Estudos prévios poderiam ter evitado desastre de Capitólio
De acordo com a professora Maria Giovana Parizzi, do IGC, métodos e técnicas geológicas possibilitam avaliar as condições de resistência das rochas
O desastre natural que matou 10 pessoas no Lago de Capitólio, no Sudoeste de Minas, no último sábado, 8, poderia ter sido evitado caso a região contasse com avaliações de profissionais do campo da geologia, afirma a vice-diretora e professora do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, Maria Giovana Parizzi.
Segundo a professora, a queda de um bloco rochoso é um fenômeno natural, desencadeado por diversos fatores ao longo dos anos, mas que pode ser previsto com métodos e técnicas que avaliam as condições gerais dos maciços rochosos em regiões como a do Lago de Furnas, em Capitólio, que vê sua população quadruplicar com a presença de turistas durantes os feriados.
“As rochas apresentarem fraturas e fendas é normal, mas há algumas mais predispostas a se romperem. Por meio de estudos que consideramos até corriqueiros na área, conseguimos prever o risco de uma determinada rocha cair. Chamamos esse trabalho de análise geológica ou geotécnica, que tem o objetivo de prever as movimentações dos blocos rochosos. É capaz de adiantar, inclusive, o tipo de ruptura que vai ocorrer e a direção que a rocha vai cair. Isso nos permite fazer o alerta quando este for necessário”, explica.
Parizzi constata que tragédias como a ocorrida em Capitólio podem, então, ser evitadas com planejamento e programas de prevenção, mas que, no Brasil, essa prática não é habitual. “É possível fazer esse tipo de trabalho, tanto que já existem ações nessa direção, com o mapeamento de rochas, na região do Lago de Furnas. Precisamos entender a importância de se fazer análises de risco geológico em áreas turísticas, como já é feito nas grandes cidades.”
Perda de resistência
Segundo Parizzi, o intemperismo, que é a deterioração das rochas ao longo do tempo, ocorre por vários tipos de processos, como a ação da água, a expansão e contração das fraturas devido às variações de temperatura e os desgastes ocasionados pelos ventos. “A terra tem 4,5 bilhões de anos, e esses processos levam muito tempo para ocorrer. O bloco rochoso pode perder sua resistência em razão da ação da água, por exemplo. Quando as chuvas são mais fortes, a penetração de água nas fraturas das rochas ocorre de forma mais intensa. Essa água reage com os minerais da rocha que ficam hidratados e, consequentemente, tornam-se mais macios. Isso faz a rocha perder resistência", explica a geóloga, acrescentando que o Instituto de Geociências reúne diversos pesquisadores que podem ajudar nos trabalhos de avaliação de risco geológico no estado.
À disposição
A reitora Sandra Regina Goulart Almeida reafirma que a capacidade científica da comunidade da UFMG está à disposição da sociedade mineira para ajudar no enfrentamento de mais essa tragédia, como aconteceu nos desastres que atingiram Mariana e Brumadinho e no combate à pandemia. "A Universidade pode auxiliar na análise das condições locais e na construção de medidas preventivas e de preservação ambiental", sugere a reitora.