Institucional

'Ceticismo constitutivo' define caráter do mineiro, diz Sandra Goulart Almeida

Reitora participou das comemorações dos 300 anos de Minas Gerais na Assembleia Legislativa e no Palácio da Liberdade

Reitora da UFMG fala em imagem projetada no telão do plenário Presidente Juscelino Kubitschek, na ALMG. Abaixo, compõem a mesa a deputada Laura Serrano e o deputado Cristiano Silveira
Reitora da UFMG fala aos parlamentares em imagem projetada no telão do plenário Presidente Juscelino Kubitschek, na ALMG; abaixo, a deputada Laura Serrano e o deputado Cristiano Silveira Foto: Willian Dias | ALMG

Nesta quarta-feira, 2, o plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) sediou reunião especial em comemoração aos 300 anos da criação do estado de Minas Gerais. A reitora Sandra Regina Goulart Almeida e o professor João Antonio de Paula, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade, participaram virtualmente do evento, juntamente com representantes de diversos órgãos e entidades do estado.

Em seu pronunciamento, Sandra recuperou o contexto da criação da capitania de Minas Gerais, em 2 de dezembro 1720, como resultado do desmembramento da capitania de São Paulo e Minas do Ouro. A partir daí, Minas Gerais passou a contar com autonomia econômica, política e militar.

Em 'Romanceiro da Inconfidência', obra-prima de Cecília Meireles, a poeta carioca recupera o episódio símbolo dos anseios por revolução e liberdade do povo mineiro
Em 'Romanceiro da Inconfidência', obra-prima de Cecília Meireles, a poeta carioca recupera o episódio-símbolo dos anseios do povo mineiro por revolução e liberdadeFoto: Ewerton Martins Ribeiro | UFMG

“O surgimento oficial do nosso estado ocorreu nesse ambiente em que um conjunto de pessoas, quase todas vindas de longe, aqui se encontraram e tiveram pela frente a tarefa inédita de inventar os modos de vida, os jeitos de pensar e de agir, as crenças e os valores partilhados por essa comunidade que muito mais à frente se tornaria ‘os mineiros’”, disse a reitora.

Sandra Goulart destacou os aspectos que, no decorrer desses três séculos, viriam a estruturar-se como basilares da mineiridade. “Nós, os mineiros, gostamos de pensar em nós mesmos como um povo com características únicas, decerto complexas, multifacetadas, antagônicas e mesmo paradoxais. Um ceticismo constitutivo, que passa por certa desconfiança, é definidor do nosso caráter – característica que em nossa seara acadêmica seria nomeada como ‘espírito científico’”, disse, enfatizando a relação entre a noção de mineiridade e a vocação científica do estado da UFMG.

“O nosso apreço pela liberdade, imortalizado nos versos do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles (Liberdade – essa palavra / que o sonho humano alimenta: / que não há ninguém que explique, / e ninguém que não entenda!), esse valor que é para nós inegociável, também torna a nossa terra lugar propício para a reflexão aguda e refinada sobre as culturas e os pensamentos”, acrescentou.

“E, de igual maneira, certa introspecção, somada a uma dose de teimosia, nos leva a cultivar uma espécie rara de utopia, de um tipo que não se anuncia, mas, sim, se comunica quase em segredo: a utopia de vencer a maldição do final iminente dos nossos tempos, de forma a se poder legar um futuro às novas gerações", refletiu a reitora.

Estado da liberdade
Ausente da cerimônia por recomendação médica, o deputado Agostinho Patrus, presidente da Assembleia, mandou uma mensagem aos presentes por meio do deputado Cristiano Silveira, segundo vice-presidente da Casa, que presidiu a cerimônia. “Minas respira liberdade e há três séculos exalta com a força da nossa gente os preciosos valores de igualdade, justiça e democracia perante o Brasil e o mundo”, saudou.

Também participaram da cerimônia representantes da Defensoria Pública (DPMG), do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), da Ordem dos Advogados do Brasil, seção Minas Gerais (OAB/MG), do Instituto dos Advogados de Minas (IAMG) e da Academia Mineira de Letras, entre outros órgãos e entidades do estado.

Do campo acadêmico, além dos representantes da UFMG, também participou da reunião a reitora da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Lavínia Rosa Rodrigues. Ainda integram o conjunto de entidades envolvidas nas comemorações dos 300 anos de Minas Gerais na ALMG o Tribunal de Justiça (TJMG), o Tribunal de Contas (TCEMG) e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

300 + 1
Após o evento na Assembleia, a reitora Sandra Goulart Almeida participou de cerimônia realizada no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte, também em celebração ao "legado do tricentenário mineiro”.

Na ocasião, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, acompanhado de seus secretários e de diversos representantes de poderes estaduais e federais, reuniu-se com representantes das principais entidades e instituições do estado. A cerimônia marcou a inauguração do Circuito Luzes da Liberdade e o lançamento do 300 +1, agenda de comemorações que se estenderá ao longo de 2021, uma vez que, neste ano, o calendário de atividades foi interrompido por causa da pandemia de covid-19.

Cerimônia foi realizada no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte
Cerimônia foi realizada no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte Foto: Pedro Gontijo | Imprensa MG

Minas, conjunto e perspectivas

Durante o evento na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), foi lançado o livro Minas Gerais: visão de conjunto e perspectivas, de João Antonio de Paula, obra que, produzida no âmbito da parceria entre a Universidade e a ALMG, faz um registro histórico da construção da identidade de Minas Gerais até o momento, com foco em dimensões como economia, política, cultura, ciência e tecnologia, e as expectativas do mineiro para o futuro.

No livro, João Antonio afirma que o que efetivamente se pretende com comemorações como a realizada nesta quarta-feira “é mobilizar o melhor da nossa consciência crítica e do nosso espírito público para uma aposta que tem como pressuposto a constatação de uma história muito rica, de uma significativa série de experiências e virtualidades nos campos cultural, científico, tecnológico, produtivo, social, educacional e natural, que, devidamente mobilizados, podem viabilizar o processo de desenvolvimento de Minas Gerais a um tempo includente, solidário, sustentável e democrático”.

Deputado Cristiano Silveira com livro de João Antonio de Paula:
Deputado Cristiano Silveira com livro de João Antonio de Paula: "marco na história da cultura mineira" Foto: Willian Dias | ALMG

João Antonio propõe, em sua obra, “cinco grandes eixos” que orientarão uma agenda coletiva para a construção desse novo tempo para Minas: Distribuição de renda e da riqueza, Construção democrática, Novo padrão produtivo, Novo sistema cultural e Transformar a cidade. A obra está disponível em formato PDF na plataforma Issuu. Sua versão impressa será distribuída para as bibliotecas e escolas de Minas Gerais.

Livro: Minas Gerais: visão de conjunto e perspectivas
Autor: João Antonio de Paula
Editora: Scriptum
Acesso gratuito | 159 páginas

Ewerton Martins Ribeiro