Engenharia busca seu melhor desempenho na 'Fórmula 1 universitária'
Equipe de 40 alunos desenvolveu protótipo que disputa, até domingo, competição automobilística em Piracicaba
Começa hoje, 30, a Fórmula SAE Brasil, competição em que equipes universitárias desenvolvem um protótipo de carro de Fórmula 1. Pela oitava vez, estudantes da Escola de Engenharia representam a UFMG na disputa, que prossegue até domingo, dia 3, no Esporte Clube Piracicabano de Automobilismo, em Piracicaba (SP). O modelo desenvolvido pelo grupo é o TR05B.
Durante os quatro dias de competição, os carros enfrentam provas estáticas, apresentações técnicas do projeto e dinâmicas, com o protótipo na pista. A competição tem oito critérios de avaliação, e leva a melhor a equipe que somar mais pontos no total. Entre eles, estão design do protótipo, custo e manufatura, economia de combustível, provas de autocross (volta em percurso predefinido), aceleração e resistência e uma apresentação de marketing para clientes hipotéticos.
Meses antes da competição, os estudantes enviaram ao comitê organizador relatórios de custos, estrutura, atenuador de impactos e projeto. Os relatórios são examinados por engenheiros especialistas e valem como a primeira parte da avaliação dos protótipos. Durante a competição, nas provas estáticas, as equipes devem demonstrar que o carro corresponde à descrição feita no projeto. As provas dinâmicas são realizadas a partir do segundo dia do evento.
Orientada pelo professor do Departamento de Engenharia Mecânica Marco Túlio de Faria desde sua fundação, a equipe Fórmula UFMG é formada por cerca de 40 alunos dos cursos de engenharia da instituição. Sua oficina funciona no Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos, um grande galpão que abriga vários outros projetos de engenharia.
Salto de qualidade
Atual capitão da equipe, o estudante Hermano Naves, do oitavo período do curso de Engenharia Mecânica, integra a equipe há quatro anos. “De 2013 para 2014, houve uma troca de pessoal muito grande. Na época, a gente começou a desenvolver alguns projetos como o câmbio de transmissão, e foi o primeiro ano em que realizamos toda a transmissão do carro. Mesmo assim, faltava muita coisa, mais organização de testes e recursos. Olhando para trás, é absurdo o salto de qualidade que a equipe deu. É completamente diferente o nosso know-how hoje de projeto teórico, domínio de software, domínio e qualidade de fabricação do carro”, comenta.
Neste ano, a equipe conseguiu ultrapassar a meta estipulada de 30 testes antes da competição. “Geralmente não passavam de 15 testes”, lembra Hermano. “No dia 6 de outubro, mais precisamente às 5h41 da manhã, a gente fez o primeiro teste com o TR05B, uma volta na rua que fica atrás do CPH. Aumentamos não só o número, mas também o rendimento dos testes, com maior organização (deixamos o carro pronto um dia antes e saímos bem cedo de manhã para aproveitar o dia todo de trabalho) e melhor definição das funções dos integrantes", informou. “Quanto mais testa, mais você quebra o carro. Se o piloto anda em condições adversas, seu desempenho melhora. A ideia é justamente que ele quebre nos testes para que seja feita a correção e a falha não ocorra durante a competição.”
Pilotos
Os pilotos da Fórmula SAE também devem ser universitários. A equipe da UFMG contará com quatro condutores, que disputarão quatro provas dinâmicas, sendo um veterano, com dois campeonatos disputados, e os outros que experimentarão pela primeira vez uma volta na pista de Piracicaba, que pode atingir a temperatura de 70ºC, nos dias mais quentes.
A seleção combina análises subjetivas e técnicas: são levados em conta o desempenho e a dedicação do membro na equipe e o desempenho em baterias de kart. Outro fator decisivo é a combinação de tamanho e peso do piloto. O piloto de maior estatura da equipe mede 1,75m – pessoas com mais de 1,80m têm dificuldades para entrar e se acomodar no carro. Todos pesam na faixa de 70kg.
Fórmula UFMG
Fundada em 2008 por alunos de Engenharia Mecânica, a equipe participa anualmente da Fórmula SAE Brasil, proporcionando aos integrantes a aplicação prática dos conhecimentos obtidos durante a graduação. Na temporada de 2015, a equipe ficou em quarto lugar na classificação geral, superando a sétima colocação do ano anterior. Agora, o objetivo da equipe é alcançar o pódio, classificando-se, assim, para as competições internacionais.
Conciliando estudos e as atividades na equipe por praticamente toda sua graduação, Hermano Naves considera a vivência na equipe uma oportunidade única. “Gosto de dizer que a Fórmula é um grande laboratório na faculdade. Aqui você põe sua criatividade e ideias em prática. Mesmo na indústria, é difícil partir do zero, com a necessidade de vai elaborar, desenhar, simular, construir, testar e validar. Aqui, fazemos isso em um ano. Os alunos das engenharias têm uma grande oportunidade de crescer", analisa.
Garimpando talentos
A Fórmula SAE, assim como as outras provas promovidas pela Society of Automotive Engineers, tem o objetivo de propiciar aos estudantes de engenharia a oportunidade de aplicar na prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula, desenvolvendo um projeto completo e construindo um carro do tipo Fórmula.
A competição teve início nos Estados Unidos, em 1981, e foi impulsionada pelas montadoras General Motors, Ford e Chrysler, que viram nela uma chance de garimpar novos engenheiros para suas equipes. Com o passar dos anos, outras empresas se uniram às três e, além de contratar alunos, ainda desenvolveram produtos específicos para o Fórmula SAE.
Criada em 2004, a Fórmula SAE Brasil chega à décima quarta edição. Só em 2016, reuniu mais de 1 mil estudantes. As equipes mais bem classificadas ganham o direito de representar o Brasil em duas competições internacionais realizadas nos EUA. Além do Brasil, versões nacionais do desafio são realizados na Austrália, Itália, Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos.