Institucional

FaE é portadora de muitos ‘brasis’ que dialogam entre si, diz nova diretora

Professores Daisy Moreira Cunha e Wagner Ahmad Auarek vão comandar a Faculdade de Educação nos próximos quatro anos

Professora Daisy Cunha assina o termo de posse: Fae está preparada para enfrentar o desafio da integração curricular
Daisy Cunha assina o termo de posse: '"ethos que estrutura nossa identidade"
Foca Lisboa / UFMG

Empossada na noite da última sexta-feira, dia 4, no cargo de diretora da Faculdade de Educação, a professora Daisy Moreira Cunha comprometeu-se a desenvolver uma gestão ancorada em programa de ação política formulado por meio do diálogo com vários setores da Faculdade. “Esse programa representa uma parceria que nos unirá nessa jornada rumo ao fortalecimento dos espaços, das instâncias, sempre no sentido da construção do comum, princípio que deve orientar a gestão da coisa pública”, afirmou ela.

Daisy Cunha e o professor Wagner Ahmad Auarek, novo vice-diretor, vão orientar os rumos da Unidade nos próximos quatro anos. Eles substituem os professores Juliane Corrêa e João Valdir Alves de Souza, diretora e vice na gestão 2014-2018. A transmissão de cargo foi realizada no Auditório Neidson Rodrigues com presença da reitora Sandra Goulart Almeida, do vice-reitor Alessandro Fernandes Moreira e de vários dirigentes de unidades e da Administração Central.

Em seu pronunciamento, escrito a quatro mãos com o professor Wagner Auarek, Daisy Cunha enalteceu a densidade cultural da unidade que administrará até 2022, uma diversidade que ela experimentou já no início de sua trajetória na instituição, em 1992, quando ingressou no mestrado. “Foi um choque cultural encontrar tanta gente envolvida em tantas lutas emancipatórias, algumas das quais não podia sequer imaginar, nos mais diversos rincões desse país", afirmou a nova diretora.

Daisy destacou o lastro local, regional, nacional e internacional da Faculdade de Educação – tanto em razão dos eventos que promove quanto da participação de professores da Unidade em eventos realizados em várias partes do mundo. “Estive recentemente em um centro de pesquisa em Comores, na África do Leste. Wagner acaba de voltar de Portugal, da Universidade do Minho. Vanessa [Sena] Tomaz chega da Finlândia, onde interagiu com o grupo de pesquisa dirigido pelo professor Engestron e só trocou as malas para pegar a estrada com o Marcos, motorista, para se encontrar com os professores indígenas xakriabás em São João das Missões, no Norte de Minas, ou nas aldeias pataxós, no extremo sul da Bahia. A FaE vai a muitos lugares, porta muitos ‘brasis’ que dialogam entre si”, disse a professora.

Daisy Cunha: densidade cultural
Daisy Cunha: densidade cultural Foca Lisboa / UFMG

A capacidade de desenvolver atividades com alto nível de integração também foi destacada pela nova diretora. Como exemplo, ela citou um seminário de estágio da Formação Intercultural de Educadores Indígenas (Fiei), realizado na última quarta-feira, 2 de maio, quando pessoas de várias etnias indígenas entoaram cantos, portaram vestimentas e adornos e tocaram seus instrumentos musicais. 

“Naquela atividade, pudemos entrever o que é a FaE, aos 50 anos. Estavam ali educadores indígenas de várias etnias, alunos da graduação (pedagogia e licenciaturas), mestrandos, doutorandos e professores de várias linhas de pesquisa. Todos para ouvir uma exposição sobre a escassez de água na aldeia Brejo Mata Fome, no Norte de Minas", enumerou. E prosseguiu: "Há uma riqueza no cotidiano que aflora sistematicamente no lastro de nossas atividades de ensino, extensão e pesquisa. É assim que fazemos a FaE, cultivando este ethos que encontrei quando cheguei aqui em 1992 e que nos atravessa, estruturando nossa identidade".

Intempéries do contexto
Daisy Cunha também fez uma análise do que chamou de “intempéries do contexto”. “Em tempos temerosos, sombrios, sabemos que as perspectivas não são boas”, disse ela, referindo-se  à redução dos investimentos do Ministério da Educação em projetos de ensino, pesquisa e extensão, como o próprio Fiei e a Licenciatura no Campo (Lecam).

Ela também citou outras dificuldades e desafios – como a renovação de mais de 60% do quadro docente e as iminentes aposentadorias de servidores técnico-administrativos – e traçou um panorama em números da Faculdade de Educação, que reúne, por exemplo, quatro cursos de graduação, recebe alunos de 14 licenciaturas da UFMG e abriga 578 estudantes do curso de Pedagogia, 148 da formação de educadores indígenas e 121 da licenciatura do campo.

