Pesquisa e Inovação

Economistas defendem abordagens regionalizadas para enfrentar a Covid-19

Em nota técnica, que analisa a MP 36, especialistas da UFMG sustentam que a heterogeneidade do Brasil impede a adoção de medidas uniformes

Lojas fechadas no bairro Bom Retiro, tradicional área de comércio popular em São Paulo
Lojas fechadas no bairro Bom Retiro, tradicional área de comércio popular em São Paulo Daniel Linguite / Fotos Públicas / CC BY-NC 2.0

Devido a variáveis como o número de pequenas, médias e grandes empresas, distribuídas de maneira desigual ao longo do território brasileiro, as implicações da Medida Provisória 936 – que autoriza a redução de jornada de trabalho e salários em empresas privadas – serão diferentes em cada região do país. O dispositivo estabelece regras distintas de negociação e complementação da renda dos trabalhadores, conforme a faixa salarial.

“Por ser muito heterogêneo, desigual e complexo, o Brasil não é compatível com uma abordagem única. É necessário que haja uma avaliação regional do impacto da pandemia, a fim de pensar medidas de maneira regionalizada”, afirma o professor Bernardo Campolina, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar), da Faculdade de Ciências Econômicas (Face). Campolina é um dos autores da recém-publicada nota técnica Desafios e propostas para enfrentamento da Covid-19: território, escala e planejamento, coassinada pelo professor Anderson Cavalcante, também professor da Face.

No documento, os economistas apresentam simulações sobre os efeitos da MP 936. De acordo com o texto, nas regiões Sul e Sudeste, devem ocorrer as maiores perdas de renda para os trabalhadores de micro e pequenas empresas. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, a expectativa é que o impacto seja maior para os empregados das grandes empresas.

“A disparidade ocorre porque o número de pequenas empresas é maior, assim como sua importância para a massa salarial, no Sul e Sudeste. Os grandes empreendimentos, por sua vez, são relativamente mais importantes nas demais regiões do Brasil", comenta Bernardo Campolina.

Sugestões
Outros contrastes sociais, para os professores do Cedeplar, também justificam a setorização das abordagens no território brasileiro. A distribuição desigual de equipamentos de saúde e as distintas condições impostas pelo distanciamento social –mais penosas nos espaços urbanos, onde as moradias são mais precárias – são exemplos arrolados ao longo do documento.

Na nota técnica, Bernardo Campolina e Anderson Cavalcante também sugerem que o governo empreenda esforços para a manutenção dos empregos. Isso se daria, no entendimento dos autores, por meio de transferências diretas a trabalhadores ou suporte para empresas, como linhas de crédito com carência estendida e a juros baixos. 

Entre as medidas que ajudariam a atenuar a crise e a queda da renda da população, a dupla de pesquisadores enumera a manutenção das transferências para estados e municípios, a suspensão do pagamento da dívida pública das unidades da federação e a concessão de linhas de financiamento com juros baratos e condições de pagamento de longuíssimo prazo.

Matheus Espíndola