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Após acusações de racismo, livro infantil é retirado de circulação e gera debate

'Abecê da Liberdade' foi denunciado por trechos como o que retrata crianças negras brincando em um navio negreiro, enquanto eram levadas para serem escravizadas

Depois das discussões levantadas, a editora assumiu o erro nas redes sociais e bloqueou as vendas do título.
Depois das discussões levantadas, a editora assumiu o erro nas redes sociais e bloqueou as vendas do título. Companhia das Letrinhas / Divulgação

A Companhia das Letrinhas, selo infantil da editora Companhia das Letras, retirou de circulação o livro Abecê da Liberdade, após uma enxurrada de críticas nas redes sociais por parte de leitores e intelectuais, que apontaram a obra infantil como racista. O texto ficcionaliza a história do escritor Luíz Gama em um formato biográfico, desde a vinda de sua mãe ao Brasil como escrava até a sua transformação em pensador abolicionista.

As críticas surgiram por denúncias do livro naturalizar a violência da escravidão, ilustrando, por exemplo, crianças negras no porão de um navio negreiro pulando corda com correntes e brincando de escravos de Jó. Originalmente, o livro foi publicado em 2015, pelo selo Alfaguara, da editora Objetiva, e em 2021 foi reimpresso pela Companhia das Letrinhas, sem revisão ou edição.

Em entrevista ao programa Universo Literário dessa quarta-feira, 6, a escritora Cidinha da Silva, mineira de Belo Horizonte, radicada em São Paulo desde os anos 90, autora de diversos livros, entre eles o premiado Um Exu em Nova York, comentou sobre o caso e o racismo no mercado editorial. Segundo a escritora, a problemática se agrava por se tratar de um livro direcionado ao público infantil. “São pessoas em formação, que ainda não têm ainda o crivo crítico aguçado que as pessoas adultas já desenvolveram. Então, elas estão mais expostas. Causa espécie, também, que muitas famílias que compraram esse livro não tenham se manifestado antes. Isso demonstra o quanto o racismo está arraigado entre nós e o quanto as práticas discriminatórias são permitidas, assimiladas e não se tem interesse de desconstruí-las", argumentou.

Além disso, a escritora externou esperar que casos como esse não se repitam, pois o livro em questão é inaceitável. Segundo comentou, a editora afirmou que seu catálogo está passando por revisão. A entrevistada considerou lamentável ter sido necessário um episódio como esse para que fosse feita a dita revisão, que deveria ser um procedimento já adotado. Cidinha da Silva destacou que a retirada da obra de circulação demonstra que a pressão popular funciona, que ela pode dar resultado, mesmo diante de grupos editoriais poderosos.

Ouça a entrevista completa no SoundCloud.

Produção: Alexandre Miranda e Flora Quaresma, sob orientação de Alessandra Dantas e Hugo Rafael
Publicação: Carlos Ortega, sob orientação de Alessandra Dantas