Grupo do DCC propõe utilização de rede de checagem de fatos pelo WhatsApp
Em artigo publicado em periódico de Harvard, pesquisadores defendem uso de ferramenta que não quebra criptografia de ponta a ponta
Em artigo publicado na Harvard Misinformation Review, revista especializada no combate à disseminação de informações falsas, pesquisadores do Departamento de Ciência da Computação (DCC) sugerem que o WhatsApp passe a utilizar uma rede de checagem de fatos para filtrar os conteúdos propagados. Essa ferramenta já é utilizada pelo Facebook e não quebra a criptografia de ponta a ponta das mensagens.
O autor principal do artigo Can WhatsApp benefit from debunked fact-checked stories to reduce misinformation? é o professor Fabrício Benevenuto, do DCC, residente do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) da UFMG. Segundo Benevenuto, 40% das informações reportadas como falsas pelas agências de checagem continuam sendo propagadas no Brasil. Na Índia, esse índice chega a 80%. “Isso deixa clara a necessidade de que algo seja feito para levar às pessoas a verificação de autenticidade”, observa.
Solução tecnológica
Benevenuto explica que o WhatsApp usa, na troca de mensagens, uma abordagem de criptografia de fio a fio. Isso significa que, durante a troca de mensagens entre dois indivíduos, não é possível que um terceiro intercepte essa interação e conheça a informação que trafega.
“O que a gente propôs é que os conteúdos já checados pelas agências sejam contrastados com aquele que está nos celulares das pessoas, sem quebrar a criptografia. Assim, quando alguém estiver prestes a enviar um conteúdo, receberá uma informação de que aquilo já foi checado, com sugestão para que confira sua veracidade”, descreve.
De acordo com o professor do DCC, é possível fazer isso de maneira eficiente, sem necessidade de bloqueio da conta do usuário que espalha conteúdo falso. “É uma solução puramente tecnológica, que envolve apenas o trabalho no desenho do sistema de integração do WhatsApp com a agência de checagem. Não depende de legislação nova e não interfere na troca de mensagens, que continuam privadas e criptografadas”, reforça.
Entre as possíveis razões para a alta prevalência da desinformação por meio do aplicativo de mensagens, Benevenuto destaca as decorrentes dos planos oferecidos pelas operadoras de telefonia celular, que comumente disponibilizam uso ilimitado de redes sociais, mas sujeitam os mecanismos de pesquisa ao consumo de dados móveis. “Os usuários, dessa forma, são desencorajados a buscar a verdade e, simplesmente, repassam aquilo que recebem”, supõe o cientista.
Os demais autores do artigo são os doutorandos Júlio César Reis e Philipe Melo, também do DCC, e Kiran Garimela, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos.