Pesquisa e Inovação

Estudo vai diagnosticar estudantes de graduação com transtorno de aprendizagem

Laboratório de Neuropsicologia da Fafich e NAI estão recrutando voluntários; comprometimento do desempenho acadêmico pode estar associado a uma condição presente desde a infância

Bolsistas do Projeto LDN com Cubos de Corsi, utilizados para avaliação da memória visuoespacial no diagnóstico de TEAp
Bolsistas com cubos de Corsi, utilizados para avaliação da memória visuoespacial no diagnóstico de TEAp Foto: Ana Xavier | NAI/UFMG

A saída do ensino médio e o ingresso no ensino superior podem representar, para muitos estudantes, dificuldades de aprendizagem, em decorrência tanto do maior volume quanto da maior complexidade dos conteúdos curriculares. Mas o que muitos desses jovens adultos não sabem é que dificuldades específicas em matemática, escrita e compreensão de textos, que acabam prejudicando o desempenho acadêmico, podem estar relacionadas ao Transtorno Específico de Aprendizagem (TEAp), presente desde a fase pré-escolar.

Estudantes da graduação da UFMG interessados em fazer o diagnóstico para esse transtorno podem participar do projeto do Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento (LND) da Fafich, desenvolvido em parceria com o Programa de Apoio à Inclusão e Promoção da Acessibilidade (Pipa) do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI). As inscrições para a triagem de possíveis candidatos à avaliação encerram-se no próximo dia 28 de abril.

“O objetivo dessa avaliação diagnóstica é orientar o estudante a buscar apoio para suas dificuldades e conscientizar a Universidade para a importância do acolhimento adequado e promover adaptações necessárias para que essas pessoas melhorem o seu desempenho acadêmico”, explica a coordenadora do Grupo do LND, professora Júlia Beatriz Lopes Silva.

Os transtornos do neurodesenvolvimento, como o do Espectro Autista (TEA) e o do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), manifestam-se na fase anterior ao desenvolvimento da criança, antes dos 12 anos de idade. Apesar de o diagnóstico do TEAp ser recomendado para a fase inicial da escolarização formal, exatamente para avaliar a dificuldade de aprendizagem específica em matemática, leitura e escrita, muitas pessoas só têm suas dificuldades exacerbadas quando alcançam o ensino superior.

A professora Júlia Lopes, que coordena o estudo com adultos da UFMG, explica que uma criança com TAEp pode desenvolver estratégias compensatórias para avançar na escolarização, mas na fase adulta a dificuldade em leitura, por exemplo, pode comprometer a compreensão de textos mais complexos.

Diagnósticos específicos 
Apesar de os transtornos do neurodesenvolvimento terem essa característica em comum de se manifestarem antes da fase de desenvolvimento das crianças, cada um deles tem um marcador diagnóstico bem específico, que também varia entre os países — de 6% a 20% na população em idade escolar —, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5).

Júlia Lopes explica que o transtorno específico de aprendizagem se caracteriza pela dificuldade específica da aprendizagem em detrimento de outras dificuldades como deficiência intelectual e falta de oportunidades educacionais, o que leva a criança ou o adulto a ter prejuízo na aprendizagem da leitura, escrita e matemática.

“Para os demais transtornos do mesmo grupo, outras características são associadas para a identificação do perfil do paciente, como desatenção, impulsividade e hiperatividade para TDAH, e dificuldade de interação e comunicação social para TEA”, exemplifica.

Entretanto, a professora chama a atenção para sinais de risco do transtorno de aprendizagem que podem ser observados antes da escolarização formal, como dificuldade de identificar rimas e aprender nome das letras (dislexia) e de contar e discriminar quantidades (discalculia).

As avaliações para cada um dos transtornos, portanto, são diferentes e podem ser realizadas por vários profissionais, como psicólogos, fisioterapeutas e médicos. Mas somente o psicólogo pode fazer a avaliação da inteligência, para identificar os mecanismos cognitivos associados à dificuldade comportamental apresentada. Julia Lopes conta que são aplicados testes neurológicos e psicológicos para o planejamento de um protocolo adequado; só então o laudo é produzido, com descrição do perfil e sugestões de encaminhamentos e recomendações ao paciente. 

Protocolo
Para os estudantes da UFMG, o grupo de pesquisa coordenado pela professora Júlia estabeleceu um protocolo, que é ajustado conforme a necessidade. Os estudantes diagnosticados com TEAp receberão dos extensionistas do projeto toda a explicação sobre o seu perfil e as orientações sobre as possibilidades de melhoria da qualidade de vida.

As pessoas com transtorno específico de aprendizagem que não recebem intervenção adequada podem desenvolver transtornos psiquiátricos associados, como ansiedade e depressão, e até apresentar maior chance de evasão escolar.

Júlia Lopes pontua que, em meio à escassa bibliografia científica sobre o transtorno específico de aprendizagem com adultos, há um estudo de um grupo de economistas ingleses que associa o maior risco de depressão e até de criminalidade entre homens com discalculia. “Embora não haja evidências de que a incidência do transtorno seja maior entre pessoas do sexo masculino, esse estudo mostra a relação do TEAp em homens com maior risco de abandono da escola e de prisão”, observa.

"A questão do abandono escolar é muito séria. Precisamos conscientizar a comunidade acadêmica sobre a real existência desses transtornos, para melhor acolher os estudantes diagnosticados e promover as adequações necessárias ao seu desempenho", defende a coordenadora do estudo. 

Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas pelo e-mail projetosubdis@gmail.com.

Teresa Sanches