A nova diretora lembrou que o atual contexto, “marcado pela penúria de recursos materiais e pelo ataque descarado aos direitos sociais e humanos”, vai exigir “diálogo e cultivo de saberes e valores que são nossos, nos próximos quatro anos”. E em sintonia com essa capacidade de absorver outros saberes, parafraseou uma educadora xacriabá: “Se nós temos futuro, é porque temos projetos”. Daisy Cunha encerrou seu pronunciamento agradecendo a confiança da comunidade da FaE e à gestão anterior pela transição proporcionada. “Desejamos fazer o nosso melhor no próximo quadriênio”, prometeu.

Juliane Corrêa: escolha
Juliane Corrêa: experiência preciosaFoca Lisboa / UFMG

Em seu discurso de despedida da direção da FaE, a professora Juliane Corrêa se disse emocionada. “Estar na direção da FaE na gestão 2014-2018 não foi uma imposição, foi uma escolha. Foi uma experiência preciosa”, garantiu. Ela agradeceu à comunidade da FaE, às gestões anterior e atual da Reitoria e desejou lucidez à nova gestão, à comunidade e à própria Administração da UFMG, que também está em seu início, para “não perder a oportunidade preciosa de escolher como querem ocupar essa instituição, com quais qualidades e em que tempos e espaços”.

Melhores traços
A cerimônia foi encerrada pela reitora Sandra Goulart, que elogiou o trabalho desenvolvido pelos professores Juliane e João Valdir à frente da FaE nos últimos quatro anos. “Reconhecemos em vocês os melhores traços da tradição de gestão da Universidade: habilidade no trato de tantas questões difíceis que se apresentaram ao longo do período, espírito de cooperação e flexibilidade para ajudar a formular soluções para dilemas de dimensão institucional – tudo isso temperado com a reflexão crítica que se traduziu no necessário aprofundamento do debate de questões relevantes não só para a FaE, mas também para toda a UFMG", detalhou.

Sandra também desejou êxito ao mandato dos professores Daisy e Vagner. “Que sejam momentos instigantes e inspiradores para todos nós, apesar dos grandes desafios que teremos pela frente. Juntos, seremos sempre mais fortes, mais bem preparados para a incansável luta pela universidade pública, de qualidade e de referência para o nosso país e de relevância para a nossa sociedade”.

A reitora defendeu a necessidade de resistir ao que identifica como um processo de desmonte sofrido pela universidade brasileira. “Trata-se de uma desconstrução que opera nos campos material – via estrangulamento pelo custeio – e simbólico, que tenta minar o apoio social de que goza a universidade pública no Brasil", analisou, destacando o papel dos dirigentes eleitos nessa empreitada.  “Eles devem abraçar o desafio do seu tempo – seja ele qual for – dando voz à inspiração de nossa comunidade, que quer condições melhores de trabalho, quer expandir o atendimento às demandas da sociedade, quer fazer o melhor, mas, sobretudo, não abre mão da autonomia, condição insubstituível para que a nossa missão faça sentido”.

Sandra Goulart Almeida: novos projetos em gestação
Sandra Goulart Almeida: novos projetos em gestação Foca Lisboa / UFMG

Orgulho
Apesar das dificuldades e do cenário de incertezas, a reitora vê a UFMG em um momento de transformação, que “nos enche de orgulho”: “Novos projetos não param de ser gestados, trazendo questões para a ordem do dia como a formulação de uma proposta integrada de internacionalização da pós-graduação, a expressão da flexibilidade dos cursos de graduação, a transdisciplinaridade na pesquisa e a inserção da extensão como âncora da produção e difusão de conhecimento socialmente referenciado”.

Dirigindo-se aos novos gestores da FaE, Sandra Goulart Almeida destacou a convergência da agenda geral da UFMG com a agenda específica da FaE. “A própria trajetória institucional da Faculdade de Educação constituiu a sua história e a sua prática a partir de uma noção de centralidade da inclusão social como questão inseparável do processo educacional. Isso coloca a FaE em uma posição especial para formular abordagens de ensino e aprendizagem na UFMG, que se apresentam à nossa instituição neste momento”, disse a reitora, antes de citar contribuições recentes da Unidade para a construção do projeto acadêmico da UFMG, como a criação das formações transversais. “Nelas, a FaE projeta a sua vocação para a viabilização de percursos acadêmicos libertários e a formação de agentes de transformação”, afirmou a reitora.

Trajetórias acadêmicas
Daisy Moreira Cunha é graduada em Pedagogia pelo Instituto de Educação de Minas Gerais, é mestre em Educação pela UFMG e doutora em Filosofia (Epistemologia e História da Filosofia) pela Aix-Marseille Université (França). Professora associada da UFMG, ela integra a linha de pesquisa Política, Trabalho e Formação Humana do Programa de Pós-graduação em Educação da UFMG.

Wagner Ahmad Auarek é graduado em Matemática pelo Centro Universitário de Belo Horizonte (Unibh), é mestre e doutor em Educação pela UFMG. Professor adjunto da FaE, ele integra o Grupo de Pesquisa sobre Condição e Formação Docente (Prodoc).  

Público acompanhou cerimônia no Auditório Neidson Rodrigues
Público acompanhou a cerimônia no Auditório Neidson Rodrigues Foca Lisboa / UFMG