Web e redes sociais

Editorial

Há 14 anos, um dos pioneiros da internet no Brasil, o gaúcho Bob Wollheim, vaticinou: a internet não é uma rede de computadores, e sim uma rede mundial de pessoas. Uma profecia feita muito antes da popularização de Orkut, Twitter, Facebook, YouTube e tantos outros espaços de relacionamento cibernético que chamamos simplesmente de redes sociais. Esse fenômeno novíssimo, que fascina a sociedade contemporânea e desafia a compreensão de pesquisadores das áreas de comunicação, ciência da informação, computação, sociologia, entre outras, é o tema da 18ª edição de DIVERSA.  

O desafio de retratar as redes sociais foi proposto e aceito por um grupo de alunos de jornalismo da Fafich, sob a coordenação dos professores Elton Antunes e Maurício Guilherme Silva Júnior. Ninguém melhor do que uma equipe de jovens estudiosos da comunicação para mergulhar em um tema umbilicalmente ligado ao estilo de vida da nova geração. Outro grupo de jovens – este da Escola de Belas-Artes – emprestou seu talento à produção das ilustrações aqui publicadas, sob a orientação das professoras Conceição Bicalho e Maria do Céu Diel, e participação dos professores Antonio Milton Signorini e Angélica Beatriz Castro Guimarães.

Entrevistas, artigos e matérias aqui publicados tentam lançar um pouco de luz sobre um assunto ainda virgem de investigações e reflexões da academia. O panorama que traçamos é desprentensioso e incompleto, mas reúne elementos que nos levam a acreditar que o mundo que se conforma neste início de século 21 sob a égide da internet é, de fato, bem distinto daquele que deixamos no século passado. 

Uma breve passada pelos temas abordados nesta edição reforçam tal impressão. É o caso da onda fake, marcada pela profusão de perfis falsos nas redes sociais que subvertem a noção convencional de identidade, ou o prazer que as pessoas têm de se exporem – até o limite que lhes convêm, claro – na grande rede.

Relações antigas também são afetadas pelo fenômeno das redes. Como a interface médico--paciente (Doctor Google), impactada pelo surgimento de um novo personagem, a própria internet, com seus diagnósticos apressados, ou a até então imutável dicotomia escritor-leitor (A era da não literatura), agora redimensionada pelo Twitter, o microbolog de 140 caracteres que embaralha e confunde papéis.

As redes ampliam a circulação das informações, mas também os erros (O dia em que o Twitter matou Johnny Depp), fenômeno que remete ao velho ‘telefone sem fio’, com a diferença que suas implicações são muitas mais profundas que a  ingênua brincadeira que divertiu várias gerações.

As redes podem muito, mas não podem tudo. Um exemplo desse limite fica evidente na matéria Mobilização na ponta dos dedos, que discute até que ponto a internet pode ser um espaço de ampliação da participação política. Quem põe o dedo na ferida é o cientista político Leonardo Avritzer: “Embora rompa com o monopólio da informação, a internet não rompeu com a desigualdade econômica”. 

Por outro lado, não há como negar que a internet mudou a lógica de produção de informações, em especial as de caráter jornalístico, como escreve o jornalista Luis Nassif (Redes sociais, mudanças na mídia e no jornalismo), titular de um dos blogs mais importantes do país. Segundo ele, a internet “marcou o início do fim do jornalismo, pelo menos na forma como o que conhecemos desde o século 19”. 

Os tentáculos da web também alcançam o ambiente científico (Ciência na rede), hoje muito mais colaborativo graças às facilidades de comunicação. Um típico caso de criatura que, ainda que não se sobreponha ao criador, ajuda a modificar a sua face.

Boa leitura.