados de fora da academia e não contam com os canais habituais. “Exigências para apoio ao intercâmbio nas ciências biológicas e exatas, por exemplo, não se aplicam às áreas artísticas. Por isso, um programa como esse é tão importante. A troca com artistas engrandece a pesquisa em artes”, explica Ado Jorio.

Implantado em 1999, o programa trouxe os primeiros artistas em 2002. Até 2013, 17 artistas passaram pelas escolas de Belas Artes, Música e Arquitetura e pelas faculdades de Educação e de Letras – nomes como o músico Toninho Horta, a coreógrafa Sonia Mota e o artista visual Alexandrino DuCarmo. 

Ações consolidadas e potencial

Uma das maiores defensoras da retomada do Programa Artista Visitante, a professora da graduação em Teatro Bya Braga, diretora da Escola de Belas Artes na gestão 2013-2016, confirma que a pesquisa em artes enfrenta dificuldades na concorrência em editais de fomento com o grande campo de conhecimento das Humanidades. “Podemos e devemos fazer pesquisa em artes, diretamente, e não somente sobre artes. Diversas graduações e pós-graduações nesse campo revelam potencial importante de pesquisa, com ações consolidadas, mesmo de inovação”, afirma.

“Podemos e devemos fazer pesquisa em artes, diretamente, e não somente sobre artes"

Bya Braga defende que a UFMG receba artistas com formações e investigações práticas alternativas que contribuam para o fortalecimento das pesquisas institucionais em arte, relacionadas com o ensino e a extensão. “Um profissional com experiências de investigação em arte fora da academia pode contribuir para revisão, atualização e inovação do conhecimento aqui instalado”, acrescenta a professora, que também integra o Programa de Pós-graduação em Artes.

Também professor da Belas Artes e outro entusiasta do programa, Arnaldo Alvarenga foi autor do projeto que trouxe à UFMG a bailarina e coreógrafa Sonia Mota, que passou um ano na Escola à época da implantação da licenciatura em Dança. Ele conta que Sonia trouxe para as salas de aula pesquisa que desenvolvia fora do ambiente acadêmico. “Foi uma excelente oportunidade de aprofundamento, tanto para ela quanto para os alunos, dos pontos de vista coreográfico e didático. Foi um luxo o contato direto com uma das artistas mais originais de sua área no Brasil”, diz Alvarenga, que é vinculado aos cursos de Teatro e Dança e à pós-graduação em Artes.

Radicada há anos na Alemanha, Sonia Mota diz guardar boas lembranças da temporada na UFMG e enfatiza que essa experiência traz benefícios para os estudantes e para o artista. “Nada melhor para eles do que aprender algo direto com o artista. E, no meu caso, foi ótimo ter a chance de sistematizar minhas aulas, que até então aconteciam sem relatórios e sem explicações teóricas do que, em princípio, é quase impossível explicar com lógica acadêmica, aquilo que na maioria das vezes nem o próprio artista sabe dizer. Eu tento fazer isso até hoje, escrevendo sobre meu método.”

Arnaldo Alvarenga ressalta que os modos de fazer e os padrões formais da pesquisa em artes, embora diferentes daqueles adotados pelas áreas tradicionais, são complementares, não exclusivos. “Não é uma relação sem conflitos, é preciso disponibilidade para eliminar preconceitos e afinar a linguagem, fazer adaptações a perguntas e olhares distintos”, explica. “Mas é um grande aprendizado para todos.”

O edital do Programa Artista Visitante está disponível neste link. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (31) 3409-4037.

Itamar Rigueira Jr