Especialista da UnB em prevenção do suicídio fala à equipe da UFMG
Coordenador de núcleo de intervenção e prevenção da Universidade de Brasília apresentou reflexões e propostas
Na tarde desta sexta-feira, 4, os profissionais que atuam no planejamento de ações de saúde mental da UFMG se reuniram com o professor e psicólogo Marcelo Tavares, que coordena o Núcleo de Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio da Universidade de Brasília (UnB), para que ele apresentasse as suas experiências na área. No encontro, Marcelo destacou a importância de se estabelecer um diálogo institucional que caminhe na direção do consenso, respeitando as divergências que são próprias da área, dada a sua complexidade. “É sempre um problema falar sobre o suicídio, mas temos de pensar que as pessoas querem e precisam ouvir sobre como enfrentar os problemas; elas querem saber quais são as alternativas”, afirmou o professor.
“O problema de falar sobre o suicídio é que isso tem impacto maior justamente nas pessoas mais vulneráveis, e, em geral, o impacto é negativo. Então, temos de observar as boas indicações de como tratar este assunto”, defendeu Marcelo, que indicou o documento Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da mídia como referência basilar para as várias classes profissionais que atuam na área – da mídia aos médicos, passando pelos próprios professores. “Recomendo muito essa leitura”, insistiu, fazendo lembrar que “boas estratégias preventivas não falam sobre suicídio, mas sobre a superação de problemas de vida, sobre como enfrentar as dificuldades – e criam alternativas de acesso a recursos para essa superação.”
O professor também destacou a importância de se distinguir intervenções emergenciais de intervenções preventivas. “De um lado, precisamos dar socorro emergencial. Mas, de outro, precisamos criar estratégias de prevenção em longo prazo. É muito importante eu distinguir a identificação precoce de riscos e a identificação de novos casos para, em um caso, eu lidar com o risco constituído de forma efetiva, e, no outro, saber fomentar os mecanismos de proteção de longo prazo, de forma a evitar que a pessoa entre em risco constituído. As duas coisas são importantes.”
Antes da exposição de Marcelo Tavares, Claudia Mayorga, pró-reitora de Extensão da UFMG, fez um breve apanhado dos investimentos feitos pela Universidade, nos últimos anos, com foco na saúde mental da comunidade acadêmica. Ela rememorou ações como a criação da Comissão Institucional de Saúde Mental (Cisme) e a publicação de seu Relatório Conclusivo, em 2016, quando se estabeleceu a Política de Saúde Mental da UFMG. “Vivemos hoje esse duplo sentimento de perceber o quanto caminhamos e, ao mesmo tempo, o quanto ainda precisamos avançar. Reflexões como essa que o professor Marcelo compartilha conosco nos ajudam muito a estabelecer a direção a seguir”, disse a pró-reitora.
Alessandro Fernandes Moreira, vice-reitor da UFMG, destacou os caminhos que a Reitoria pretende trilhar nesta gestão. “O que estamos discutindo é a criação de um comitê que efetivamente execute as ações, em total parceria com a Rede de Saúde Mental”, afirmou o vice-reitor. (Na edição 2.015 do Boletim UFMG, que circula a partir de segunda-feira, 7, leia mais sobre essa iniciativa e sobre a 6ª Semana de Saúde Mental e Inclusão Social da UFMG, que será realizada de 14 a 18 deste mês.) “Há um total empenho da Reitoria no que diz respeito a essa questão. Esperamos poder apresentar brevemente um plano de ação que convirja para a criação desse comitê”, adiantou. Além de Claudia Mayorga e do professor Marcelo Tavares, dividiu a mesa com Alessandro Moreira o professor do Departamento de Psicologia Maycoln Teodoro, docente responsável pelo convite ao palestrante do evento. Cerca de trinta pessoas participaram do encontro.
Marcelo Tavares encerrou sua fala com uma mensagem de esperança. “Queria deixar a mensagem de que há sim esperança. Há conhecimento estabelecido [sobre como lidar com o tema], ainda que o Brasil esteja começando nessa jornada. Como ciência, a suicidologia existe desde a década de 1940, e já fizemos cem anos do primeiro simpósio sobre suicídio da história da humanidade, realizado com a participação de Freud, em 1910. Então, há conhecimento estabelecido. O que a gente tem de fazer é também olhar para fora do Brasil. Não para seguir cegamente o que eles fazem, mas para entender o que parece dar certo. Temos de desenvolver coletivamente uma pauta de como resolver o problema e institucionalizar ações permanentes”, defendeu.