Aumento do número de casos de coronavírus não significa ineficácia do isolamento
Especialistas explicam por que resultados do isolamento parecem invisíveis e afirmam que medida tem sim salvado vidas
Afinal, quando as medidas de distanciamento social começam a fazer efeito? Estamos conseguindo de fato achatar a curva da Covid-19, doença provocada pelo coronavírus? Com medidas de distanciamento social estabelecidas há mais de um mês em cidades como Belo Horizonte, a ansiedade que leva as pessoas a fazerem questionamentos como esses é natural. E ela aumenta diante das estatísticas que mostram que o número de casos e de mortes em decorrência do vírus continua crescendo a cada dia. Mas isso não quer dizer que o esforço das pessoas ficarem em casa está sendo inútil. Especialistas ouvidos pela UFMG Educativa garantem que, sem esse esforço coletivo, o cenário seria bem pior.
O professor de Estatística da UFMG Luiz Henrique Duczmal, integrante de um grupo de trabalho da UFMG que tem feito simulações matemáticas para estimar os efeitos dos diferentes graus de isolamento social, afirma que as medidas de isolamento começam a fazer efeito no momento em que são aplicadas, reduzindo as oportunidades de transmissão dos vírus. Mas que questões como o período de incubação da doença, ou seja, o tempo entre a infecção e o aparecimento dos primeiros sintomas, e a lenta evolução da Covid-19 fazem com que a diminuição no número de internações e mortes ocorra apenas algumas semanas mais tarde. Ele lamentou que a adesão ao isolamento tenha caído nos últimos dias e defendeu que é hora de reduzir ainda mais o contato social.
O professor de virologia do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista de Botucatu, João Pessoa de Araújo Júnior, também esclarece que há alguns fatores que contribuem para que os resultados das medidas de isolamento não apareçam imediatamente como todo mundo gostaria. Entre eles, a alta taxa de transmissão da Covid, o que significa que uma única pessoa infectada pode passar a doença para dezenas de outras. Mas destaca que o distanciamento social é fundamental para quebrar esse cadeia de transmissão e evitar a sobrecarga do sistema de saúde.
A reportagem ouviu ainda Unaí Tupinambás, médico infectologista, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e membro do Comitê de Enfrentamento à Epidemia da Covid-19 instituído pela Prefeitura de Belo Horizonte. Ele destaca que BH está entre as capitais como menor número de casos da Covid-19, o que mostra os resultados positivos das medidas de isolamento, que foram adotadas cedo na cidade. O professor destacou ainda que é preciso ampliar o arsenal de combate à doença na capital com aumento no número de testes para detecção da Covid-19, o que será feito de forma conjunta entre a UFMG e a Prefeitura.