Desafios do ensino de Ciências no Brasil são debatidos na SBPC
BNCC e Reforma do Ensino Médio podem dar novo fôlego à área nas escolas
Ensino da ciência no Brasil passa por alterações, como a reforma do Ensino Médio, a nova Base Nacional Comum Curricular, a crise da educação e os cortes na área da ciência e tecnologia. Somente no orçamento previsto para 2018, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, teve corte de 44% da verba. Para além disso, a realidade escolar enfrenta problemas como o descumprimento do piso dos professores e a evasão estudantil. De acordo com o Censo Escolar divulgado no ano passado, cerca de 10% dos alunos matriculados no 1º e 2º ano do ensino médio evadiram da escola nos anos de 2014 e 2015. Além disso, o Brasil ocupa o penúltimo lugar de 40 países em qualidade da educação básica, segundo o desempenho dos alunos no PISA, Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes.
Todas essas questões são tema da mesa-redonda “O Ensino da Ciência no Brasil: para onde vamos?” na 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O professor titular da faculdade de educação da UFMG, Eduardo Mortimer, que integra a mesa, critica a falta de laboratórios e bibliotecas nas escolas, além de defender um novo modelo de ensino. "No lugar de você ensinar simplesmente o conceito, você ensina o processo de investigação e dá a oportunidade para a pessoa vivenciar", afirma.
A metodologia citada por Eduardo Mortimer se encaixa na meta 7 do Plano Nacional da Educação (PNE), voltada para a qualidade da educação básica. "É preciso colocar o plano em ação, levando em consideração as dificuldades que a gente tem em mudar os paradigmas de ensino voltado pra cidadania, em que a educação científica tem papel fundamental", defende o Paulo Marcelo Teixeira, professor titular do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), integrante da mesa e do movimento CTS, Ciência, Tecnologia e Sociedade.
Embora as mobilizações em torno de propostas como a BNCC, Base Nacional Comum Curricular indiquem mudanças no ensino de ciências, os participantes da mesa temem que as novidades sigam restritas a poucas escolas. "O que a gente consegue são coisas muito pontuais, uma escola, uma cidade, que conseguem superar toda essa deficiência estrutural. Num país do tamanho do nosso, isso é muito pouco", afirma Maurício Pietrocola, professor titular do Departamento de Metodologia de Ensino da Faculdade de Educação da USP, Universidade de São Paulo.