Notas Oficiais

Em nota, Conselho Universitário presta solidariedade à comunidade do MHNJB

Grupo que trabalha no resgate emergencial do acervo atingido por incêndio divulga balanço

Cerâmica
Cerâmicas resgatadas da sala C da reserva técnicaReprodução TV UFMG

O Conselho Universitário da UFMG emitiu nesta quinta, 16, quando se completou um mês do incêndio que atingiu parte da reserva técnica do Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB), nota em que expressa “incondicional solidariedade” à diretoria e aos profissionais que atuam no local.

Em sua manifestação, o colegiado máximo da UFMG ressalta que o MHNJB é um patrimônio da Instituição e tem “presença fundamental” em Belo Horizonte, não apenas em virtude de suas coleções, mas também porque é espaço de preservação ambiental e mantém intensa atividade de ensino, pesquisa e extensão.

A nota lembra que o evento que comprometeu o acervo arqueológico do Museu soma-se a outros “lamentáveis”, como “o trágico incêndio que destruiu partes importantes do edifício e do acervo do Museu Nacional da UFRJ, em 2018”.

Ainda de acordo com o documento, a UFMG sempre se dedicou à “enorme tarefa de desenvolver e preservar os acervos históricos, artísticos e científicos do Brasil” e, mesmo em “cenário flagrantemente adverso, continua se esmerando no desenvolvimento de políticas sistemáticas de preservação e de ampliação de seus equipamentos de interesse científico e cultural”.

A nota afirma que a comunidade da UFMG, “consciente da gravidade do momento e de suas responsabilidades”, mais uma vez é chamada “para a defesa da universidade pública, laica, republicana, solidária, includente”.

Os conselheiros salientam que o incêndio que atingiu o Museu de História Natural e Jardim Botânico “é um dramático alerta do que pesa sobre a Universidade e a sociedade brasileira” e, por fim, pregam a mobilização de todos em “defesa da Universidade, da recomposição e ampliação de seu orçamento – com rubrica específica para os museus – e da sua autonomia".

Leia a íntegra do comunicado em formato PDF.

Esforço de resgate
O incêndio que atingiu a reserva técnica 1 do Museu de História Natural e Jardim Botânico (MHNJB) vem exigindo um meticuloso trabalho da Comissão Emergencial de Resgate, instituída para atuar na recuperação do acervo formado por coleções de arte popular, arqueologia, paleontologia, etnografia, botânica e zoologia.

De acordo com a Comissão de Gestão de Preservação de Acervos, a organização do resgate segue três grandes linhas de ação: a retirada do acervo arqueológico – aos cuidados da equipe de arqueologia –, o registro e o acondicionamento primário do material coletado – com supervisão de profissionais de museologia, arqueologia e conservação – e a reorganização do acervo, com ações urgentes de acondicionamento, tarefa que foi entregue aos cuidados de grupo especializado em conservação.

“Essas ações visam apenas ao resgate emergencial do acervo e não são, de modo algum, suficientes para tratar a complexidade de questões que envolvem a lida com um acervo queimado, as quais vão requerer muita atenção e planejamento cuidadoso de médio e longo prazo. O incêndio dessas coleções do Museu de História Natural não se encerra, de modo algum, no seu resgate”, esclarece a equipe de resgate no relatório preparado sobre as atividades. Ainda segundo o grupo envolvido nos trabalhos, “o resgate é apenas um primeiro passo, absolutamente emergencial, para proteger o maior número possível de peças que restaram dos escombros”.

Material resgatado e catalogado após o incêndio
Material resgatado e catalogado após o incêndio Reprodução

Estratégia
A estratégia de resgate foi estabelecida já no dia seguinte ao incêndio – 16 de junho. Na mesma data, a Polícia Federal realizou o escaneamento em 3D de toda a estrutura queimada e coletou amostras para análise. “A experiência prévia da equipe da PF no resgate do Museu Nacional foi fator importante para alinhar o trabalho conjunto da equipe de arqueologia com os peritos criminais”, informa a comissão.

O trabalho de resgate propriamente dito começou no dia 17. Cinco salas foram afetadas pelo incêndio: A, B, C, D e E. Todo o material resgatado foi catalogado e fotografado, e, em casos mais graves, foram usadas técnicas de escavação arqueológica.

As salas do fundo (A e B) foram as mais atingidas. Nelas estavam os acervos de zoologia e de arqueologia, respectivamente. Na sala C ficavam as coleções etnográficas, um ambiente menos atingido pelo fogo, mas duramente castigado pelo calor. “O resgate das peças, mais frágeis por natureza e pela ação do fogo, foi mais lento e segue sendo realizado”, descreve o relatório. Esse ambiente reúne os acervos etnográfico, com cerâmicas, cestarias, trançados e objetos em madeira do grupo indígena Maxakali; de arte popular, com cerâmicas do Vale do Rio Jequitinhonha; e zoológico, com exemplares de diferentes espécies.

A sala D abrigava o acervo em trânsito – proveniente dos laboratórios e das exposições com destino à reserva. Por fim, a sala E guardava as coleções de paleontologia. Os dois ambientes foram atingidos pelo calor e pela fuligem.

A equipe também fez uma lista dos sítios arqueológicos de Minas Gerais, que tinham acervos ali guardados, com a indicação dos respectivos municípios.

Sala de triagem
Sala de triagem montada para receber provisoriamente as peças resgatadasArquivo MHNJB

Triagem, reserva técnica temporária e imagens
O material retirado das salas da Reserva Técnica foi levado a uma sala de triagem preparada em um antigo laboratório, cuja área não foi afetada pelo incêndio. Nesse ambiente, os materiais são fotografados e acondicionados provisoriamente e depois transportados para a reserva técnica temporária, onde ficam aos cuidados da equipe de conservação. Ela foi instalada na sala que abrigava a exposição de cerâmicas do Vale do Rio Jequitinhonha.

Outra frente de ação é a produção de material imagético sobre o processo de resgate, que inclui fotografias de alta resolução e imagens em vídeo. Essas imagens devem gerar vídeos curtos, reportagens, material de divulgação na mídia e até um documentário sobre os trabalhos.

A Comissão Emergencial é formada por Maria Jacqueline Rodet, Mariana Petry Cabral e Andrei Isnardis Horta, docentes do Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG e pesquisadores do Museu de História Natural e Jardim Botânico, e pela arqueóloga Déborah Duarte Talim. Essa equipe trabalha em sintonia com o grupo de conservação, coordenado pelas professoras Bethania Reis Veloso e Alessandra Rosado, da Escola de Belas Artes da UFMG e pesquisadoras do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor).

Além do grupo emergencial, foi instituída a Comissão de Gestão de Preservação de Acervos, com perspectiva de atuação em longo prazo. A comissão está assessorando a Diretoria do MHNJB na elaboração de medidas e estratégias de gestão para assegurar a manutenção apropriada do acervo, incluindo a adequação das edificações às exigências do Corpo de Bombeiros.

Outra instância criada logo após o episódio é o Comitê de Governança Emergencial da Administração Central para articular ações integradas e que conta com um grupo de trabalho para analisar a dinâmica do incêndio. A Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) instituiu um GT sobre Museus Universitários, sob a coordenação da reitora Sandra Regina Goulart Almeida. Seu objetivo é buscar alternativas que assegurem o funcionamento dos museus universitário e seu financiamento público.

Reconhecimento aos hospitais
Também na sessão desta quinta-feira, o Conselho Universitário aprovou, por unanimidade, moção de louvor em reconhecimento ao trabalho das equipes do Hospital das Clínicas e do Hospital Risoleta Tolentino Neves no enfrentamento da covid-19.