Extensão

Feira virtual aquece economia popular urbana

Iniciativa do grupo Colmeia, da Face, reúne trabalhadores dos 34 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte

Feira Agroecológica da UFMG reúne produtos de agricultores familiares da RMBH
Feira Agroecológica da UFMG reúne produtos de agricultores familiares da RMBH Frederico Lamêgo/UFMG

A variedade de produtos impressiona: laços de fita para o cabelo, verduras frescas e orgânicas, roupas, bijuterias e cosméticos naturais. Tudo isso sem sair de casa, na segurança do distanciamento social, a medida mais eficaz de controle da pandemia do novo coronavírus. 

Feira virtual organizada pelo Colmeia, Grupo de Pesquisa e Extensão em Economia Popular e Solidária da Faculdade de Ciências Econômicas, busca minimizar o impacto da pandemia da Covid-19 sobre a economia popular urbana, com a interrupção imediata da renda de mais de meio milhão de trabalhadores da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios Contínua (Pnade/IBGE de 2018), 530 mil trabalhadores estariam nessa condição, o equivalente a 20,3% da população ocupada na Grande BH. São artesãos, catadores de material reciclável, agricultores familiares, artistas populares, produtores de alimentos e cosméticos naturais que dependem, primordialmente, da circulação nos espaços públicos para a produção e comercialização de seus produtos.

Com o necessário isolamento social para contenção da disseminação do coronavírus, os pesquisadores do Colmeia propuseram medidas para apoiar esses trabalhadores, como a divulgação de sua variada produção em uma feira virtual, efetivada por meio de catálogo, que também será divulgado nas redes sociais da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedese).

Os produtos estão organizados em dois grandes grupos: alimentação agroecológica e cosméticos naturais e artesanato e confecção.  

O usuário pode consultar fotografias e informações sobre os produtos e o contato de seus empreendedores. A busca também pode ser realizada por região mais próxima ou área de produção, na versão planilha do catálogo.  

O empreendedor interessado em divulgar seus produtos deve preencher formulário eletrônico, disponível na página do Colmeia, e atender alguns critérios, como oferecer entrega em domicílio e obedecer às orientações do Ministério da Saúde sobre produção, armazenamento e envio de produtos.

Dependentes da mobilidade
Segundo a coordenadora do Colmeia, professora Sibelle Diniz, as atividades desses milhares de trabalhadores registram alto grau de informalidade e dependência da mobilidade em praças, feiras e ruas. “São atividades não assalariadas –a remuneração tem origem na venda de produtos e recebimento de diárias –, realizadas por trabalhadores por conta própria, pequenos empreendimentos familiares e associados, inclusive da economia solidária, como de cooperativas, associações e grupos informais”, explica.

Desses 530 mil trabalhadores, apenas 35,4% contribuíram para a previdência e 21,5% declararam que o negócio no qual trabalham possuía CNPJ. Além disso, 69,5% declararam que o negócio/empresa em que atuavam não tinha estabelecimento para funcionar. Destes, 42,2% trabalhavam em local designado pelo empregador, cliente ou freguês, 20%, em veículos automotores, e 6,6%, em vias públicas.

Feira de economia popular e solidária realizada na Face pelo Colmeia
Feira de economia popular e solidária realizada na Face pelo Colmeia Mariana Rodovalho /Colmeia / UFMG

Diante desses aspectos, os pesquisadores propuseram medidas de curto e médio prazos, como a urgência do repasse da Renda Básica Emergencial (Projeto de Lei 698/2020) para as famílias integrantes da economia popular e, especialmente, para as mulheres negras, grupo de maior vulnerabilidade.

Em nota técnica, assinada pela professora Sibelle Diniz e pelas estudantes da Face Gabrielle Lima Silva e Mariana Rodovalho Guerci, essas recomendações são baseadas nos microdados da Pnad/IBGE 2018, do Sistema de Informações em Economia Solidária 2010/2012 e do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico) para 2020, além de estudos de coletivos de pesquisa e extensão focados em grupos de trabalhadores da economia popular.

Vídeos informativos
Outra ação do Colmeia é a publicação de uma série de vídeos, com a participação de pesquisadores do Cedeplar, sobre os impactos da Covid-19.  

O grupo também participará de outra iniciativa, elaborada para um edital recente da Pró-reitoria de Extensão, que consiste na elaboração de projeto para produção de cartilhas e vídeos direcionados aos trabalhadores da economia popular e solidária. "O objetivo é ajudar os empreendedores a fazer uso das ferramentas e plataformas de comercialização não presencial, uma rede que tende a permanecer depois da pandemia”, prevê Sibelle Diniz.

Teresa Sanches