'Ceticismo constitutivo' define caráter do mineiro, diz Sandra Goulart Almeida
Reitora participou das comemorações dos 300 anos de Minas Gerais na Assembleia Legislativa e no Palácio da Liberdade
![Foto: Willian Dias / ALMG Reitora da UFMG fala em imagem projetada no telão do plenário Presidente Juscelino Kubitschek, na ALMG. Abaixo, compõem a mesa a deputada Laura Serrano e o deputado Cristiano Silveira](https://ufmg.br/thumbor/hvgM3lyQXbuHyGctxGvUCG8s2fo=/0x0:6036x4030/712x474/https://ufmg.br/storage/7/0/9/f/709fff49eae0f6f62a9ef068fdc02b57_16069952173548_2117915665.jpg)
Nesta quarta-feira, 2, o plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) sediou reunião especial em comemoração aos 300 anos da criação do estado de Minas Gerais. A reitora Sandra Regina Goulart Almeida e o professor João Antonio de Paula, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade, participaram virtualmente do evento, juntamente com representantes de diversos órgãos e entidades do estado.
Em seu pronunciamento, Sandra recuperou o contexto da criação da capitania de Minas Gerais, em 2 de dezembro 1720, como resultado do desmembramento da capitania de São Paulo e Minas do Ouro. A partir daí, Minas Gerais passou a contar com autonomia econômica, política e militar.
![Foto: Ewerton Martins Ribeiro Em 'Romanceiro da Inconfidência', obra-prima de Cecília Meireles, a poeta carioca recupera o episódio símbolo dos anseios por revolução e liberdade do povo mineiro](https://ufmg.br/thumbor/UzqZsEiRwdMDCGzSXFi04iEq6s8=/64x283:2817x4507/352x540/https://ufmg.br/storage/f/0/a/a/f0aaabb819807819954fce51e47b13e5_16069970592694_1260559984.jpg)
“O surgimento oficial do nosso estado ocorreu nesse ambiente em que um conjunto de pessoas, quase todas vindas de longe, aqui se encontraram e tiveram pela frente a tarefa inédita de inventar os modos de vida, os jeitos de pensar e de agir, as crenças e os valores partilhados por essa comunidade que muito mais à frente se tornaria ‘os mineiros’”, disse a reitora.
Sandra Goulart destacou os aspectos que, no decorrer desses três séculos, viriam a estruturar-se como basilares da mineiridade. “Nós, os mineiros, gostamos de pensar em nós mesmos como um povo com características únicas, decerto complexas, multifacetadas, antagônicas e mesmo paradoxais. Um ceticismo constitutivo, que passa por certa desconfiança, é definidor do nosso caráter – característica que em nossa seara acadêmica seria nomeada como ‘espírito científico’”, disse, enfatizando a relação entre a noção de mineiridade e a vocação científica do estado da UFMG.
“O nosso apreço pela liberdade, imortalizado nos versos do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles (Liberdade – essa palavra / que o sonho humano alimenta: / que não há ninguém que explique, / e ninguém que não entenda!), esse valor que é para nós inegociável, também torna a nossa terra lugar propício para a reflexão aguda e refinada sobre as culturas e os pensamentos”, acrescentou.
“E, de igual maneira, certa introspecção, somada a uma dose de teimosia, nos leva a cultivar uma espécie rara de utopia, de um tipo que não se anuncia, mas, sim, se comunica quase em segredo: a utopia de vencer a maldição do final iminente dos nossos tempos, de forma a se poder legar um futuro às novas gerações", refletiu a reitora.
Estado da liberdade
Ausente da cerimônia por recomendação médica, o deputado Agostinho Patrus, presidente da Assembleia, mandou uma mensagem aos presentes por meio do deputado Cristiano Silveira, segundo vice-presidente da Casa, que presidiu a cerimônia. “Minas respira liberdade e há três séculos exalta com a força da nossa gente os preciosos valores de igualdade, justiça e democracia perante o Brasil e o mundo”, saudou.
Também participaram da cerimônia representantes da Defensoria Pública (DPMG), do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Minas Gerais (OAB/MG), do Instituto dos Advogados de Minas (IAMG) e da Academia Mineira de Letras, entre outros órgãos e entidades do estado.
Do campo acadêmico, além dos representantes da UFMG, também participou da reunião a reitora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Lavínia Rosa Rodrigues. Ainda integram o conjunto de entidades envolvidas nas comemorações dos 300 anos de Minas Gerais na ALMG o Tribunal de Justiça (TJMG), o Tribunal de Contas (TCEMG) e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
300 + 1
Após o evento na Assembleia, a reitora Sandra Goulart Almeida participou de cerimônia realizada no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, também em celebração ao "legado do tricentenário mineiro”.
Na ocasião, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, acompanhado de seus secretários e de diversos representantes de poderes estaduais e federais, reuniu-se com representantes das principais entidades e instituições do estado. A cerimônia marcou a inauguração do Circuito Luzes da Liberdade e o lançamento do 300 +1, agenda de comemorações que se estenderá ao longo de 2021, uma vez que, neste ano, o calendário de atividades foi interrompido por causa da pandemia de covid-19.
![Foto: Pedro Gontijo / Imprensa MG Cerimônia foi realizada no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte](https://ufmg.br/thumbor/kAMNUcU99CAspst5OHucSguk_0E=/0x0:2245x1500/712x474/https://ufmg.br/storage/8/8/d/2/88d27ecb41f7371aaf22338c60e9b99a_16069972848893_1018928417.jpg)
Minas, conjunto e perspectivas
Durante o evento na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), foi lançado o livro Minas Gerais: visão de conjunto e perspectivas, de João Antonio de Paula, obra que, produzida no âmbito da parceria entre a Universidade e a ALMG, faz um registro histórico da construção da identidade de Minas Gerais até o momento, com foco em dimensões como economia, política, cultura, ciência e tecnologia, e as expectativas do mineiro para o futuro.
No livro, João Antonio afirma que o que efetivamente se pretende com comemorações como a realizada nesta quarta-feira “é mobilizar o melhor da nossa consciência crítica e do nosso espírito público para uma aposta que tem como pressuposto a constatação de uma história muito rica, de uma significativa série de experiências e virtualidades nos campos cultural, científico, tecnológico, produtivo, social, educacional e natural, que, devidamente mobilizados, podem viabilizar o processo de desenvolvimento de Minas Gerais a um tempo includente, solidário, sustentável e democrático”.
![Foto: Willian Dias / ALMG Deputado Cristiano Silveira com livro de João Antonio de Paula:](https://ufmg.br/thumbor/_ftvEiCyaiPzrzQvKrfD3BLmjd8=/0x0:6036x4030/712x474/https://ufmg.br/storage/3/8/7/9/3879d5b640613ec91adb3208518a889c_16069955584129_47900777.jpg)
João Antonio propõe, em sua obra, “cinco grandes eixos” que orientarão uma agenda coletiva para a construção desse novo tempo para Minas: Distribuição de renda e da riqueza, Construção democrática, Novo padrão produtivo, Novo sistema cultural e Transformar a cidade. A obra está disponível em formato PDF na plataforma Issuu. Sua versão impressa será distribuída para as bibliotecas e escolas de Minas Gerais.
Livro: Minas Gerais: visão de conjunto e perspectivas
Autor: João Antonio de Paula
Editora: Scriptum
Acesso gratuito | 159 páginas