Rumo ao terceiro milhar

Verdinho, agora, sim!

Brincando, crianças descobrem as delícias da alimentação saudável em creche da capital

“Verdinho no prato, não! Verdinho, põe só um pouquinho, que nem formiguinha”. Não faz muito tempo, esses eram termos frequentes de uma exaustiva negociação travada entre as crianças da Creche Padre Eustáquio, na região Noroeste de Belo Horizonte, e as cantineiras da instituição. Essa realidade começou a mudar com o suporte do projeto de extensão Brincando e aprendendo com os alimentos, coordenado pela professora Márcia Regina Pereira Monteiro, do ­Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG.

A iniciativa é desenvolvida desde 2015 com crianças de três a cinco anos matriculadas no Maternal III e no primeiro e segundo períodos da creche. Lá, elas exploram os sentidos – tato, olfato, visão e paladar – e constroem uma nova percepção sobre os alimentos, incluindo os até então execrados “verdinhos”. “Elas participam de oficinas de culinária, que as ensinam a valorizar a alimentação saudável, a origem dos alimentos e seu preparo. São atividades lúdicas que destacam as características nutricionais do alimento por meio do manuseio e observação de cores, formas e sabores diversos”, explica Priscila Caroline Rosa Leite, nutri­cionista da creche.

A equipe envolvida no projeto busca estimular as famílias a desenvolver e compartilhar hábitos alimentares saudáveis. A criançada também aprende sobre higienização das mãos, usam toucas e desenvolvem a coordenação motora, pois a maioria das preparações requer manuseio apurado do alimento – as crianças precisam sentir sua textura antes de passar para o processo de cocção. 

O projeto é desenvolvido sob a supervisão de Priscila Leite, juntamente com o professor ou professora responsável pela turma, e executado pelas estudantes de graduação Letícia Andrade Maciel Rocha, do 9º período de Nutrição, que atua nele há dois anos, e por Lavínia de Fátima Baldim, do 6° período, voluntária há seis meses.

Mistério e cores

Além das oficinas culinárias, são desenvolvidas outras atividades, como a Caixa misteriosa, um objeto de papelão coberto com papel colorido e com uma abertura para que a criança tente, pelo tato, adivinhar qual é o alimento, explorando forma, consistência, peso, temperatura e aspereza. Outra atração é a oficina Cinco cores. Em um prato gigante são destacadas as cores verde, branco, marrom, vermelho e laranja associadas a grande parte dos grupos alimentares. A brincadeira explora a visão e a importância de um prato colorido para a alimentação saudável. Os olhos dos pequenos brilham diante da Horta suspensa, na qual aprendem a plantar em garrafas PET. A atividade enfatiza a importância da sustentabilidade, resgata a cultura alimentar e o consumo de alimentos saudáveis. 

Crianças em atividade do projeto: jeito lúdico de conhecer os benefícios dos alimentos
Crianças em atividade do projeto: jeito lúdico de conhecer os benefícios dos alimentos Josué Gomes/Proex/UFMG

Todas as atividades são incorporadas à rotina pedagógica da creche, envolvem vários saberes e potencializam o aprendizado. “O preparo de uma receita favorece o desenvolvimento de conceitos ligados à matemática (medidas), à língua portuguesa (verbalização e leitura das receitas) e às demais ciências. Sem falar do cuidado com a natureza, que leva a criança a pensar: ‘Eu planto, eu cuido, eu colho e vou comer’”, diz Priscila Leite.

Formação acadêmica

O trabalho na creche é valorizado pela bolsista Letícia Rocha, que identifica ganhos em sua formação acadêmica. “Há uma interação maior com o público com o qual trabalharemos no futuro. Somos desafiados a buscar mais conhecimento e a desenvolver uma atuação mais humanizada.”

Os principais interessados também aprovam a iniciativa. Do alto de seus cinco anos, Gabriel Martins dos Santos fez um relato das atividades desenvolvidas durante as oficinas. “Aprendi a plantar e a fazer ‘danoninho’ e iogurte.” Beatriz Braga Monteiro não se esquece do preparo do biscoito de limão. “A gente até levou pra casa”, contou. A pequena Yasmim Cardoso elogiou o resultado da Maria-mole saudável que ela própria ajudou a preparar. “Eu não conhecia. Foi divertido e ficou muito gostosa. Até repeti”, disse.

A creche é mantida pela Igreja Padre Eustáquio, com apoio da Prefeitura de Belo Horizonte. Localizada no bairro de mesmo nome, atende 180 crianças de 1 a 5 anos, que lá permanecem em período integral. Cinco refeições são oferecidas diariamente: café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde e jantar. 

Zirlene Lemos, jornalista da Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão