Arte e Cultura

Colóquio discute poder do humor para enfrentar a violência

Evento reúne pesquisadores brasileiros e franceses na Escola de Arquitetura, no início de outubro

Mural pintado pelos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, em Boston, EUA
Mural pintado pelos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, em Boston, EUA Bosc d’Anjou/Flickr

Em seu último livro de ensaios, Milan Kundera defende o humor como forma de resistência à barbárie; em tempos arbitrários, ele seria “o último refúgio do humano”, conforme registra o escritor em Um encontro. Kundera não está sozinho nesse entendimento. De Freud a Walter Benjamin, vários pensadores se interessaram por perscrutar “o que é que o humor tem a ver com o terreno ensanguentado” das grandes “tragédias da história”, como escreve Kundera.

A relação entre o riso e a resistência será abordada no colóquio internacional O humor contra a violência na cidade, que reunirá, no auditório da Escola de Arquitetura, nos dias 2, 3 e 4 de outubro, pesquisadores do Brasil e da França dos campos do direito, da arquitetura, da história, das letras, da sociologia, da filosofia e das artes. 

“Desde o século 19, há uma grande produção de humor no Brasil, que prossegue até os dias de hoje, com as caricaturas e músicas de Carnaval, entre outras formas de expressão. O humor é uma linguagem recorrentemente mobilizada para desatar os dispositivos produtores de violência”, comenta a coordenadora do evento, professora Myriam Bahia Lopes, da Escola de Arquitetura. Como exemplo, ela cita o golpe civil-militar brasileiro, que instituiu uma ditadura contra a qual se insurgiu uma forte produção humorística.

Para a professora, o humor pode sinalizar a direção dos ventos que sopram em um país. “Ele produz discursos de resistência ao discurso fundamentalista. Pense nos terroristas, nas personalidades das ditaduras, dos fascismos. Os fundamentalistas são incapazes de rir – de si mesmos e dos outros. O humor é esse discurso que nos ajuda a sair de uma identidade rancorosa, autocentrada, para enxergarmos o outro e desatarmos os dispositivos que produzem violência”, detalha.

Myriam coordena o evento ao lado da socióloga Claudine Haroche, diretora de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS) da França. Elas abrem o evento na manhã do dia 2 de outubro com apresentação sobre o tema do colóquio. As inscrições custam R$ 40 para profissionais, R$ 20 para alunos de pós-graduação e R$ 10 para graduandos. Alunos assistidos pela UFMG estão isentos do pagamento da taxa. Em razão do limite de espaço do auditório, há apenas 100 vagas para o colóquio.

Programação

Na manhã do dia 2, Claudine Haroche ministra a conferência O humor, saber rir de si. Em seguida, a filósofa Rita Velloso – que é professora e vice-diretora da Escola de Arquitetura – fala sobre Mikhail Bakhtin e a vida nas ruas: polifonia, diálogo e algum carnaval. No mesmo dia, à tarde, a historiadora da arte e semióloga Ségolène Le Men, da Universidade Paris Nanterre, da França, vai ministrar a palestra A caricatura ou o grito do cidadão. A crítica literária Flora Sussekind, professora do Centro de Letras e Artes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), também vai ministrar conferência ainda com título indefinido. 

Na abertura dos trabalhos do dia 3, o editor Olivier Mongin, da Esprit – ­clássica revista francesa dedicada às ciências humanas –, falará sobre Risos na fronteira: sobre os burlescos do cinema mudo e os cômicos contemporâneos da migração na França. Em seguida, Myriam Bahia Lopes faz a conferência O humor como astúcia do deslocamento face à violência na cidade. No mesmo dia, à tarde, o escritor Teodoro Rennó Assunção, professor da Faculdade de Letras, ministra palestra ­sobre Sátira contra violência urbana em ‘Três mulheres de três PPPês de Paulo Emílio’. Em seguida, o artista visual Carlos Matuck apresenta relato sobre O graffiti e o humor na cidade de São Paulo.

Na manhã de quarta-feira, 4, a arquiteta Clara Luiza Miranda, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), fala sobre Arquitetura e status quo: ausência de humor na cidade. Em seguida, Regina Helena Alves Silva, professora do Departamento de História da Fafich, realiza a atividade Diálogos com humor na escrita urbana, projeção de vídeo seguida de debate. Ainda na parte da manhã, a professora da Escola de Arquitetura Maria Luiza Viana e o artista Binho Barreto ministram a oficina O humor e a rua contra a violência na cidade, sobre a arte do grafite.

Durante todo o evento, a Escola de ­Arquitetura receberá instalação do fotógrafo e professor de artes Kenji Ota. A programação pode ser consultada no site do evento. Assista ao vídeo de divulgação do colóquio:

Ewerton Martins Ribeiro / Boletim 1991