De objetos a sujeitos: índígenas começam a ingressar na pós-graduação
Sete estudantes vão investigar temas de interesse de suas comunidades
Objetos de estudos antropológicos desde o século 19, os povos indígenas começam a desempenhar papel de sujeitos em pesquisas nas universidades brasileiras. Na UFMG, sete indígenas – procedentes de Minas Gerais, da Bahia e da Amazônia – ingressaram neste semestre letivo como alunos de mestrado e doutorado, para investigar temas como currículo e matrizes culturais, infância e cultura pataxó e o fazer epistemológico dos povos Xakriabá e Wai Wai.
“A UFMG nos recebeu muito bem, primeiro em cursos de graduação, há mais de dez anos. Hoje já temos um pé aqui dentro, o que nos ajuda a abrir mais portas para a defesa de direitos. Isso é fundamental, porque vivemos tempos sombrios”, comenta Kanátyo Pataxoop, liderança da aldeia Muã Mimatxi, localizada em Itapecerica, Minas Gerais.
Todos os programas de pós-graduação da UFMG passaram a publicar, neste semestre, editais suplementares para atender à resolução do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), que dispõe sobre a Política de Ações Afirmativas para inclusão de pessoas negras, indígenas e com deficiência na pós-graduação stricto sensu. No Programa de Pós-graduação em Antropologia, os editais suplementares para indígenas começaram a ser lançados em 2017.
De acordo com a Resolução, para o acesso de candidatos indígenas, serão publicados, anualmente, editais específicos com a oferta de, no mínimo, uma vaga suplementar em cada curso de mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado. Consideram-se indígenas os candidatos assim autodeclarados, que apresentarem documentos sobre sua condição de pertencimento étnico, assinados por lideranças reconhecidas de sua respectiva comunidade, e declaração da Fundação Nacional do Índio (Funai), atestando que eles residem em comunidades indígenas. Atualmente, há um indígena no doutorado e quatro no mestrado em Antropologia, um no mestrado em Arqueologia e três no mestrado em Educação.
Em reportagem especial, o Boletim UFMG conversou com alguns estudantes, que falam de suas expectativas e dificuldades enfrentadas na academia. Primeira mulher indígena a ingressar em um curso de doutorado na UFMG, Celia Xakriabá diz que esse fato não a torna mais importante, mas a faz “ter responsabilidade redobrada de lutar para não ser a última".